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Toyota Will: Quando tudo dá errado!

Fotos: Renato Pereira

É certo que todas as montadoras visam, primeiramente, os mercados de seus países de origem. É certo, então, que projetem e produzam modelos específicos para esses mercados. O que não dá para entender é que, por vezes, conseguem errar feio em seu próprio território, criando “coisas” que podem ser consideradas qualquer coisa, menos um automóvel. É certo, também, que os países asiáticos, principalmente Japão e China, são pródigos em criarem e produzirem exemplares nada ortodoxos do que conhecemos por automóveis. Mas as vezes eles extrapolam.

Como podemos ver nos modelos Will, do Grupo Toyota, entre 2000 a 2005, no Japão. Os carros, como veículos, era muito bons. Motores excelentes, transmissões idem, suspensões, perfeitas, freios irrepreensíveis, dirigibilidade excepcional, para sua categoria simplesmente insuperável, tudo do bom e do melhor… menos os designs. Por favor, não digam o indefectível “ah, mas nessa época era assim, todos tentavam”, porque não cola. Ainda não foi encontrado um termo que defina seu estilo ou, o que é pior, o que passou pelas cabeças pensantes do Kanto Auto Works (departamento de design e produção de carrocerias pertencente ao Grupo Toyota que, junto a Toyota Central Motors e Toyota Motors Tohoku tornou-se, em 1 de julho de 2012, na Toyota Motor East Japan, Inc.), talvez sob forte influência de seriados como Jaspion, Power Ranges e Dragon Ball Z, quando projetou as versões Vi, Vc e Vs do projeto Will, sendo esta última a versão mais próxima do que conhecemos como um automóvel.

Quem teve de se virar para minimizar os efeitos dos bizarros designs da “Família Will” (Desejo Vontade, em tradução não literal), foi a turma da Toyota Central Motors (outra empresa dentro do Grupo Toyota, responsável pelo desenvolvimento e produção dos conjuntos motrizes dos veículos da marca, em cinco pátios fabris, todos no Japão), responsável pelos excepcionais motores e transmissões que ajudaram um pouco na comercialização dos modelos, uma vez que nem mesmo equipados com as obras-primas mecânicas os estranhos veículos da montadora japonesa conseguiram cativar absolutamente ninguém.

A ideia inicial dos modelos Will era a Toyota desenvolver, produzir e comercializar (lógico..) três veículos diferentes, porém equipados com conjuntos mecânicos já existentes, dentro do conceito denonimado Projeto FF, que determina um veículo com design compacto, tração dianteira, motor dianteiro, para uso preponderantemente urbano. O motivo era muito simples, nada além de abastecer o mercado que não foi coberto pelos segmentos principais da Toyota, além de descobrir se comercialmente tais projetos incomuns eram viáveis. Não resolveu nem um nem outro problema, uma vez que nenhum dos modelos Will teve a menor aceitação, e o projeto foi encerrado em 2005.

Toyota Will Vi

O Will Vi é um carro compacto, produzido entre 2000 a 2001, com um estilo concebido visando combinar elementos de muitos carros, misturado a uma visão neo-retrô nipônica. Pelo menos, foi assim que Jim Shimizu,  da Virtual Venture Company, explicou seu design. Bem, até pode ser interessante a ideia de se juntar partes de diversos carros para se criar um modelo, mas isso deveria ficar apenas no âmbito dos designers, como diversão, ou ao menos escolher-se carros no mínimo bonitos para tanto…

A vigia (vidro) traseira já havia sido usada no Mazda Carol, no Ford Anglia (1959-1968), e no Citroen Ami. O tal olhar “neo-retro” assumiu o estilo dos veículos históricos da década de 1950 e 1960, tais como o Nissan Figaro, Nissan Pao, Subaru Vivio, e o Mitsubishi Minica. As opções de cores possíveis eram em tons pastel, e as rodas, em aço, eram cobertas por calotas plásticas. Um dos poucos opcionais era um telo solar em tecido, e os bancos dianteiro e traseiro eram inteiriços, com a  alavanca de câmbio instalado no painel de instrumentos. É, não era, absolutamente, nada atraente em nenhum aspecto de estilo…

