Nascar Sprint Cup 2016 – Conheça o maior show de velocidade do mundo que vai começar!
Imagens e Ilustrações: Renato Pereira
A mais competitiva e veloz categoria de Turismo do mundo abriu no dia 13 de fevereiro sua temporada 2016, com o evento festivo Nascar Sprint Unlimited. O campeonato, cuja prova inicial válida em pontuação é a Daytona 500, no Daytona International Speedway, a ser disputada neste domingo, dia 21 de fevereiro, as 15:15 Hs, horário de Brasília, é a mais perfeita simbiose entre a competição e o show, agregando em seu calendário algumas provas festivas que não contam pontos nem para os pilotos nem para os carros na classificação (na Nascar, pilotos e carros tem suas pontuações independentes), mas premiam com valores milionários os participantes e vencedores, um exemplo das grandes “sacadas” promocionais que os gênios do marketing esportivo aplicam em seus eventos, gerando recursos e movimentando dinheiro – todos os pilotos, do primeiro ao último colocado em todas as etapas, recebem uma premiação em espécie, além de outros bônus referentes a pole-position, volta na liderança, maior número de voltas na liderança e vitória. Ao contrário da filosofia sovina européia (de onde copiamos nossas regras, regulamentos e rendemos loas), os norte-americanos acreditam que, se um piloto disputa uma prova, está investindo e se arriscando, merece, portanto, ser recompensado pelo seu esforço. Bacana, não é?
Vamos conhecer melhor a Nascar Sprint Cup, onde seus carros ultrapassam facilmente a marca dos 330 km/hm (em provas que duram, em média, 3 horas), com grids formados por 42 concorrentes em suas corridas definitivamente impossíveis de se apostar em um favorito à vitória que pode – e acontece sempre –, mudar de mãos na última curva da última volta, com suas arquibancadas abarrotadas por milhares de torcedores a cada etapa, e que é humanamente impossível explicar os detalhes e pormenores relevantes em poucas palavras. Esta matéria, como sempre faço, é para quem quer ler e entender a dinâmica do campeonato, das corridas e não é curtinha não. Mas informa tudo e, para quem se interessar, vamos lá e boa leitura!
O campeonato:
Como mostra o quadro abaixo, a temporada é uma maratona composta por 36 etapas válidas e 5 eventos-show, resultando um total de 41 corridas disputadas entre os meses de fevereiro à novembro. Isso significa que praticamente todo final de semana – se meus conhecimentos não me enganam, o ano tem 12 meses e cada mês tem 4 semanas, o que dá uma soma de 48 finais de semana. Eliminando-se janeiro e dezembro, são 8 finais de semana a menos, restando portanto 40 datas possíveis para realizarem 41 corridas, e isso é resolvido com provas realizadas nas noites de sábado, o que dá um toque todo especial no grau de dificuldade de acerto, pilotagem e ajustes dos carros no desenrolar das corridas.
Para evitar a desmotivação das disputas, a acomodação pela regularidade e a ajudinha extra-oficial entre companheiros e equipes, o campeonato não se resolve pela pontuação acumulada ao longo das 36 etapas (onde a pole-position vale 1 ponto, uma 1 volta liderada vale 1 ponto, o maior número de voltas lideradas vale 1 ponto e a vitória vale 40 pontos + 3 pontos de bônus, resultando em 45 pontos o máximo que algum piloto possa atingir em uma etapa, e isso é praticamente impossível).; a partir da 26ª etapa válida, entra em cena o Chase for the Sprint Cup, uma espécie de playoff onde os 16 pilotos melhores colocados na classificação da temporada regular (quem tiver uma vitória está automaticamente classificado) disputarão o título de campeão nas 10 últimas corridas, embora todos os demais participem e disputem de igual para igual as posições de chegada em cada corrida. Estes 16 pilotos começam do zero de bônus em termos de resultados anteriores, sendo acrescentado apenas uma pontuação extra que os torna inalcançáveis pelos demais 27 pilotos. A cada 3 das 10 provas restantes, chamadas Challenger 16, Contender 12 e Eliminator 8, 4 pilotos são eliminados. Em cada fase, o vencedor se garante para a próxima eliminatória e os demais se esfalfam para somar pontos, restando então 4 candidatos ao título na última prova, que é decidido da maneira mais simples: quem chegar na frente dos outros 3 é o campeão!
