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Carro Plug-In (PHEV – Plug-In Hybrid Electric Vehicle) é a solução?

Por Renato Pereira

As montadoras mundo afora já chegaram à mesma conclusão: carros 100% elétricos (BEVs) não são a salvação da lavoura, e talvez apenas a China tenha infra-estrutura para sua frota ser inteiramente livre dos motores à combustão. O “resto” do mundo não tem e não vai fazer. Porque custa muito caro produzir tanta energia elétrica e mais caro ainda os postos de abastecimento, e não resolve o problema de reabastecimento. Na verdade elas já sabiam de tudo isso sem precisar invocar o espírito de Rodin para ajudar a pensar, pois se existe um lugar onde ninguém é besta é no alto clero da indústria automotiva. Nenhuma decisão que sai dali é sem um motivo sólido e lucrativo, e por vezes vale a pena enterrar bilhões em um projeto sabendo que não vai vingar, mas força outros setores da economia global a se mexer, e o prejuízo é amortizado nos mercados dos tais países emergentes.

Na Europa Ocidental, por exemplo, mais da metade dos postos de recarga estão na Holanda e Alemanha e, juntos, somam mais ou menos 150 mil pontos, cobrindo apenas 10% da superfície da União Européia. A outra metade esta dividida entre os 25 países restantes da EU. O maior entrave mundial quando se pensa em recarga é a produção de energia elétrica.

Pense em São Paulo, por exemplo. Na capital, algo em torno de 6,2 milhões de veículos circulam por suas ruas, o que corresponde a 11% da frota de todo o estado. Em 2024 foram emplacados 24.435 veículos eletrificados na cidade de São Paulo entre os 56.819 no estado e 177.358 em todo o Brasil. A cidade de São Paulo é subdividida em zonas pelos 4 pontos cardeais, sendo então Zona Norte, Zona Leste, Zona Oeste e Zona Sul. Que vivem às voltas com queda de energia. Porquê a distribuidora não consegue suprir 100% a demanda de consumo. Ligue 24.435 veículos na tomada ao mesmo tempo em qualquer uma dessas zonas e veja o que acontece…

Cientes desse problema mundial e pensando mais à frente, as montadoras então focaram nos Híbridos e suas variações, que são:

HEV – Hybrid Electric Vehicle, o carro híbrido convencional, abastecidos com combustíveis convencionais e energia elétrica gerada pela força cinética das frenagens; MHEV – Mild Hybrid Electric Vehicle, que utilizam um pequeno motor elétrico para auxiliar o motor à combustão e o PHEV – Plug-In Hybrid Electric Vehicle, o mesmo que os HEV porém com recarga externa da bateria através de um carregador Wallbox ou portátil.

E é desse tipo de híbrido, o PHEV, e seu rival direto HEV, que vamos falar aqui. Por quê? Por que, na matéria https://www.carpointnews.com.br/mas-agora-tudo-e-suv/, publicada em 16/01/25, eu cometi um erro de digitação, apontando que o tipo PHEV seria a melhor alternativa para o mercado e não é, então esta matéria explica o PHEV e mostra exatamente o contrário do que apontei, em uma espécie de mea culpa pelo erro.

Em 2024 os PHEVs dominaram os emplacamentos em todo o país, com 64.000 unidades comercializadas, correspondendo a 36,9% deste mercado. Inexplicavelmente aos olhos leigos, os HEVs tiveram o pior desempenho, com 15.271 vendas e 9,13% do setor, mesmo sendo a melhor opção em veículos eletrificados. Esses números sugerem que “alguéns” estão entulhando o mercado brasileiro com um tipo de eletrificado que está no caminho do desaparecimento em breve, mesmo que os PHEVs não sejam o que há de pior, e sim porque, onde tem um humano no controle, a chance de dar m… é enorme!

Veículos eletrificados exigem uma espécie de rotina e disciplina. E, em se tratando de brasileiro, que via de regra, quando se lembra de trocar o óleo do motor escolhe o mais barato, mesmo que totalmente errado, e se nega a trocar o filtro “para economizar” – aí o carro quebra e ele bota a culpa no fabricante – imagine em um PHEV? Isso por quê…

… um híbrido plug-in (PHEV) precisa ser recarregado externamente não só para que o (s) motor(res) elétrico (s) possa (m) ser usado (s) corretamente. Se não for recarregado, este veículo vai poluir e gastar mais combustível do que um motor a combustão simples, porque é mais pesado. Mas, para piorar, o veículo não “vai pegar” se não estiver corretamente carregado. Isto por que ele utiliza um componente chamado Belt Starter Generator (BSG) – gerador de partida por correia –, que substitui o motor de arranque e o alternador tradicionais, ou seja, é um motor elétrico que dá a partida. Ou seja, a cada final de ciclo diário, o proprietário tem de ligar seu carro na tomada. E não pode ser no sistema de carregamento rápido por corrente contínua, tem obrigatoriamente de ser uma carga lenta. Se o proprietário não fizer isso, estará, no máximo, operando um HEV tradicional e pagou bem mais caro para isso! 