Em compensação, o motor 2NZ-FE, quatro cilindros em linha, 1,3 litros (1.298cc), DOHC (Double Overhead Camshaft), gerava 84 Cv de potência máxima a 6.000 Rpm (!). Foi projetado em 1999 pelo engenheiro Otowa Yamaha, que posteriormente introduziu o sistema VVT-i (Variable Valve Timing Intelligence – Inteligência de Variação do Tempo de Abertura das Válvulas) para melhorar a eficiência do combustível e redução das emissões, atualmente padronizado em toda a linha de motores Toyota (exceto no Toyota/Daihatsu 1KR-DE utilizado na Toyota Agya e Daihatsu Ayla), e era acoplado a uma excelente transmissão automática de 4 velocidades. As suspensões do Will Vi eram tipo MacPherson na dianteira e eixo com barra de torção na traseira, garantindo excelente estabilidade e conforto ao carro que, com um volume de vendas decepcionante, foi substituído pela Will Cypha.

Resumo: Toyota Will Vi

Produção: Janeiro de 2000 a Dezembro de 2001

Categoria: Sedan compacto 4 portas

Comprimento: 2.370mm; Largura: 1.660mm; Altura: 1.600mm; Peso: 950 Kg.

Motor: 2NZ-FE, 4 cilindros em linha, 1,3 litros, 84 Cv

Transmissão: Automática, 4 marchas.

Toyota Will Vc / Cypha

Produzido entre 2002 a 2005, o Will Vc, posteriormente rebatizado Will Cypha, foi o sucessor do Will Vi, embora na verdade fosse basicamente o mesmo carro, só que muito, mas muito mais estranho (para não dizer horrível) do que seu antecessor, que já era muito feio. O modelo compartilhou muito do conjunto mecânico da versão Vi, incluindo o excepcional motor 2NZ-FE 1,3 litros e uma versão com o motor 1NZ-FE, quatro cilindros em linha, 1,5 litros (1.497cc), DOHC, VVT-i, que gerava 109 Cv de potência máxima a 6.000 Rpm, tão bom que equipa hoje uma grande gama de modelos da montadora, como o Yaris, Scion xA e xB, Vios, Platz, Prius, Allion e Corolla, entre outros. A transmissão era a mesma automática com 4 velocidades, assim como as suspensões eram as mesmas utilizadas na versão anterior.

O que tinha de novo, então, além do motor 1,5 litros, era o design horripilante. A traseira foi inspirada provavelmente no Renault Megane II, e até que passaria como aceitável não fosse o parachoques ultra-exposto e as caixas de rodas abauladas. Mas a dianteira conseguiu garantir um lugar de honra na galeria dos projetos bizarros. Sinceramente, é impossível definir o que inspirou o pessoal da Kanto Auto Works. Devem ter batizado com água o saquê.

Para compensar tanta falta de formosura, o Toyota Cypha (combinação das palavras “Cyber” e “Phaeton”, algo como Carruagem Cibernética…) foi o pioneiro da Toyota utilizando o sistema G-Book, aquele serviço de assinatura telemática fornecidos pela marca no Japão,  que permite aos usuários se conectarem com telefones celulares, Ipad, Notebooks etc,  fornecendo serviços de informação interativos através de terminais de comunicação sem fio pela tela touch-screen, que hoje vemos na maioria dos carros top de linha.

Mas o mais inusitado mesmo foi o sistema d evendas do Will Cypha, chamado de Pay as You Go, que significa que era dada a opção ao cliente de não comprar o carro com pagamentos mensais, mas sim alugar o carro pagando uma conta mensal com base na quilometragem rodada e, quando o cliente não queria mais o veículo, devolviam à concessionária! Mas nem assim a Toyota conseguiu transformar o medonho Will Cypha em um modelo vendável, e encerrou sua produção em 2005.