Antes de prosseguirmos, apenas uma observação: é de muita inteligência usar a política de boa vizinhança com todos os pilotos; existem manobras legais, necessárias até, como um leve “totozinho” de canto para o piloto à frente, mais lento, perder um pouco de tração e o outro ultrapassá-lo, por exemplo, mas exagerar nas tintas pode fazer tudo ir por água abaixo num piscar de olhos, uma vez que na Nascar as coisas não são decididas no tapetão como aqui, lá é “na pista se faz e na pista se paga”, mesmo que não seja politicamente correto isso, mas funciona, e já teve muito virtual campeão que ficou chupando o dedo no final por ter levado um “troco” por alguma manobra considerada pouco convencional em alguma etapa anterior e que lhe custou preciosos pontos. Que o diga Joey Logano #22 Ford Fusion Penske e que se lembre bem Matt Kenseth #20 Toyota Camry Joe Gibbs nesta temporada… em minha humilde opinião, são dois dos melhores pilotos da categoria mas que, com as lembranças ainda frescas em suas cabeças quentes, não deverão conseguir buscar o título de campeão da temporada por estarem “se procurando” em todas as corridas, e podem levar outros pilotos de ponta de suas equipes no embrulho.
Voltando ao campeonato, após a realização das 79 voltas do Nascar Sprint Unlimited, que é uma espécie de apresentação dos pilotos e equipes da temporada, além do primeiro checkdown dos novos carros, onde os 25 (entre os mais de 40) pilotos melhores colocados ou algum resultado expressivo obtido na temporada anterior participam, em dois treinos classificatórios e a corrida, 5 dias depois é a hora e a vez do Can-Am Duel AT 1, disputado por todos os 42 inscritos na temporada em 60 voltas, com paradas obrigatórias para trocas de pneus e reabastecimento, seguida pouco tempo depois pelo Can-Am Duel AT 2 que, em suas 64 voltas definirá o grid de largada da primeira corrida válida da temporada, a histórica Daytona 500, a ser disputada no Daytona International Speedway dia 21 de fevereiro, as 15:15hs, horário de Brasília, encerrando praticamente um mês de festa da velocidade em Long Beach.
Os carros:
Entra ano, sai ano, a tal interatividade entre telespectadores e locutores e comentarias nos premia com as mesmas perguntas de sempre, dúzias de vezes por prova, 90% das vezes feitas pelas mesmas pessoas. Cansa ouvir, é incompreensível uma pessoa que conheça minimamente automobilismo fazer perguntas tão tolas mas faz, e os comentaristas Rodrigo Mattar e Thiago Alves, movidos por imensa paciência extraída sabe-se lá de onde, se põem a explicar tudo de novo. Vou aqui tentar ajudá-los, explicando timt-tim por tim-tim como são os carros, ok?
São três as montadoras envolvidas na Nascar (Camping World Truck Series, Xfinity Series e Sprint Cup, as três principais divisões controladas pela Nascar), que são: Chevrolet, Ford e Toyota. Na Sprint Cup a Chevrolet usa uma bolha que simula o modelo SS, a Ford simula o Fusion e a Toyota o Camry. São basicamente sedans médios com grande volume de vendas nos Estados Unidos, e a idéia é exatamente essa, mostrar que seus produtos são bons e podem ser comprados pelos norte-americanos. Não, a Honda, a Nissan, a Mercedes, a BMW, a Renault, a Lada ou qualquer outra montadora, enfim, não tem o menor interesse em entrar na categoria como uma quarta marca. A Dodge saiu da categoria porque foi comprada pela Fiat, que investe em outras categorias mundo afora, e não vai voltar agora para ver seus carros apanharem feio de quem já esta la faz tempo. Chevrolet, Ford e Toyota fornecem os blocos dos motores para as equipes, que se viram para montá-los e prepará-los dentro dos regulamentos da categoria. Algumas equipes mais ricas e competentes, além de mais envolvidas com as marcas, se encarregam de preparar e fornecer motores para outras equipes. Então, de cada montadora, os carros tem a aparência de seus modelos e os blocos do motores e nada mais.
