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Muito Além de Rodas e Motores | Precisão na pilotagem e uma dose de Campari

No início de setembro comentei um acontecimento que me ocorreu quando trabalhava no jornal O Estado de São Paulo, em que fui convidado pelo chefe da famosa equipe Willys-Overland para participar, com um Renault Gordini, de uma corrida para jornalistas especializados em automobilismo com o objetivo de incentivá-los a melhor se especializarem na cobertura das atividades profissionais.

Foi uma ideia de diretores das fábricas para melhor preparar os repórteres dando a eles a oportunidade de assimilar os conhecimentos desse empolgante esporte que desfrutava de um momento importante, em que o Brasil dava início à produção de veículos.

Eu também fui beneficiado porque, como repórter, passei a fazer parte de um novo grupo que se formava no jornalismo brasileiro e o automobilismo passou a ser uma escola complementar para a minha formação profissional. Adentrei a um novo mundo e passei a conhecer e a conviver com pilotos, diretores e os mais admirados publicitários nacionais.

Com convite recebido, o chefe da equipe Willys me reservou um Renault Gordini, de uso pessoal do piloto Luiz Pereira Bueno e me transmitiu as informações que eu deveria seguir, principalmente em segurança para me preservar e também os participantes e, igualmente, o automóvel. Fiquei entusiasmado apesar de ter tirado habilitação há apenas seis meses e, com pouca experiência, não era, ainda, um motorista confiável.

Logo na primeira volta me entusiasmei com a oportunidade e julguei estar apto para enfrentar os profissionais mais experientes. Ao chegar à curva da Ferradura, estercei o volante em demasia, não consegui evitar que o carro saísse da pista e lutando para dominá-lo, o Gordini fez a curva equilibrando-se apenas sobre duas rodas. Por sorte, nada aconteceu. Só precisei de coragem para enfrentar os integrantes da equipe Willys, entre eles Luiz Pereira Bueno, considerado uma das lendas do automobilismo brasileiro, cujo carro precisou de nova suspensão depois da minha acrobacia em duas rodas.

Ponderado ao analisar um acidente, pela experiência acumulada de surpresas ao longo de sua carreira, com vitórias nas principais corridas brasileiras e internacionais, inclusive na Fórmula Ford e Fórmula 1, teve a elegância de me visitar no jornal e de me convidar para tomar um drink no bar do Hotel Jaraguá, onde, por sua sugestão, aprendi a beber Campari, aquela delícia de bebida alcoólica avermelhada.

Luizinho, como era tratado, sempre foi um piloto que se destacou. Ele era rápido, sabia acertar os carros e extrair o máximo de cada modelo, como fez com os Willys Interlagos, com os Porsche e até com o Maverick da Divisão 3 com motor preparado pelo argentino Oreste Berta.

Lembro de assistir com os meus filhos os treinos para o GP Brasil de Fórmula 1 de 1972 e da condução elegante e precisa do Luizinho na antiga curva do Laranja. Ele pilotava o monoposto de forma limpa, sem fazer força ou brigar com o volante, contornando o Laranja como se o raio de curva fosse perfeito, bem diferente de outros famosos pilotos internacionais que passavam balançando exageradamente os braços como se estivessem consertando a trajetória constantemente.

Luizinho começou sua carreira em 1958 e brilhou em provas de turismo no Brasil, com conquistas como a Mil Milhas Brasileiras, 24 Horas de Interlagos e teve seu ápice nos anos 1970, quando fundou e integrou, juntamente com Anísio Campos, a equipe Hollywood, que fez sucesso no País.

Tentando ampliar seus conhecimentos mecânicos, foi trabalhar na Willys, onde ajudou no desenvolvimento do Renault Alpine A-108 que, no Brasil, ficou famoso como Willys-Interlagos. Passou dois meses estagiando na França e na volta ao Brasil integrou o departamento de competições da marca.

Na famosa escuderia, guiou (juntamente com pilotos como José Carlos Pace, Chico Lameirão, Bird Clemente, Carol Figueiredo e Wilson Fittipaldi e Emerson Fittipaldi, entre outros) desde o sedã Gordini com motor de 850 cm3 até os Alpines A-110 e protótipos construídos na própria equipe. Participou de provas no Uruguai e, no Brasil, venceu, por duas vezes, os 500 Quilômetros de Interlagos, em 1966 e 1970. Em 1969, se aventurou na Fórmula Ford inglesa e, mesmo sem fazer todas as provas do campeonato, foi vice-campeão com seis vitórias e 11 poles.

A primeira participação na Fórmula 1 foi no GP Brasil de 1972, prova ainda não válida pelo Campeonato Mundial, e terminou na sexta posição, com um March-Ford. Na temporada seguinte, voltou a correr em casa, desta vez pela Surtees. Nas duas provas não contou com bons carros.

Luiz Pereira Bueno morreu no dia 8 de fevereiro de 2011, com 74 anos, vítima de um câncer no pulmão, em Atibaia, interior de São Paulo. Sempre estimado por muitos amigos, ao tomar conhecimento de sua doença, Reynaldo Mesanelli, que foi gerente de Relações Púbicas e de Vendas da Ford, conseguiu interná-lo no Hospital das Clínicas, com a ajuda de uma cunhada, mas o avanço da moléstia não permitiu a sua recuperação.

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Crédito das imagens: Terceiro Tempo Ambas/Arquivo pessoal/Revista Quatro Rodas/Crédito ao Autor da Imagem

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