Resumo: Toyota Will Vc / Cypha

Produção: Setembro de 2000 a Julho de 2005

Categoria: Hatchabck compacto 5 portas

Comprimento: 3.695mm; Largura: 1.675mm; Altura: 1.550mm; Peso: 990 Kg.

Motor: 2NZ-FE, 4 cilindros em linha, 1,3 litros, 84 Cv / 1NZ-FE, 4 cilindros em linha, 1,5 litros, 109 Cv

Transmissão: Automática, 4 marchas.

Will Vs

Entre uma criação bizarra e uma estranha (Vi e Vc), que não conseguiram de forma alguma conquistar nenhum comprador, a turma da Kanto Auto Works deu um jeito de aterrissar a cabeça e criou uma versão terráquea, sem as inspirações provenientes dos estúdios de desenhos animados, mas sim do avião de caça Lockheed F-117 Nighthawk Stealth Fighter, e lançou a versão Vs do Will, produzido entre 2001 a 2004.

E era um carro muito avançado para sua época!  Apresentado oficialmente no Los Angeles Auto Show em 2001, o Will Vs foi o precursor da chegada do Scion nos Estados Unidos.

O Will VS oferecia três níveis de acabamento, com a versão top de linha equipada com rodas de liga leve, faróis de milha, body-kit e sistema de mudança de marchas tiptronic. As outras versões estavam  disponíveis com transmissão automática de 4 marchas ou manual de seis velocidades.

Além do design bastante agradável do Will Vs, suas três possibilidades de motorização também eram grandes atrativos, partindo do 1NZ-FE, um motor quatro cilindros em linha, 1,5 litros (1.497cc), DOHC, VVT-i, com 107 Cv de potência máxima a 6.000 Rpm, passando pelo 1ZZ-FE, quatro cilindros em linha, 1,8 litros (1.794cc), DOHC, VVT-i, com 120 Cv de potência máxima a 5.600 Rpm (existe uma versão com 143 Cv de potência máxima a 6.400 Rpm) e o 2ZZ-GE, quatro cilindros em linha, 1,8 litros (1.796cc), DOHC, VVT-i, com 140 Cv de potência máxima a 6.000 Rpm (sendo que pode ser feito um upgrade para o sistema VVTL-i, chegando então a 180 Cv de potência máxima). Este mesmo motor, que é o mais potente a equipar a linha Celica, dependendo do modelo em que será utilizado pode chegar a 240 Cv de potência máxima. É ou não é tecnologia de sobra? Pena que o carro não ajudava… como foi lançado durante a produção das versões bizarras e manteve o mesmo nome, nem mesmo a aplicação do mesmo sistema Pay as You Go implantado na versão Cypha ajudou o modelo a alcançar níveis aceitáveis de vendas e sua produção foi encerrada em 2004.

Resumo: Toyota Will Vs

Produção: Abril de 2001 a Abril de 2004

Categoria: Hatchabck compacto 5 portas

Comprimento: 4.385mm; Largura: 1.720mm; Altura: 1.440mm; Peso: 1.120 Kg.

Motor: 1NZ-FE, 4 cilindros em linha, 1,5 litros, 109 Cv / 1ZZ-FE, 4 cilindros em linha, 1,8 litros, 120 Cv / 2ZZ-GE, 4 cilindros em linha, 1,8 litros, 140 Cv.

Transmissão: Automática 4 marchas / Manual 6 marchas.

Resumo do resumo? É certo que a Toyota levou uma baita surra com o conceito do Will. Porém, como empresa séria e mega-estruturada que é, soube capitalizar o que de melhor o Toyota Central Motors desenvolveu, ou seja, os motores e transmissões, que acabaram se tornando as bases do que hoje é empregado em toda a sua linha de automóveis.

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