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Pneus: A dura vida desse incompreendido.

Fotos: Divulgação / Renato Pereira

Um dos componentes mais ignorados em um automóvel de passeio é justamente o mais imediatamente relacionado com a segurança: o pneu. Apesar de estar ali diante dos olhos, na imensa maioria das vezes o cidadão só se lembra de sua existência quando vai comprar um carro usado – para reclamar de seu estado e tentar baixar o preço – e quando vai vender – para justificar que ainda está muito bom e não dar nenhum desconto.

Não é um componente que possa ser considerado barato, se for analisado apenas o fator preço de compra, até porque a inteligência diz que não se compra apenas um, já que usam-se quatro simultaneamente e nunca gasta-se apenas um. No entanto, é bastante barato se considerada sua vida útil, se o usuário prestar atenção em suas condições, ler e seguir as recomendações do fabricante e tiver um mínimo de cuidado ao dirigir.

Existe em nosso mercado algumas das mais importantes fabricantes mundiais do setor. O fator tecnologia, em nosso caso, portanto, não está nem aquém nem além do que existe de melhor lá fora, até porque alguns carros importados exigem ser calçados com pneus específicos. Existe em nosso mercado, também, um jeitinho brasileiro – com subdivisões e tudo – que chega a ser de uma estupidez tão grande que nem a falta de dinheiro justifica: o “usadinho”, que o cidadão compra em uma borracharia-muquifo, raramente nas mesmas medidas originais, que são oferecidos nas versões: “usadinho meia vida” = aquele pneu que o dono do carro tirou porque esta velho, ressecado e quase careca; “usadinho frisado” ou “riscado” = o mesmo pneu anterior, mas onde o borracheiro empregou seus dotes artísticos com um ferro quente, e redesenhou as ranhuras que o desgaste apagou.

Dessa forma, o tal usadinho acabou de se transformar em uma arma, porque o artista do ferro quente, ao aprofundar as ranhuras desaparecidas, eliminou boa parte da borracha que faz parte da estrutura do pneu, e essa coisa vai estourar assim que topar com uma pedra; “usadinho importado” = lá, no Primeiro Mundo, mesmo em crise financeira, os usuários de veículos tem, forçosamente, de substituir os pneus de seus carros puramente por condições climáticas. Existem pneus específicos para a época das chuvas, para neve e para verão. Desnecessário dizer que o composto da borracha e o desenho das ranhuras são desenvolvidos para cada fim. Logo, é desnecessário dizer que um pneu específico para rodar sobre neve terá outro comportamento sobre piso seco e vice-versa. Então, quando o usuário esta sem dinheiro para substituir os pneus, ele deixa o carro em casa e anda de ônibus. Quando os troca, os pneus usados são jogados fora, virando montanhas de lixo não-biodegradável e reaproveitados em usinas de asfaltamento, no mais das vezes.

No menos das vezes, uma turma de espertinhos brasileiros resolveu que era bacana trazer esses pneus e vender como “semi-novos” por aqui; oficialmente, sua importação diz que deveriam ser usados como base para pneus remold*. Extra-oficialmente, esses pneus-lixo infestaram (e continuam infestando, não se engane) as borracharias dos 4 cantos do país, importados por intermédio de liminares falsas (custando uma fortuna cada liminar) e eram vendidos abaixo de  preço de banana. Os espertinhos daqui do Terceiro Mundo (nunca me disseram onde fica o Segundo…) empurravam goela abaixo dos consumidores também espertinhos (os que vivem atrás de formulas mágicas para pagar menos) e o que mais se viu, então, foram carros com pneus meia vida específicos para gelo ou chuva, que apesar de excelentes para piso seco, se desgastavam inteiramente em um mês.  Muitos lojistas “picaretas” se utilizaram desses pneus, enganando o consumidor que enxergava pneus bem “recheados” e pensavam que estavam fazendo um bom negócio. Resumindo: economizar palitos em banquete é burrice com todas as letras, e calçando seu carro com qualquer alternativa de “jeitinho brasileiro” você estará tentando se suicidar, matar alguém ou matar sua própria família. Entendeu?

*Remold é quando uma empresa pega um pneu velho e detonado e cola uma banda de rodagem nova nele. Imagine que a borracha já sofre uma vulcanização antes, e como ficará após sofre outra paulada de calor imenso.

