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Indústria Automotiva: De onde venho, pra onde vou?

Fotos: Renato Pereira

 

Assim como acontece com qualquer outro produto, tem quem se importe e tem quem não se importe com relação a sua origem, tem quem pense que um veículo fabricado no país X é bom e o mesmo veículo fabricado no país Y não presta, sendo preconceito ou não; um preconceito que, convenhamos, não nasceu espontaneamente, afinal existem alguns países que se notabilizaram pelo gigantesco volume de falsificações baratas de tudo o que se produz no mundo, e agora tem de conviver com a fama. Com o sucateamento de diversos pátios automotivos no mundo e a criação de outros tantos, além da curiosidade pura e simples, realmente é mais difícil poder-se afirmar com precisão a origem de um modelo sem consultar a seção WMI da numeração do chassi. Pode parecer absurdamente irrelevante ter-se a confirmação do país de origem de um veículo, mas em alguns casos faz bastante diferença, principalmente no momento da manutenção ou revenda.

As diferenças encontradas são basicamente em função de as legislações europeias diferirem das legislações norte-americanas, que divergem das legislações asiáticas, que diferem das legislações sul-americanas. Logo, um mesmo modelo montado na Alemanha, Estados Unidos, China e Brasil são, digamos… iguais mas diferentes. Essas diferenças podem ser aplicadas nas linhas de montagem quando se trata de um lote para exportação, ou já diretamente nas linhas das montadoras em cada Continente. Potência declarada, nível de emissões, acabamento, itens obrigatórios de segurança ativa e passiva e de conforto variam muito e, por exemplo, a diferença entre um veículo made in Brazil para consumo interno e o mesmo veículo para exportação enche várias páginas de itens a mais.

Quando o então Presidente Fernando Collor nos brindou com a descoberta de que os veículos aqui fabricados estavam pouco além de carroças muito antigas movidas a cavalos pangarés, se comparados a qualquer outro país civilizado (como exemplo, enquanto nos deslumbrávamos com a chegada dos Ford Escort Mark III 1.6 litros e 78 Cv de potência, na Europa era lançado o Ford Escort Mark V 2.0 litros e 136 Cv a 156 Cv) e liberou as importações, a bagunça, como sempre, foi generalizada. Foi um festival de lojistas e particulares endinheirados importando veículos de tudo que é canto do planeta, comprando e vendendo gato por lebre, classificando os veículos da maneira mais barata para importar, usados vendidos como 0/km, enfim… a bandalheira inicial acabou por assustar o consumidor que, inteligentemente, passou a procurar seus objetos de desejo nas importações oficiais e encerrou-se um ciclo onde muita BMW 330 Motorsport foi vendida como M3, e muita M3 “americana”, menos potente, foi vendida como “alemã”, muito mais potente, e por aí vai…

Isso aconteceu porque o conhecimento geral a respeito da indústria automotiva era bem reduzido; haviam marcas e mais marcas que simplesmente a imensa maioria dos brasileiros desconheciam por completo. O desdobramento dos pátios industriais das montadoras, então, até hoje causam impacto, pois soa estranho ainda ouvir que países que acreditávamos estar na Idade Média industrial, como a Índia, por exemplo, estejam anos-luz à nossa frente nesse setor. Esta matéria não pretende focar este assunto, pauta para outro dia; mas é de certa forma interligada, uma vez que mostrará exatamente a origem possível da maioria dos veículos oferecidos, independente de sabermos (?) que a sede da marca fica neste ou naquele país de onde pensamos que foi importado. Vamos ver como podemos saber, antes da compra, qual a real “naturalidade” de um veículo?

A menos que o veículo seja um legítimo “cabritão” e aí não vai adiantar nada, o lugar correto e imediato para informar tudo sobre sua vida é a numeração do chassi. Entende-se como numeração de chassi a combinação de caracteres alfanuméricos que identificam um veículo a motor, gravados no chassi, em plaquetas afixadas na carroceria e impressos nos vidros e documentos, conhecida internacionalmente como VIN (Vehicle Identification Number, Número de Identificação do Veículo). Essa numeração conta toda a história do veículo, e é possível saber-se até a hora em que saiu da linha de montagem; não, não chegaremos a tanto por aqui. Iremos nos ater apenas no idioma falado no pátio da linha de montagem! Porém, se eu fosse você, caro leitor, na hora da compra de um veículo 0/km, pediria ao vendedor que lhe mostrasse todo o VIN; assim você saberá o que o veículo tem de equipamentos de série e o que são acessórios “de verdade”. É muito, mas muito comum te convencerem que aquela unidade, em especial, está equipada com rodas isso, vidros aquilo e acabamentos aquilo outro, te cobrarem muito a mais por isso alegando serem opcionais quando, na verdade, a unidade pertence a um grupo onde tudo isso faz parte do veículo, e só na hora da revenda você descobrirá que foi enrolado. O contrário também acontece, e podem te “empurrar” um veículo sem diversos itens pelo mesmo preço de um veículo completo. As concessionárias irão me odiar por contar esse “segredinho”, mas nossa função, como formadores de opinião, é informar ao consumidor o que ninguém quer que ele saiba…

O VIN é composto por 17 dígitos divididos em três seções, sendo:

1 – A primeira seção é a WMI (Word Manufacturer Identifier, Identificador Internacional do Fabricante). Código designado a um fabricante de veículos a fim de permitir a sua identificação.

2 – A segunda seção é a VDS (Vehicle Descriptor Section, Seção Descritiva do Veículo). Código que fornece informações sobre as características gerais do veículo (número de portas, tipo de motor, tração, cor, etc.).

3 – A terceira é a VIS (Vehicle Indicator Section, Seção Indicadora do Veículo). Código constituído de uma combinação de caracteres designada pelo fabricante para distinguir um veículo do outro (ano-modelo ou o ano de fabricação do veículo, bem como o local onde foi fabricado e o número sequencial de montagem).

É a primeira seção, a WMI, que se deve consultar quando se tem dúvidas quanto a origem do veículo. Esta seção é composta por três dígitos, que indicam:

Primeiro Digito – Identifica o Continente de origem – conforme a necessidade, mais de um caractere pode ser designado para uma mesma área geográfica. No Brasil é preenchido pelo número 9, indicando que o fabricante é da região sul do continente americano.

Segundo Digito – Identifica o país de origem dentro do Continente.

Terceiro Digito – Identifica o fabricante dentro do país. Conforme necessidade, mais de um caractere pode ser designado para um mesmo país. Logo, a combinação dos Dois Primeiros Dígitos determinam com exatidão a origem do veículo, independente do país-sede de seu fabricante. Os caracteres vão de A a Z, porém não podem ser utilizados os caracteres I, O e Q; os dígitos vão de 1 a 0. Vamos a alguns exemplos práticos: 8 + A, B, C, D ou E é Argentina; se for 8 + F, G, H, J ou K é Chile;  9 + A, B, C, D ou E e/ou 3 a 9 é Brasil, 9 + F, G, H, J, K é Colômbia, 1 + A a Z e/ou 1 a 0 é Estados Unidos, L + A a Z e/ou 1 a 9 é China, W + A a Z e/ou 1 a 9 é Alemanha e assim por diante. Complicado? Bem, podemos ajudar. Fizemos as combinações de Continentes e Países produtores, organizadas aqui em ordem alfabética, para que você possa conferir com calma e segurança se o carro de seus sonhos não será seu pesadelo, caso seja um purista. Mas lembre-se: o fato de alguns veículos serem produzidos em países com fama de “pirateadores” está longe de ser sinônimo de que esses veículos sejam ruins!

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