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Era de gigantes!

Fotos: Divulgação

O ano era 1967. O mundo andava eufórico, por algum motivo inexplicável, nesse final dos loucos anos 1960. Por aqui, os acontecimentos mais importantes do ano foram a promulgação da 6ª Constituição brasileira em janeiro, a imposição da censura na imprensa em fevereiro, mesmo mês que nossa moeda mudou novamente, passando a ser chamada Cruzeiro Novo, o Marechal Costa e Silva assumiu a Presidência da República em março e nasceram a cantora Marisa Monte em julho, eu (!) em agosto e o jogador Palinha em dezembro.

Pelo mundo afora poucas coisas memoráveis aconteceram, como a Guerra dos Seis Dias no Oriente Médio; a morte do terrorista Che Guevara; o incêndio no foguete Apolo 1, que vitimou os astronautas Ed White, Virgil Grissom e Roger Chafee; a morte do astronauta russo Vladimir Komarov durante um voo da Soyuz-1; na cidade do Cabo, África do Sul, o cirurgião Christian Barnard e a sua equipe realizou com êxito o primeiro transplante de um coração humano e chegou a pílula anticoncepcional, que desencadeou a revolução sexual. Mas poucas pessoas sabem ou se recordam de qualquer um desses fatos, porque o acontecimento mais importante do ano, que superou o lançamento do álbum Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, foi a chegada dos novos e monumentais cupês da Cadillac, Chrysler e Lincoln!

Brincadeiras à parte, enquanto na Europa se fazia de tudo para criar e produzir carros pequenos, a Ásia era absolutamente desconhecida no setor e o Brasil montava modelos DKW Vemag, Simca, Volkswagen e Willys-Overland, os Estados Unidos seguiam o caminho diametralmente oposto, e não, com as “Três Grandes” de Detroit não existia a história de carros hatchback compactos com motores 4 cilindros de poucos litros, o negócio deles eram os cupês e sedans com dimensões intergaláticas e gigantescos motores V8. Por ordem alfabética, vamos dar uma olhada na história do Cadillac de Ville, Chrysler Imperial e Lincoln Continental, os três principais cupês que disputavam palmo a palmo o mercado norte-americano e matavam de inveja os amantes dos carros luxuosos, confortáveis e potentes no restante do mundo?

Inicialmente, a designação Cupê (Coupé é a grafia correta) se refere a automóveis de teto fixo, 2 portas, para 2 ocupantes ou, em alguns casos, o chamado 2+2, quando duas pessoas ocupam confortavelmente a dianteira e duas se espremem na traseira; então, a diferenciação entre o cupê e o sedan 2 portas está no menor espaço atrás dos bancos traseiros. Hoje, essa diferenciação deixou por completo de ser baseada na engenharia e está inteiramente à disposição dos departamentos de marketing das montadoras, que adotaram o sistema de classificar suas carrocerias como bem entendem, e está cheio de cupês 4 portas, hatchbacks e station wagons classificados como cupê. Porém, houve uma época em que as coisas eram mais sérias, tudo era bem definido, e a imensa maioria dos modelos norte-americanos eram normalmente oferecidos nas versões cupê, sedan, conversível e station wagon.

Cadillac Coupe de Ville
Inicialmente empregado para designar um nível de acabamento e, em 1949 passando a denominar todo um modelo da Cadillac, divisão de luxo da General Motors, o nome “De Ville” vem do francês “de la ville”, que significa “da cidade”, uma vez que para os franceses um coupé era uma carruagem pequena, curta, para dois ocupantes e, portanto, ideal para ser usada na cidade, ou seja, o nome não tem nada a ver com o carro, mas é bonito.

O primeiro Cadillac Coupe de Ville foi construído sobre o chassi do Cadillac Série 62, e contou com um imenso pacote de itens de luxo (incluindo-se vidros e bancos com acionamento elétricos) e toneladas de metal cromado, lançado em 1949 junto com os modelos Buick Roadmaster Riviera e Oldsmobile 98 Holiday, outras duas divisões de luxo da General Motors.

Dado seu sucesso de vendas ao longo dos anos e após algumas modernizações, em 1967 o Cadillac Coupé  De Ville chegou em sua terceira geração e foi amplamente reestilizado. A ideia do designr Bill Mitchell era criar uma aparência poderosa, e isso foi facilmente conseguido com a inclinação negativa na dianteira, os faróis sobrepostos, a gigantesca grade, o mais gigantesco ainda parachoques, as linhas laterais esculpidas aumentando ainda mais a sensação de dimensões navais que seus 5,70 metros de comprimento sugeriam.

Espelhos retrovisores não-ofuscantes, relógio elétrico, ar condicionado automático, painel acolchoado, alarmes de perigo, cintos de segurança retráteis e isqueiros traseiros eram alguns dos itens de série do modelo. Seu trem de força era um motor V8 429 de 7,0 litros, acolpado a uma transmissão TH400 automática de 3 velocidades.

