KTM X-Bow GTR: Vai Encarar?
A Áustria, aquele país enfiado entre montanhas geladas na Europa Central, com apenas 83.879 km2 e 8.602,112 habitantes (a título de comparação, o estado do Paraná, por aqui, tem 199.307,922 km² e 11.163,018 habitantes) é um daqueles pequenos lugares que, volta e meia, nos brinda com obras de pura genialidade. Deve ser coisa da água ou do ar, só pode. Wolfgang Amadeus Mozart, Johann Strauss e Herbert von Karajan, na música, ou Siegfried Marcus, Josef Ressel, Ferdinand Porsche, Gaston Glock, na engenharia ou Niki Lauda, Jochen Rindt e Manfred Stohl na pilotagem, apenas para citar os mais conhecidos, nasceram e se criaram por lá. Nananina… não vou mencionar a encarnação do “lado negro da força”, porque sabemos que sempre aparece uma laranja podre no melhor dos pomares.
Duas cidades se destacam no cenário industrial austríaco. Uma é Steyr, situada na região do Upper Austria, com uma longa história como um centro de produção e deu seu nome a vários fabricantes sediados lá, como a Steyr Motors, AVL Commercial Driveline & Tractor Engineering, BMW Motors, Eckelt Glass GmbH, GFM Steyr GmbH, Hartlauer, MAN, NKE AUSTRIA GmbH, Profactor, SKF, Steyr-Mannlicher e ZF Steyr. A outra é Graz, capital da Styria, cidade natal de Nikola Tesla e Jochen Rindt, na região do Bundeslad, no sudeste austríaco. Em Graz você encontra a sede da Magna Steyr AG & Co KG, fabricante de automóveis subsidiária da canadense Magna International, ex-integrante conglomerado Steyr-Daimler-Puch, que desenvolveu o sistema 4Matic da Mercedes-Benz, fabrica o BMW X3, o Aston Martin Rapide, Audi TT, Fiat Bravo e Peugeot RCZ. Fica em Graz, também, a AVL, a maior empresa privada de sistemas de powertrain com motores de combustão interna e motores elétricos.
Para completar, é em Graz que fica a KTM-Sportmotorcycle AG, fabricante de motocicletas fundada em 1934 e oficializada em 1992 (a empresa foi dividida em quatro empresas, todas elas compartilhando a mesma marca, porém sendo a KTM-Sportmotorcycle o negócio principal de sua matriz), mundialmente conhecida pela excelência de suas motocicletas off-road, domínio iniciado em em 1937 quando Johann Trunkenpolz começou a vender motocicletas e carros DKW e Opel no em sua loja/oficina, a Kraftfahrzeug Trunkenpolz Mattighofen; terminada a 2ª Guerra Mundial, a demanda por consertos caiu drasticamente, e Trunkenpolz comeõu a produzir suas próprias motocicletas, estreando no mercado com o modelo R100 com motor Rotax da marca Fichtel & Sachs. Nos últimos anos, a KTM expandiu sua produção para motos de rua e, em 2008, estreou no segmento dos automóveis, com seu revolucionário esportivo KTM X-Bow, motivo desta matéria e de toda essa história!
O KTM X-Bow (pronuncia-se Crossbol) é, desde seu lançamento em 2008 – e lá se vão longos 7 anos – até os dias atuais, a única projeção de luz sobre um setor que parece relegado às sombras: o design. Diferentemente de tudo o que se move por meio de um motor, o KTM X-Bow tem personalidade, traços únicos, agressividade em harmonia com a mais fina e avançada tecnologia e não se parece com uma fusão de partes de Porsche, Ferrari, Lamborghini, Corvette e outros. Não há como se confundir ao se olhar; a qualquer distância, de qualquer ângulo, sabe-se de imediato que aquele carro “diferente” que está ali parado é um KTM X-Bow e, se gosta de carros esportivos recheados de requinte, potência e segurança, vai querer conferir tudo isso mais de perto o primeiro veículo com quatro rodas da marca austríaca.
Mostrando que “não é besta” nem se considera a inventora da roda, a KTM uniu-se a Kiska Design (estúdio de Gerald Kiska sediado em Salzburg) para a criação do design completo do carro, a italiana Dallara Automobili (empresa de Gian Paolo Dallara, mundialmente conhecida por seus excelentes carros de Fórmula e Protótipos de corridas) para cuidar do projeto e desenvolvimento do chassi e a alemã Audi AG (essa dispensa apresentações!) para a utilização do trem de força 2,0 litros turbo da montadora de Ingolstadt. Não podia dar errado!