Tecnicamente, o pneu é uma cobertura em forma de anel que se encaixa em torno do aro de uma roda para protegê-la, proporcionar a transferência da tração das rodas ao piso e servir de uma espécie de almofada flexível, que absorve o choque das imperfeições da superfície. Tem esse nome esquisito por aqui, já que ninguém traduziu do original francês Tirer (puxar), que em inglês virou Tire. O termo pneu apareceu na década de 1840, quando eram bandas metálicas colocadas em rodas de madeira. Essas bandas eram aquecidas em fornalhas, colocadas sobre as rodas e esticadas, fazendo-as se contrair e encaixar firmemente nas rodas. Esse “anel metálico” servia então para “tirer” os segmentos de rodas, e palavra “pneu” surgiu como uma ortografia variante para se referir às bandas de metal usadas para amarrar as rodas. Essa é a explicação 1; a explicação 2 diz que o nome é derivado de pneumático, que vem do latim pneumatĭcus, que por sua vez vem do grego πνευματικός, que quer dizer sopro. Existem piadinhas sobre, mas ninguém explica que o pneu é preto pela adição de negro-de-fumo à composição da borracha, senão os pneus se desgastariam muito rapidamente… e ficariam sujos, segundo as tais piadas.

Quem resolveu revestir a roda com borracha foi o veterinário escocês John Boyd Dunlop, mas sua patente foi mais tarde invalidada em favor de Robert William Thomson. Em termos de materiais, a vulcanização da borracha natural é creditada a Charles Goodyear e Robert William Thomson, e as borrachas sintéticas foram inventados nos laboratórios da Bayer em 1920. Hoje em dia, mais de 1 bilhão de pneus são produzidos anualmente, em mais de 400 fábricas, a imensa maioria na Ásia e Índia, e não estranhe ao ler nos pneus de seu Porsche, Mercedes-Benz ou Jaguar, por exemplo, que aquele pneu de marca europeia é, na verdade, fabricado em outro Continente. Não raro, por sinal, essas fábricas produzem pneus de diversas marcas, mudando apenas o desenho e os nomes prensados em suas laterais. As maiores fabricantes de pneus no mundo, em receita, são Bridgestone, Michelin, Goodyear, Continental, Pirelli e Hanckook.

O que é importante saber e prestar atenção, além de não comprar porcaria só porque esta baratinho: os pneus, de modo geral, tem sua durabilidade entre 25 mil a 70 mil quilômetros, dependendo dos cuidados do usuário e do seu uso – tipo de piso, carga, etc. Deve-se sempre revisar o balanceamento e alinhamento a cada cinco mil quilômetros, e efetuar o rodízio dos pneus a cada 10 mil km, até que atinjam a “meia-vida”, quando a profundidade dos sulcos é de aproximadamente 3,5 mm. Abaixo dessa profundidade, deve-se deixar o pneu menos gasto no eixo dianteiro, porque é ali que se comanda a direção e recebe a maior pressão dos freios. A calibragem dos pneus deve ser feita periodicamente, e sempre antes de viagens, com a pressão recomendada pelo fabricante do veículo. Então, basta usar uma calculadora para chegar no peso aproximado do carro carregado e seguir as dicas do manual. Lembre-se: o pneu dilata com o calor da rodagem. Os pneus devem ser substituídos quando seus sulcos atingirem a profundidade de 1,6 milímetros, facilmente visível ao se observar as ranhuras inferiores, indicadas pela sigla T.W.I. (Tread Wear Indicator). Independente de qualquer coisa, caso haja bolhas ou deformações, o pneu deve ser prontamente substituído. Lembre-se: os pneus atuais são compostos por malhas de aço, que se deformam em pancadas muito fortes em crateras, meio-fios etc. Se isso acontecer, troque o par, nunca apenas um pneu.

Entenda, sempre, as siglas estampadas nas laterais dos pneus. É uma excelente maneira de não comprar gato por lebre. Além de um espacinho escrito DOT, que determina a idade do pneu (começa com as letras “DOT”, e os últimos quatro números fornecem a data de fabricação, sendo os dois primeiros a semana e os dois últimos o ano), normalmente encontramos legendas assim: 195/55 R 15 87W. Então, 195  é a largura em mm, 55 é a relação entre a altura e a largura do pneu = 0,55, R é a estrutura do tipo Radial, 15 é o diâmetro interno do pneu em polegadas, 87 é o índice de carga do pneu, neste caso corresponde a 545 Kg e W é o código de velocidade do pneu, neste caso corresponde a velocidade máxima de 270 Km/h. Um exemplo mais comum, como o pneu indicado para um Volkswagen Gol G5 é o 175/70 R14 82T. Significa que tem 175mm de largura, 70 de relação entre a altura e a largura (perfil), Radial, para roda de 14 polegadas, suporta 475 kg e sua velocidade máxima antes de dechapar é de 190 km/h.

Se você, como a maioria das pessoas, não tem tempo para estudar tudo isso, mas não gosta de ser passado para trás, consulte um profissional. Os autocenters estão aí para isso mesmo. Escolha o que representa a marca de pneus de sua preferência e encontre lá as informações e a manutenção necessárias. Aproveite essas visitas e revise ponteiras de direção, terminais, amortecedores, molas, escapamento, sistema de arrefecimento, óleos do motor e transmissão e fluídos hidráulicos. É sempre muito mais barato prever do que remediar.

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