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Honda Civic Type R, O Retorno!

Fotos: Divulgação / Renato Pereira

Não é só de versões esportivas de modelos de série nativos que vivem os europeus e norte-americanos. Ao contrário (mas pouco sabido por aqui…), os japoneses há muito conhecem o imenso mercado que versões apimentadas de seus normalmente pacatos (e por vezes insonsos) modelos podem abocanhar, e não tem o menor pudor em criar verdadeiros foguetes sobre rodas para derrotar os concorrentes em seus próprios territórios. Como o Civic Type R, por exemplo, modelo de entrada no mercado que a Honda transforma em um bólido prontinho para as pistas de corridas. Mas não para nós, não se empolgue.

O Honda Civic foi lançado em 1972 como um modelo sub-compacto, inicialmente com duas portas, uma versão hatchback 3 portas, e, posteriormente, cresceu e foi re-alocado como compacto ao longo de tantos anos, situando-se basicamente entre os modelos Fit e Accord. Com seu motor de 1.169cc dianteiro, transversal, e um bom espaço interior, rapidamente angariou a fama de confiável e resistente em todas as versões (entre estas as esportivas VTi, GTi, CR-X, Si e Type R) até as versões atuais já em sua 9ª geração, com motores 1.2, 1.3, 1.4, 1.5, 1.6, 1.7 e os atuais 1.8 e 2.0 litros. Comercializado no Brasil desde 1992, e aqui produzido a partir de 1997, disputa a liderança do mercado com a arqui-rival Toyota e seu Corolla e Nissan com o Sentra (erroneamente classificados em nosso mercado como sedans médios, já que, mundialmente, os três modelos pertencem as categorias Compact Car e Small Family Car) nas versões 1.8 LXS, 2.0 LXR e EXR e 2.4 Si.

Para fazer frente aos poderosos Vauxhall (General Motors Europe) Astra VXR (280 Cv), Ford (Ford Europe) Focus ST (250 Cv), Volkswagen Golf GTi R (300 Cv) e Renault Megane RS (265 Cv), que vem sacudindo o mercado europeu com tanta potência em seus Hatchback tração dianteira (e o único que veremos por aqui, a um preço médio de R$ 130.000,00, é o Renault Megane RS…), a Honda se mexeu. E se mexeu com vontade, após cinco anos de total inércia, com o lançamento, finalmente, da 4ª Geração do compacto Civic Type R, prometendo revolucionar o segmento e deixar ingleses, alemães e franceses com cara de bobo.

1ª Geração – Type R EK9 – 1997 a 2000

O primeiro Type R, versão de mais alta performance do civilizado Civic foi lançada em 1997, com base na 6ª geração (EK) do modelo convencional, com novas suspensões e o motor B16B, um quatro cilindros em linha 1.6 litros, aspirado, com absurdos (para a época) 185 Cv de potência, bastante eletrônica embarcada, body-kit e detalhes de acabamento interior esportivos. O sucesso foi tamanho que levou a Honda a já repaginar o modelo após 3 anos.

2ª Geração – Type R EP3 – 2001 a 2005

Fabricada em Swindon, Inglaterra, a nova geração do Type R hatchback 3 portas EDM (European Domestic Market) recebeu motorização K20A 2,0 litros i-VTEC DOHC com 200 Cv de potência máxima e transmissão manual de 6 velocidades, enquanto a série JDM (Japan Domestic Market) exportada da Inglaterra para o Japão era um pouco mais forte, extraindo 212 Cv de potência do mesmo motor quatro cilindros em linha K20A, que era construído no Japão e exportado para a Inglaterra… suas velocidades máximas? 180 km/h para a versão européia, 235 km/h para a versão japonesa. É, faziam diferença esses 12 cavalinhos!

3ª Geração – Type R FD2 e FN2 – 2007 a 2010

A 8ª Geração do Civic convencional foi a base do novo Type R em sua 3ª fase, novamente com variações para atender as leis japonesas e européias, sendo a FD2 JDM para o Japão e a FN2 EDM para o mercado europeu. Foi também quando surgiu a versão sedan 4 portas do JDM, um carro maior, mais largo e mais pesado, com maior distância entre eixos e 222 Cv de potência para o Japão e 198 Cv de potência para a Europa, extraidos do motor base quatro cilindros 2,0 litros K20A i-VETC DOHC do Accord Euro-R (CL7) europeu. A época era das inovações eletrônicas, e a Geração 3 do Civic R não ficou devendo em nada, pegando emprestada muita tecnologia do torpedo NSX. Externamente e nos acabamentos interiores, os apelos esportivos são amplamente empregados, com o visual diferindo bastante do civilizado Civic para seu irmão bad boy. Em 2010, um pequeno face lift e um retrabalho dos motores (225 Cv para o Japão e 201 Cv para a Europa) encerraram a produção do modelo, em função das novas leis de emissões.

4ª Geração – Type R FK2 – 2015

Foram cinco anos de estudos, projetos e preparações para que a Honda tirasse do forno sua mais nova criação. E valeu a pena esperar (quer dizer, isso vale apenas para os felizes humanos que podem ter acesso as maravilhas da tecnologia moderna…)!

Baseado no chassi FK2 da 10ª geração do Civic convencional, a ser lançado em 2016, o novo Type R quer “chegar-chegando” com o novíssimo motor 4 cilindros em linha, 2,0 litros i-VTEC DOHC, Injeção Direta de Combustível, Turbo que leva o carro à velocidade máxima de 270 km/h, o que o coloca entre os mais potentes hatchback esportivos com tração dianteira do mundo.