Chrysler Imperial

A série Imperial foi lançada pela Chrysler Corporation em 1955, durou até 1975 e, posteriormente, teve uma breve reaparição entre 1981-1983. Usado desde 1926, mas nunca como um modelo específico, a denominação Imperial era apenas a designação de um Chrysler mais luxuoso. Em 1955, a empresa decidiu estabelecer o modelo Imperial como uma identidade própria, e criou uma divisão específica para poder competir com seus rivais Cadillac e Lincoln. Chega o ano de 1967, e a terceira geração do Chrysler Imperial é inteiramente renovada, partindo-se da plataforma, que passou a ser compartilhada com demais modelos da Chrysler, unicamente por economia, deixando claro que apesar das aparências de riqueza ilimitada, os Estados Unidos estavam com sérios problemas financeiros causados, em grande parte, pela estúpida ação na guerra no Vietnam.

A nova plataforma resultou numa redução significativa do peso, porém quase nada nas dimensões exteriores e interiores. O designer Virgil Exner manteve as linhas gerais da versão anterior, mas houveram muitas mudanças nos detalhes, buscando diferenciá-lo ainda mais dos Lincoln, eliminando inclusive a protuberância do estepe da parte traseira. Uma opção criada para o Coupé Imperial 1967 foi o Director Mobile. Basicamente, o banco bi-partido dianteiro do poderia virar-se para trás, e uma pequena mesa e luz de alta intensidade faziam as vezes de um pequeno escritório, equipado com telefone, gravador, máquina de escrever, televisão, luz de leitura e aparelho de som! Para carregar tudo isso, um motor V8 440 com 7,2 litros, acoplado a uma transmissão Torque Flite A727 de 3 marchas, automática.

Lincoln Continental Coupé

Continental foi a denominação de um modelo de alto luxo produzido pela divisão Lincoln da Ford Motor Company entre 1939-1948, voltou entre 1956-1980 e, posteriormente, entre 1981 a 2002. Apesar de muitas vezes compartilhando plataformas com modelos menos caros nos anos mais recentes, o Lincoln Continental normalmente era um carro de luxo altamente equipado e com estilo próprio.

O primeiro Lincoln Continental foi desenvolvido em 1938 como veículo pessoal e exclusivo de Edsel Ford, embora todos acreditem que ele planejou o tempo todo colocar o modelo em produção em série, caso fosse bem-sucedido. O design não passou de um Lincoln-Zephyr modificado, um elegante conversível com motor V12, longas paralamas dianteiros, e um “tronco” curto, que se tornou a marca registrada dos Continental. Quando comparado a outros carros americanos da época, parecia longo e baixo, com linhas elegantes e limpas. Lógico que deu certo, fez sucesso e virou modelo de série.

Para fazer frente ao Cadillac e ao Imperial, a Lincoln entrou em 1967 com a quarta geração de seu Continental, desenhada por Elwood Engel, com dimensões ainda maiores do que as do modelo anterior. Faróis inclinados, uma grade monumental, linhas limpas nas laterais e traseira mantiveram o modelo quase idêntico ao anterior no geral, porém a versão teto rígido com duas portas foi o primeiro Lincoln Continental Coupé nesta configuração desde 1960. Sua motorização era um Ford MEL V8 de 7,6 litros, acoplado a uma transmissão C6 de 3 marchas, automática.

Abaixo, uma pequena ficha técnica dos 3 gigantescos modelos que dominaram o mercado dos Coupé 2 portas de alto luxo nos Estados Unidos, em 1967! 

Cadillac Coupé De Ville 1967                 Chrysler Imperial 1967                  Lincoln Continental

Série: Third Generation                 Série: Third Generation                 Série: Fourth Generation

Projetista: Bill Mitchell                    Projetista: Virgil Exner                   Projetista: Elwood Engel

Carroceria: Teto rígido, 2 portas   Carroceria: Teto rígido, 2 portas   Carroceria: Teto rígido, 2 portas

Motor: GM 429 V8 7.0                    Motor: Chrysler 440B V8 7.2                    Motor: Ford MEL V8, 7.6

Transmissão: TH400, Automática           Transmissão:A727, Automática   Transmissão: C6, Automática

Entre-eixos: 3,289mm                    Entre-eixos: 3,226mm                    Entre-eixos: 3.200mm

Comprimento: 5,707mm                Comprimento: 5,700mm                Comprimento: 5,611mm

Largura: 2,029mm                          Largura: 2,022mm                          Largura: 2,024mm

Altura: 1,412mm                              Altura: 1,440mm                              Altura: 1,397mm

Para os saudosistas, a boa notícia é que se pode adquirir, ainda hoje, exemplares dos 3 modelos, bem como dos demais concorrentes, totalmente restaurados ou, o que é mais excitante, prontos para serem desmontados e reconstruídos, e o Brasil conta com excelentes estruturas profissionais tanto para a importação quanto para os serviços a serem executados!

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