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Encontro confirma o baixo interesse do Brasil por carros elétricos

Foto: Divulgação

O 9º Congresso Latino Americano de Veículo Elétrico, ocorrido no Expo Center Norte, em São Paulo, entre os dias 10 e 12 de Setembro de 2013, não trouxe grandes novidades para o setor da mobilidade elétrica brasileira.

Na verdade, o que se ouviu por lá, os especialistas do setor já sabiam: “O Brasil revela baixo interesse pelo VE, e está longe de ser mercado referência no segmento de mobilidade elétrica”.

Nunca é demais enfatizar, que a implementação bem sucedida de novos produtos, depende do governo, empresariado e sociedade. O estado tem importância ressaltada, já que além de ser o disciplinador do assunto, é um grande consumidor. Portanto, se o governo não regulamentar e não comprar o produto, nada acontece. E é justamente isso que está ocorrendo com os veículos elétricos no Brasil: simplesmente, não acontece!

Quando questionado, o empresariado se defende, alegando que sem apoio governamental não há condições adequadas para competir, e cumprir com o princípio básico das organizações, que é lucrar. Em síntese, o governo deseja que a indústria desenvolva o VE, e a coloque no mercado. Posição até razoável, desde que reconhecesse a necessidade de desonerar os esforços no período de desenvolvimento, e disponibilizar recursos adequados. No entanto, o Brasil faz exatamente o contrário: sobretaxa o setor, afasta os investidores e impede a criação de novos empregos.

Que ninguém se iluda, o empresário de qualquer lugar do mundo quer é ganhar dinheiro, e não há nada de errado nisso. Afinal de contas, esse é o princípio básico de qualquer organização com fins lucrativos. Também, não devemos generalizar, imaginando que todos são empreendedores de refinada visão estratégica, e arrojados nas decisões de investimento.

Por exemplo, a minha experiência corporativa de quatro décadas, revela que existem dois tipos predominantes de empreendedores: o empresário e o  “represário. Diante de projeto  inovador, ambos fazem a mesma pergunta: “quem já fez isso”? A diferença é que o empresário quer saber se ele será o primeiro a investir e ganhar dinheiro, já o “represário” quer saber se a ideia já foi testada, bem sucedida, e se é seguro apostar.

Já a sociedade deseja e merece contar com produtos e serviços de ponta. Nenhuma classe deseja ficar defasada em relação a outra. As pessoas, não deveriam ter que viajar a outros países para comprar produtos mais modernos, e mais em conta do que os produzidos pela indústria nacional. Quando isso ocorre, fica claro que algo está errado, e precisa ser corrigido.

Algumas novidades do encontro:

O vice-presidente da ANFAVEA, Antônio Calcagnotto, que também é diretor de relações institucionais e governamentais da Renault-Nissan no Brasil, assinalou que o País é um dos mais atrasados nas medidas para incentivar veículos elétricos e híbridos. Segundo ele, a maioria dos países da América do Sul tem desonerado os VEs de impostos, além de adota-los nas frotas oficiais.

Com relação a autonomia e ao tempo de recarga dos veículos elétricos, Calcanhoto minimizou lembrando que “No veículo a combustão, ninguém roda até acabar o combustível do tanque. O mesmo ocorre com os carros elétricos: as pessoas começam a recarga, com alguma carga”, tornando assim o processo de reabastecimento mais rápido do que se imagina.

Já no que concerne ao aumento de consumo de energia, caso houvesse expressivo crescimento de VEs no Brasil, Celso Novais, Assessor de Mobilidade Elétrica e Sustentável da Binacional, disse que recente estudo em Itaipu, revelou que o consumo de energia no país subiria apenas 0,3%, se 10% dos carros vendidos no Brasil anualmente fossem elétricos.

Cabe ainda ressaltar, que apesar de não ter sido muito explorado no encontro dos veículos elétricos em São Paulo, o extensor de autonomia poderá ser um grande aliado para o crescimento das vendas de VEs globalmente. Aliás, no Salão de Frankfurt, ocorrido entre os dias 12 e 16 deste mês, a empresa KSPG apresentou uma linha totalmente nova de extensores de baixa vibração e nível de ruído para VEs, além de diversos produtos para redução de emissões e consumo de combustível, prometendo assim uma revolução no setor.

Descaso com as pesquisas

Alunos de universidades com estudos sobre mobilidade elétrica que participaram do encontro, tiveram as suas expectativas frustradas. Constataram que as montadoras, apesar de inúmeras parcerias com universidades na Europa, Ásia, América do Norte e até na Oceania, não tem nenhum compromisso com as entidades brasileiras.

É uma pena constatar o nosso atraso nas pesquisas sobre mobilidade elétrica. As poucas instituições de ensino que avançam neste campo de pesquisa, é graças a coragem e determinação de verdadeiros brasileiros, pesquisadores e professores, que se recusam a sucumbir diante da pouca ou nenhuma atenção governamental.

Infelizmente, o brasileiro que desejar se aprofundar em pesquisa sobre VEs terá mesmo que deixar o país, e bancar com recursos próprios os estudos, pois organização como a CAPES, que deveria apoiar tais iniciativas, sequer responde aos pedidos de bolsa, em clara demonstração de desatenção e deselegância com os pesquisadores. Talvez esteja pensando que o silêncio, exclua a sua responsabilidade pelo atraso que o país contabiliza nesta área de conhecimento.

O fato é que, enquanto alguns se apequenam e escondem atrás de seus cargos públicos, milhares de brasileiros desassistidos esperam nas filas dos hospitais, enquanto seus filhos e pais, adoecem e morrem devido ao aumento das emissões de gases nocivos, provocados pela queima de combustível fóssil.

Não é nenhum exagero comparar o caso do veículo elétrico no Brasil, com a batalha travada entre Davi e Golias. De acordo com o fato histórico, trata-se de um mito, já que o gigante Golias nunca existiu. No caso do VE no Brasil, parece que o estado gigante, também, não existe.

Porém, quem melhor definiu o atual estágio do carro elétrico no Brasil, foi um participante do evento. Para ele, o carro elétrico por aqui mais parece sexo de ganso: longo, traumático e doloroso.

*Escritor, conferencista e Diretor do Instituto das Concessionárias do Brasil

Fonte: www.verdesobrerodas.com.br

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