Totalmente novo, este motor promete. É sempre um mistério entender de onde os japoneses conseguem extrair tanta potência de unidades tão… digamos… pequenas. Tudo bem, a tecnologia está aí avançando a passos largos, empregam-se novos materiais, criam-se novas arquiteturas mas, tirar 310 Cv de potência a 6.500 Rpm e um torque de 400 Nm a partir de 2.500 Rpm, de um motor com quatro cilindros em linha feito para ter longa vida útil, é de se elogiar. Não se trata de um carro de corridas, que pode quebrar motores e trocá-los simplesmente, trata-se de um carro “de rua” que não deve quebrar; logo, fica-se a certeza de que se pode tirar muito, muitos mais do que a potência liberada pela fábrica. Vamos entender um pouco mais esse motor.

i-VETEC é o acrônimo intelligent Variable Valve Timing and Lift Eletronic Control, ou Controle Variável de Tempo de Abertura das Válvulas Inteligente, consagrado sistema desenvolvido pela Honda no início dos anos 2000,  que basicamente controla o tempo e levante dos comandos de válvulas, dependendo das rotações do motor, mantendo as válvulas abertas por menos tempo em giros baixos e mais tempo em giros altos, atingindo assim a máxima eficiência possível do combustível. Aliado a esse sistema está o Dual-VTC, ou Dual-Variable Timing Control, Controle Duplo de Variação do Tempo das Válvulas, que garante a melhor resposta possível em regimes baixos de giros e mantém a aceleração continua ininterruptamente. Tem mais uma sigla aí, a EGR, ou Exhaust Gas Recirculation, Recirculação dos Gases de Escape, atuando tanto nas válvulas de admissão quanto de escape, acionadas pelo sistema DOHC, ou Double Over Head Camshaft, Comando de Válvulas Duplo no Cabeçote. Para completar, o sistema de turbocompressor monoscroll – compacto, com uma única entrada dos gases queimados, que permite maior velocidade da saída dos gases de escape – empregado, normalmente utilizado em motores de 3 cilindros, são as estrelas do que a Honda vem desenvolvendo e que batizou como geração Earth Dreams Technology de motores. O sistema de injeção direta de combustível, com aumento de 45% da pressão da injeção sobre o sistema convencional, através de uma bomba que empurra a mistura diretamente na cabeça dos cilindros, já é largamente empregado em motores de última geração, e logicamente está presente no novo motor, acionado, logicamente, pelo Drive-by-Wire, aquele sistema de controle eletrônico que administra acelerador, freio e direção dos carros modernos de alta performance. Acoplado ao motor está um câmbio manual de seis marchas, quando se esperava no mínimo um câmbio seqüencial ou com acionamento por paddle shift. Sempre tem alguma coisa faltando que ninguém entende a ausência, não?

De qualquer forma, este conjunto mecânico é capaz de levar o Civic Type R FK2 de 0 a 100 km/h em 5,7 segundos e atingir a velocidade máxima de 270 Km/h.

Para não deixar dúvidas a respeito do que veio fazer em terras européias, a Honda levou uma unidade do novo Type R ao autódromo de Nürburgring, Alemanha, onde o Renault Megane RS Trophy-R havia cravado o recorde de 11:50s para percorrer o traçado antigo do circuito, com 22 quilômetros de extensão para um hatchback 4 cilindros tração dianteira, recorde esse pulverizado pelo Bad Boy japonês, que fez o mesmo percurso em 7:50s, quatro segundos a menos do que o rival francês.

Claro que nem só de motor se faz um carro, e não adianta nada dotar um modelo ruim com uma usina de força, porque dará tudo errado. Então, a Honda desenvolveu um sistema de amortecimento adaptativo com quatro níveis, suspensões dianteira e traseira melhoradas, direção de duplo pinhão EPS, ou Eletric Power Steering, Direção com Assistência Elétrica re-calibrada e freios a disco Brembo, com discos perfurados de 350mm e pinças de quatro pistões nas quatro rodas. O novo botão +R marca sua estréia no Type R, que, ao ser acionado, aumenta a velocidade de resposta de diversos sistemas do chassi e do powertrain. O sistema de informação e entretenimento Honda Connect é de série no Type R, proporcionando conforto e conectividade ao volante. Fácil e intuitivo, o sistema funciona com o popular Android e emprega as já familiares funcionalidades de “pinças, arraste e toque” de um smartphone para acessar seus recursos. A central multimídia Honda Connect oferece fácil acesso aos ocupantes dos assentos dianteiros, incluindo desde informações do veículo, câmera de ré e sistema de áudio até conectividade Bluetooth. As funcionalidades incluem: acesso à internet, aplicativos pré-instalados, Honda App Centre, AM/FM/DAB e rádio via internet, interface para o telefone e conectividade Bluetooth, além de controles no volante e câmera de ré com orientações dinâmicas. O conjunto de áudio conta com seis alto-falantes de 180 watts.

Esteticamente o novo Civic Type R conta com um kit aerodinâmico composto por pára-choques esportivos, mini-saias laterais, um enorme difusor traseiro que abriga as quatro ponteiras cromadas de escape, uma asa traseira de grandes dimensões (o que estraga um pouco o design do carro em minha opinião), lanternas e faróis com aplicação de Leds e rodas em liga leve de 19 polegadas calçadas em pneus 235/35 ZR19. Internamente, bancos esportivos em camurça com costuras vermelhas, volante esportivo em couro, manopla da alavanca de câmbio em alumínio e uma grande variedade de equipamentos sobre as versões civilizadas. Com início de comercialização para o começo do mês de julho, o Civic Type R 2015 custará €40.000, em torno de R$ 125.000,00 lá na Europa. Com todas as taxas, transporte e mais um monte de contas que ninguém sabe explicar de onde aparecem, não seria vendido aqui por menos de R$ 350.000,00. É… melhor ficar lá, onde o governo é sério.

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