Essas bolhas que simulam os carros convencionais são feitas em chapas metálicas, e encobrem uma estrutura tubular feita em cromo-molibdênio e o cockpit (aquele lugar onde fica o piloto). Os motores são V8 5,8 litros, aspirados, com injeção eletrônica, movidos a gasolina com 98 octanas, sem push to pass, e 725 Cv de potência máxima. O câmbio é manual de 4 velocidades em H e marcha a ré, e não, não são seqüenciais nem acionados por paddle shift (borboletas). Seu tanque de combustível comporta 68 litros, os quatro pneus e rodas são iguaizinhos, e os freios são de ferro fundido e não de fibra de carbono. A ideia é que um Nascar seja um carro de corridas que dependa da habilidade do piloto e da capacidade da equipe em construí-lo e acertar suas regulagens para obter bons desempenhos. Seu peso mínimo, sem piloto ou combustível é de 1.497 kg e 1.576 kg com piloto e combustível, mede 5.036mm de comprimento, 1.956mm de largura e 1.378mm de altura, com 89mm de distância livre do solo. Sim, os carros da Sprint Cup são diferentes e mais potentes do que os carros da Xfinity Series, que também é diferente e mais potente do que os da Camping World Truck Series. Explicado?
Os Circuitos:
Ah, corrida em circuito oval é muito fácil e muito chata, é só virar o volatne para o lado e acelerar. Não, não é não. Se fosse, você poderia estar lá fazendo isso mas, se um dia tiver a oportunidade de andar num desses carros, num desses circuitos, nunca mais pensará essa bobagem. Apenas 2 das 36 etapas do calendário são disputadas em circuito misto, desses que “o piloto vira para os dois lados”, e as 34 restantes são em traçados ovais. Que são absurdamente diferentes e, de iguais, só tem a definição. Comecemos pelos formatos:
Bi-ovais, simétricos, com 2 retas e 2 curvas idênticas, e os assimétricos, com 2 retas idênticas e 2 curvas direfentes em diâmetro; Tri-Ovais, com retas e 3 curvas; D-Ovais, com uma reta, duas curvas e uma “reta-curva”, que nada mais é do que uma curva muito aberta mais parecida com uma reta; Quad-Ovais, com uma reta maior, duas curvas maiores e uma reta menor entre elas.
Ok, então já vimos que as coisas não são iguais, certo? Tem mais, suas extensões… os ovais, em qualquer formato, podem ser: Mini-Oval, com meia milha (menos de 800 metros) de extensão; Short-Track, com 1 milha (1.600 metros) de extensão; Speedways, partindo de 1 até o máximo de 2 milhas (3.200 metros) de extensão; Superspeedways, de 2,5 milhas (4.000 metros) de extensão acima.
Muito bem, então agora o caldo está bem mais grosso, porque misturamos arquitetura com extensão, certo? Não, ainda tem mais: rarissimamente se encontra um oval, com qualquer arquitetura ou extensão com ângulos de inclinação iguais nas curvas. Na imensa maioria, cada curva tem uma inclinação diferente da outra, que também difere da inclinação da reta, e normalmente contam com pavimentação asfáltica em um trecho e em concreto em outro. Assim sendo, em alguns circuitos o piloto engata a quarta marcha e acelera até o fim o tempo todo; em outros, ele tem de dar uma aliviada no pé nas entradas das curvas. Em outros, ele tem de frear mesmo e, em outros, trocar de marcha também. Ainda acha que “circuito oval é tudo igual”? Então tente imaginar como é atingir as regulagens ideais de cambagem, cáster, pressão de molas e calibragem de pneus para cada uma dessas combinações, alem de pensar em ajustar os mínimos recursos aerodinâmicos para as reações do carro andando “de cara para o vento” ou no meio da turbulência lateral, frontal e traseira. E as coisas vão mudando volta a volta, porque as provas são de no mínimo 350 milhas, e os pneus desgastam, o combustível desaparece e as reações do carro mudam o tempo todo. Uma manobra muito usada para ultrapassagens é chegar bem próximo da quina interna da traseira do carro á frente, na entrada de uma curva, e o vácuo fará este carro destracionar. Outra manobra clássica que só faz quem é fera é andar pregado no carro à frente, em um processo de puxa-empurra gerando mais velocidade para ambos. Pronto, acho que acabei com a idéia fixa que circuito oval é para pilotinho braço-duro.