Uma das imensas diferenças que a tecnologia atual permite aos designers – e daí minha eterna reclamação como setor, que parece letárgico ou preguiçoso mesmo – é a maneira como tudo se é estudado, analisado, corrigido e melhorado antes que qualquer parafuso seja apertado em um protótipo real; alie-se a essa tecnologia virtual o desenvolvimento e aplicação de novos materiais e compostos, que permitem a criação de peças e componentes em qualquer forma aparentemente impossível, com toda resistência, rigidez e flexibilidade que se precise, e teremos um carro absolutamente fantástico como resultado final, basta querer. E a KTM quis! Nada no X-Bow lembra qualquer outro automóvel, tudo foi desenvolvido especificamente para o esportivo, e sua construção é uma coreografia perfeita, afinal o carro é praticamente todo fabricado e montado à mão (um volume de aproximadamente 1.000 unidades por ano) numa linha de montagem ao lado das linhas das motocicletas da marca (a linha de montagem teve de dobrar sua produção, devido a demanda, e está de mudança para uma nova unidade fabril próxima a sede da empresa).
O trem-de-força do KTM X-Bow é o consagrado motor Audi EA888 R4 16V TFSI, quatro cilindros em linha, 2,0 litros, injeção direta de combustível, turbocompressor, com 237 Cv de potência máxima a 5.500 Rpm, traseiro-central, acoplado a uma transmissão manual Borg&Werner de 6 velocidades e tração traseira. Com essa configuração, o KTM X-Bow com seus 2.430mm de distância entre-eixos, 3.780mm de comprimento, 1.915mm de largura, 1.202mm de altura e míseros 790 kg de peso atinge os 100 km/h em 3,9 segundos e tem sua velocidade máxima em 217 km/h. Se você acha isso muito pouco (!), existe a versão GT, onde o motor recebeu um upgrade, sua potência foi elevada para 300 Cv e a velocidade máxima para 230 km/h. Interessante notar o foco da KTM no que se pode chamar de conjunto da obra; como o X-Bow nasceu do zero e não copia absolutamente nada de nenhum outro esportivo, a montadora austríaca poderia tê-lo dotado com o motor que bem entendesse, com a potência que desse na telha, bem ao estilo de tantos outros fabricantes de esportivos por aí, mas com esse peso absurdamente baixo o carro seria o que a gíria brasileira chama de “Mata-Doido”.
A própria Audi produz o primoroso 2.5 R5 20V TFSI, cinco cilindros em linha, 2,5 litros, injeção direta de combustível, turbocompressor, com 367 Cv de potência máxima, que leva seu modelo RS3 Sportback, com 1.520 kg de peso (730 kg a mais do que o KTM), a fazer de 0 a 100 km/h em 4,3 segundos e uma velocidade máxima de 280 km/h. O tamanho e o peso dos dois tipos de motores são muito próximos, então não seria nenhum problema utilizá-lo. Mas que iria conseguir manter o X-Bow no chão com tamanha potência? Calçado com rodas e pneus 235/40 ZR18 na traseira e 205/45 ZR17 na dianteira, e freios Brembo com 305mm na dianteira e 265mm na traseira, O KTM X-Bow tem seu preço iniciando em €72.500,00, em torno de R$ 322.630,00 na cotação de hoje, quando € 1,00 vale R$ 4,45 (obrigado, Dilma Vana Rousseff por esse absurdo).
Mas… não acabou! Quando eu disse la no começo que o X-Bow era o motivo dessa matéria, eu te enganei, caro leitor; o motivo real da matéria é apresentar o KTM X-Bow GT4, o “filho” mais novo, deslumbrante e potente da montadora austríaca!
Após algumas aventuras no campeonato FIA GT, pela divisão GT4 em 2008, onde o KTM X-Bow preparado pela equipe Reiter Engineering garantiu um pódio na etapa de Nogaro e a pole-position na etapa de Monza, venceu a categoria Supersports do Campeonato Britânico GT em 2009 e levaram o caneco do FIA GT4 em 2011, o caminho do mundo das competições estava aberto e tinha de ser suprido.
Então, em conjunto com a já parceira Reiter Engineering GmbH & Co KG, a KTM Sportcar GmbH se tornou uma realidade, e está chegando seu modelo com teto rídigo KTM X-Bow GTR para a categoria GT4, com motorização Audi EA888 R4 16V TFSI com 340 Cv de potência máxima, dentro dos regulamentos exigidos para o Blancpain Series, a um preço médio de €139.000,00.
Por estar em perfeita conformidade com os regulamentos técnicos do principal campeonato de Endurance do mundo, maior e mais organizado do que o FIA WEC, o KTM X-Bow GTR é um carro pronto para disputar qualquer campeonato – e, acreditem, brasileiros, os campeonatos de Resistência são extremamente populares e disputados em países como Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Japão e Austrália, entre os regionais, e os mundiais Blancpain e WEC, com investimento pesado de montadoras e equipes, cenário perfeito para uma montadora independente desafiar as gigantes da indústria!