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Tarso Marques: um brasileiro na Nascar?

A notícia pegou a todos de surpresa, e o release “bombou” pelas redes sociais. Mas é importante que se entenda tudo em detalhes, e este é o objetivo desta matéria. Não, dão dá para ser maos uma matéria “curtinha” (Control C / Control V), ou se dá uma notícia completa ou não se fala nada…

O que é a Nascar:

A NASCAR (National Association for Stock Car Auto Racing) Cup Series, a principal categoria de carros de automobilismo dos Estados Unidos,  é uma empresa privada foi fundada por Bill France Sr. em 1948. Seu filho, Jim France, é o CEO desde 6 de agosto de 2018. A cada ano, a NASCAR coordena mais de 1.500 corridas, em mais de 100 pistas, em 48 estados dos EUA, Canadá, México e Europa. Desde 2014, a IMSA (International Motor Sports Association), é uma divisão da Nascar.

A Nascar Cup Series é um campeonato disputado em 36 etapas válidas e 5 eventos-show, resultando um total de 41 corridas disputadas entre os meses de fevereiro à novembro. Isso significa que praticamente todo final de semana, se meus conhecimentos não me enganam, o ano tem 12 meses e cada mês tem 4 semanas, o que dá uma soma de 48 finais de semana, e algumas provas são realizadas nas noutes de sábado. Em média, 40 carros disputam cada etapa, em provas que não duram menos de 3 horas, com diversos pit-stops com trocas de pneus e abastecimentos, para além das inevitáveis bandeiras amarelas.

As corridas

Inevitáveis porque os carros ultrapassam facilmente os 300 Km/h, andando grudados numa batalha de vácuo – e a habilidade está em saber a hora de usar o vácuo traseiro para ultrapassar ou o vácuo lateral, que é quando você faz o carro oponente perder a tração ou sobreviver quando três carros fazem uma curva lado a lado. Junte-se a isso o fato de que não, corrida em circuito oval não é muito fácil, não é só virar o volante para o lado e acelerar. Se fosse, você poderia estar lá fazendo isso mas, se um dia tiver a oportunidade de andar num desses carros, num desses circuitos, nunca mais pensará essa bobagem. Os traçados são absurdamente diferentes e, de iguais, só tem a definição Oval. Existem os Bi-ovais, simétricos, com 2 retas e 2 curvas idênticas, e os assimétricos, com 2 retas idênticas e 2 curvas direfentes em diâmetro; os Tri-Ovais, com retas e 3 curvas; os D-Ovais, com uma reta, duas curvas e uma “reta-curva”, que nada mais é do que uma curva muito aberta mais parecida com uma reta e os Quad-Ovais, com uma reta maior, duas curvas maiores e uma reta menor entre elas. Nenhuma curva, em nenhum circuito, tem a mesma inclinação. Em todos eles, o asfalto muda de trecho para trecho e, não raro, trechos em concreto. Tem mais: suas extensões! Os ovais, em qualquer formato, podem ser: Mini-Oval, com meia milha (menos de 800 metros) de extensão; Short-Track, com 1 milha (1.600 metros) de extensão; Speedways, partindo de 1 até o máximo de 2 milhas (3.200 metros) de extensão; Superspeedways, de 2,5 milhas (4.000 metros) de extensão acima. Se é complicado – e muito – acertar o carro – cambagem, cáster, pressão dos pneus, as coisas vão mudando volta a volta, imagine fazer tudo de novo de uma semana para outra, em outra pista, com todas as variáveis, somando-se os fatores climáticos etc.

Bem ao estilo norte-americano, para evitar a desmotivação nas disputas, a acomodação pela regularidade e a ajudinha extra-oficial entre companheiros e equipes, o campeonato não se resolve pela pontuação acumulada ao longo das 36 etapas (divididas em 3 segmentos cada, com pontuação cumulativa em separado). A partir da 26ª etapa válida, entra em cena o Play-Off , onde os 16 pilotos melhores colocados na classificação da temporada regular (quem tiver uma vitória está automaticamente classificado) disputarão o título de campeão nas 10 últimas corridas, embora todos os demais participem e disputem de igual para igual as posições de chegada em cada corrida. Estes 16 pilotos começam do zero de bônus em termos de resultados anteriores, sendo acrescentado apenas uma pontuação extra que os torna inalcançáveis pelos demais 27 pilotos. A cada 3 das 10 provas restantes, 4 pilotos são eliminados. Em cada fase, o vencedor se garante para a próxima eliminatória e os demais se esfalfam para somar pontos, restando então 4 candidatos ao título na última prova, que é decidido da maneira mais simples: quem chegar na frente dos outros 3 é o campeão!

Os carros

Um carro “de ponta” custa, por ano, entre U$15 a U$25 milhões. Isso dependendo, claro, da quantidade de destruições que sofrer – e vai sofrer, ninguém jamais escapou incólume à uma temporada sem mandar um carro pro ferro velho. Bandeiras amarelas nas voltas finais costumam fazer as vitórias mudarem de mãos na última curva da última volta, para delírio dos milhares de torcedores nas arquibancadas abarrotadas por milhares de torcedores a cada etapa.