Pilotos e Equipes:
Aqui começa a única semelhança entre a Nascar e o restante do automobilismo pelo mundo, que é feito de pilotos ótimos, bons, médios e ruins, que estão lá porque são feras ou porque tem muita grana, da mesma forma que as equipes podem ser ótimas, médias ou ruins, e na maioria das vezes vence a combinação mais bem entrosada, e por vezes vemos aqui pilotos bons a beça em carros ruins a beça com resultados excelentes e vice versa. Vamos dar uma mergulhada no universo do quem é quem na hora do pega-pra-capar. Ah, antes que me esqueça, aos interativos twitteiros perguntadores repetitivos de plantão: não, o Nelsinho Piquet, o Miguel Paludo, o Helinho Castro Neves, o Tony Kanaan, o Rubinho Barrichello, o Montoya, o Emerson Fittipaldi, o Sebastian Vettel, o Lula, nenhum deles irá disputar a Nascar, ok?… pronto, comentaristas, ajudei vocês de novo.
Estatísticas e dados como “ah, o piloto X já venceu 300 vezes neste circuito, e o piloto Y nunca venceu aqui” só servem para ser assunto de quem tem de tagarelar a corrida toda enquanto não presta atenção no que esta acontecendo e erra na transmissão. Principalmente na Nascar, onde tudo pode – e acontece – nos momentos mais inesperados e inoportunos. É difícil julgar favoritos a vitórias e ao título durante toda a temporada. O que se pode fazer – e é o que o quadro abaixo mostra – é a lista de inscritos, os carros e as equipes onde competirão, quem são os mais “do ramo” e os que estão ali porque chegaram, as equipes que investem e as que capengam e ,claro as zebras que vez por outra dão as caras. São 42 carros alinhados a cada largada, com um máximo de 4 carros por equipe, o que não impede uma equipe dê uma forcinha para outra e tente colocar mais um carro no grid, inscrita com outro nome, e com algum piloto de alguma das categorias de base. Neste primeiro quadro, veremos por ordem numérica quem esta confirmado para a temporada 2016, observando que, em alguns casos, o mesmo carro tem dois ou mais pilotos inscritos; isso porque nem todos conseguem a verba necessária para toda a temporada, ocasionando um revezamento de pilotos, até porque independente do piloto, o carro também pontua e isso vale dinheiro.
Temos aí, então, todos os pilotos inicialmente inscritos teoricamente para toda a temporada, lembrando que vez por outra veremos pilotos da Xfinity Séries ocupando algum desses carros ou a bordo de algum carro reserva de alguma equipe com menos de 4 carros regularmente listados.
Vamos ver agora, no próximo quadro, as formações Piloto e seu nível até então apresentado (lembrem-se, tudo pode mudar e uma hora alguns aprendem), marca, modelo, equipes e também os níveis das equipes, e isso já é muito difícil de mudar, salvo uma Forniture Row, Poe exemplo, que com apenas um carro cresceu vertiginosamente de produção (mudando agora para Toyota será uma incógnita) ou uma Roush Fenwey, que já esteve no Olimpo e hoje está no fundo do poço. Vale destacar que os números dos carros pertencem a Nascar, por isso é difícil uma equipe com números em seqüência em seus carros, mas seguiremos a ordem numérica crescente partindo no menor número de cada carro por equipe.
Agora, já temos as formações oficiais das equipes, cada uma com seu carro e seu piloto titular. São nada menos do que 11 equipes com 22 Chevrolet SS, 7 equipes com 13 Ford Fusion e 3 equipes com 9 Toyota Camry. Que, por sinal, levou o caneco com o piloto Kyle Busch. Vamos, então, dar uma olhada mais profunda nos melhores conjuntos piloto + carro + equipe que, certamente, estarão sempre entre os 15 primeiros, salvo uma daquelas fatalidades de estar no lugar errado na hora errada e pegar uma sobra de algum dos incontáveis e inevitáveis acidentes ou aquelas mancadas inaceitáveis de suas equipes, nessa ordem:
Já viemos até aqui, então vamos completar o raciocínio. Novamente salvo algum acontecimento extraterrestre, vejamos quem são os maiores candidatos a pelo menos uma vitória nesta temporada, pelo simples fato de que seus pilotos ou carros há anos não passam “batido” pelas 36 etapas:
qual o critério utilizado para se considerar a Danica Patrick ótimo piloto ???
Nenhum. Ela não é, nunca foi e jamais será ótima piloto, pelo menos nos carros de Turismo desta categoria. O que ela representa é business. Os patrocinadores investem na participação da Danica por ser algo até mesmo surreal, e isso atrai atenção e, portanto, o marketing subjetivo. A cultura e envolvimento dos norte-americanos com o automobilismo é abissalmente distante da nossa. A categoria movimenta em média U$600.000.000 anualmente, e tudo por lá vira dinheiro, e ela “vende” bem os produtos de seus patrocinadores. Só isso.