Então, as premissas de que “os híbridos plug-in resolvem todos os problemas de infra-estrutura exigidos pelos BEVs a um custo menor, sendo o melhor do mundo eletrificado e da combustão interna” estão erradas. Tanto é que nos Estados Unidos, por exemplo, os PHEVs representam apenas 2% (dos 10% de todas as variações de eletrificados) de participação em seu mercado, e isso não se deve a falta de opções, já que nada menos de 41 modelos PHEV estão disponíveis, contra 39 HEVs e 60 BEVs (100% elétricos) e, enquanto as vendas de HEVs e BEVs estão crescendo, as dos PHEVs estão despencando, inclusive por que o PHEV é mais caro do que os BEV, HEV e veículos à combustão interna (ICE). Então, as montadoras com os melhores HEVs – como a Honda, Toyota e Ford, por exemplo – estão se concentrando nos híbridos tradicionais.

A China, no entanto, país que centraliza a maior indústria de peças,  componentes e veículos elétricos no mundo, não está nem aí para estes problemas, uma vez que continua produzindo ininterruptamente todas as variáveis de eletrificados, e está mais é olhando para o seu próprio futuro, já que devido a industrialização do país, mesmo que com salários ridículos que beiram a escravidão, em pouco tempo poderá absorver toda sua produção sem se preocupar com as exportações, e é por isso, entre outros motivos, que montadoras gigantes como BYD, GWM e agora a Gaic, entre outras, estão investindo no Brasil, e não é porque gostam do atual presidente – apesar de o governo chinês ter comprado dele, e ilegalmente, a maior reserva de urânio do Brasil em plena Amazônia, para além da maior mineração de estanho, e por aí vai – mas por ser um excelente mercado que aceita tudo o que é oferecido sem maiores informações. Por outro lado, o Império do Meio enfrenta sérias dificuldades para colocar seus produtos na Europa e Estados Unidos, cujos governos não querem nada Made In China em seus territórios e o Brasil é uma boa saída porque, mesmo que a marca seja originada na China, os produtos são Made In Brazil e não sofrem restrições!

Quem está impondo restrições no Brasil é o próprio governo atual, cujo descontrole financeiro e incompetência generalizada em toda sua estrutura, dívidas internas e externas absurdas, falência de estatais, taxas e mais taxas, juros e mais juros etc, empobreceram muito e muito rápido a população, desmoronando seu poder de compra, confiança na economia e restringindo o comércio pelo empobrecimento dos consumidores. Por isso os portos e depósitos continuam lotados de veículos importados há meses, que serão comercializados como 0km, porém já com marcas da exposição à maresia e o tempo dos ciclos de todo o sistema eletro-eletrônico contando, mesmo que parados. Como o governo chinês tem dinheiro a dar com o pau, e é sócio de 99,9% das montadoras chinesas, não dói nada esperar o que for preciso para vender os veículos e reaver seus investimentos; o importante é tirar do país o que foi destinado à exportação.

Por outro lado, montadoras européias, norte-americanas e japonesas também estão despejando dinheiro no Brasil, anunciando N modelos novos a serem lançados em breve, tanto movidos por motor a combustão interna (ICE) quanto os eletrificados híbridos, e, como não existe almoço grátis, querem a tecnologia Flex para seu veículos, e nesse setor o Brasil está à frente do restante do mundo em função de conhecer de ponta cabeça o processo do Etanol como combustível. Eu disse lá atrás que “alguéns” estão entulhando o mercado brasileiro com os PHEVs e, corroborando isso, a Mercedes-Benz acaba de oferecer o AMG C63 S E Performance, cujo lendário trem de força V8 4.0 foi substituído por um motor 2.0 litros, 4 cilindros, turbo, PHEV. Este carro foi lançado em 2022, suas vendas são pífias desde o lançamento e, agora, chega ao nosso mercado por módicos R$1 milhão. O carro é ruim? Não. Só que ninguém quer sem o V8 4.0 ICE!

É com tudo isso em mente, mais um monte de “coisas” que ninguém, fora meia dúzia das altas cúpulas sabem, que se pode concluir que o híbrido PHEV não é a solução e, em muito breve, terá sido canibalizado pelo híbrido convencional HEV dentro de suas próprias montadoras.

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