São três as montadoras envolvidas na Nascar: Chevrolet, Ford e Toyota, onde a Chevrolet usa uma bolha que simula o Camaro SS, a Ford simula o Mustang e a Toyota o Camry. São basicamente sedans médios com grande volume de vendas nos Estados Unidos, e a idéia é exatamente essa, mostrar que seus produtos são bons e podem ser comprados pelos norte-americanos. Não, a Honda, Nissan, Mercedes, BMW, Renault, Jac, Lada ou qualquer outra montadora, enfim, não tem o menor interesse em entrar na categoria como uma quarta marca. Chevrolet, Ford e Toyota fornecem os blocos dos motores para as equipes, que se viram para montá-los e prepará-los dentro dos regulamentos da categoria. Algumas equipes mais ricas e competentes, além de mais envolvidas com as marcas, se encarregam de preparar e fornecer motores para outras equipes. Então, de cada montadora, os carros tem a aparência de seus modelos e os blocos do motores e nada mais.

Para 2022 as coisas mudaram bastante em termos de carros e dinâmica. A Nascar prima por manter as coisas mais “raiz”, nada de eletrônicos, auxílios, dispositivos, jogo de equipe, é cada um por sí e se virem. Mas é na Nascar que o conceito “equipe” é preponderante. Um pit-stop errado, uma estratégia mal-pensada, um spotter ruim, e não adianta ter o melhor carro, melhor acerto e melhor piloto que a corrida ja era. Mas veio uma certa evolução – até a temporada anterior, os carros eram equipados com câmbio mecânico em H, carroceria em alumínio, rodas com 6 porcas, enfim, carros de corridas velozes, rápidos e pesados.

O Next-Gen (G7) chegou pra dar uma evoluída nos carros e, por osmose, nas corridas. O campeonato segue para sua quinta etapa, e tem muito piloto “apanhando” do carro, agora com câmbio sequencial, suspensão traseira independente, chassi híbrido em aço espacial e fibra de carbono, rodas maiores de cubo rápido, motor V8 5.8 litros com 670Cv (pode chegar a 850Cv)carroceria com apêndices que oferecem muito mais downforce, mudou-se totalmente a maneira de trabalhar o vácuo, resumindo, é tudo novo para todo mundo.

E, finalmente, Tarso Marques!

É aí que entra o objetivo de toda esta matéria. Era preciso explicar, para quem não conhece – apesar de a categoria ter transmissão ao vivo para o Brasil há vários anos, agora sob a batuta da Bandsports – como é e como funciona toda a dinâmica da Nascar. Tenho a mais absoluta certeza de que, após entenderem todo o universo que engloba uma corrida em circuito oval, o tabú de que tudo é fácil foi por terra. Então vamos entender a tacada de mestre onde figura o piloto brasileiro.

O Team Stange Racing é uma equipe sediada em Chicago, Illinois, que já competiu na IndyCar Series com a Arrow Schmidt Peterson Motorsports como equipe técnica, com o piloto Oriol Servià. Depois, a equipe disputou a ARCA Racing Series em 2014, com Maryeve Dufault, Brian Finney, Buster Graham e Christian Celaya como pilotos. Em 2015, a equipe disputou a NASCAR K&N Pro Series East com Christian Celaya e Mike Senica e em 2016 com John Gustafson e Frank Kimmel. Agora, estreará na Nascar Cip Series com o Mustang #79 em julho, na Kwik Trip 250, etapa a ser disputada no Road America – um dos poucos circuitos mistos – e na sequência a Verizon 200 no Brickyard, Watkins Glen 355, Coke Zero Sugar 400, Bank of America Roval 400, South Point 400, Dixie Vodka 400 e o final da temporada da categoria.

Tudo acontence quando tem de acontecer, é o que sempre digo. As vezes isso é ruim, as vezes é muito bom. E é na “cateegoria muito bom” que entra o brasileiro Tarso Anibal Santanna Marques, o curtitibano que aos 16 anos venceu sua primeira corrida (depois foram mais três), na Fórmula Chevrolet em 1992, antes de alcançar a Fórmula 1 na equipe Minardi. Após sair da categoria – talento é uma coisa, dinheiro é outra e a Fórmula 1 já naquela época primava mais pela grana do que pela habilidade – disputou 27 corridas da Champ Car pela Penske e Dale Coyne, para além do FIA GT, BOSS GP, Endurance Brasil, TC2000 e Stock Car Brasil.

E é justamente essa junção de carros novos para todo mundo, equipe com bagagem no automobilismo, apoio financeiro necessário e piloto com experiência nos tipos de traçados da Nascar que promete, a médio prazo, “engrenar” e crescer. Sem ufanismos, que é o que detona a carreira de qualquer esportista, já que “nossa” imprensa insiste que, só por ser brasileiro o piloto tem de “sentar lá e vencer” – esquecendo-se de que existem os demais pilotos que estão lá com o mesmíssimo objetivo, e só um pode vencer, o que podemos esperar é uma evolução sólida no aprendizado tanto da equipe quanto de Tarso Marques. Terminar uma prova já será um grande resultado. Bem colocado, um prêmio. Qualquer outra coisa será um bônus. Como dito anteriormente, uma série de fatores interferem diretamente nos resultados de uma prova, e não raro corridas bem estruturadas e promissoras da Nascar são jogadas fora por erros de outros, em batidas coletivas, e a expertise de escapar dessas encrencas vem junto ao entrosamento com o spotter e a sorte de estar no lugar certo na hora certa. Muitas vitórias ja foram para o beleléu na última relargada, e muitas vitórias impossíveis aconteceram pelo mesmo motivo. Para os fãs das corridas de Turismo ainda no estilo “faroeste” (aqui se faz, aqui se paga), é bom já irem se acostumando com as provas da categoria através da transmissão ao vivo pela Bandsports e, quando Tarso Marques acelerar seu Mustang #79 pela primeira vez em uma prova válida  pela Nascar estarmos juntos na torcida!

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