Design: Born to be ugly!
Em pouco mais de 130 anos de história dos veículos movidos a motor, a indústria automotiva produziu alguns modelos deslumbrantes e memoráveis, com designs exuberantes vestindo obras primas de engenharia mecânica. Assim como produziu, também, independente da excelência de motores, transmissões, suspensões (ou tudo junto, como o Toyota Will) modelos com design variando entre ridículos e repugnantes, daqueles de se olhar e pensar: mas onde estavam com as cabeças quando bolaram “isso” (como o Pontiac Aztek, por exemplo). Um traço marcante (e que sempre friso) é a atual total falta de identidade dos modelos de todas as montadoras, lançados nos dez ou quinze ultimos anos. Os carros são, rigorosamente, todos iguais, resultado da criatividade nula que resulta em parca beleza. Aí, quando resolvem inovar, a coisa descamba para o absurdo.
Como humanos volúveis e suscetíveis, é comum nos rendermos à esportividade, potência, robustez ou ineditismo de alguns modelos, principalmente de marcas tradicionais que, em algum momento, criaram modelos realmente sensacionais e aceitarmos sem reflexão que aquela é mais uma obra-de-arte, mesmo que não, absolutamente não, o que estamos vendo não é nada bonito. Ferrari Enzo e Lamborghini Veneno são bons exemplos. Bonito é uma coisa, impactante é outra bem diferente. Uma frente fantástica fica totalmente sem sentido quando a traseira é medonha, e é o que acontece com mais frequência: os designers preocupam-se tanto com a dianteira que acaba o “estoque de idéias” para complementar o restante da carroceria e aí… bom, encaixam lanternas e parachoques de algum jeito e pronto. O BMW X6 e o Porsche Panamera são excelentes exemplos: frentes bonitas (não são nenhum ícone de beleza, mas também não deixam a desejar) e traseiras que não dá para entender porque são tão pobres e “desconjuntadas”, redundando em carros feios que só tem fãs porque são BMW e Porsche.
Possivelmente motivados pela ânsia de sair da mesmice e sob forte influência de habitantes zombeteiros de outras galáxias, designers de algumas montadoras nos brindaram em 2014 e 2015, só para ficarmos em tempos bastante atuais, com alguns lançamentos que se você, leitor, conseguir eliminar o fator emocional normalmente ligado à marcas-sinônimo de poderosas máquinas e se concentrar exclusivamente no design, verá que o significado do adjetivo beleza – qualidade, propriedade, caráter ou virtude do que é belo; manifestação característica do belo; caráter do ser ou da coisa que desperta sentimento de êxtase, admiração ou prazer através dos sentidos – foi entendido errado, se é que foi entendido. Vamos dar uma rápida passada nos 5 modelos mais… digamos… marcantes que chegaram ao mercado em 2014?
Nissan Juke
Quando foi lançado em 2010, o Nissan Juke chocou o mundo com seu design. O pensamento comum era: mas quem, em sã consciência, compraria uma coisa esquisita como essa? Quatro anos depois, uma re-estilizada em 2014 e o Juke conseguiu ficar pior. De qualquer ângulo que se observe o estranhíssimo crossover, a certeza é a mesma: as linhas não se encaixam, e essa frente bizarra é de amargar. Impossível definir o que o departamento de estilo tinha em mente, exceto que a ideia era ser absurdamente extravagante.
Lamborghini Veneno
Você não ouve as palavras “feio” e “Lamborghini” juntas em uma frase muitas vezes. Mas neste caso, é impossível separá-las. Para comemorar seu 50º aniversário, montadora italo-germânica decidiu fazer um supercarro com um motor V12 6,5-litros e 740 Cv de potência. E resolveu pegar um rascunho recusado dos estúdios de George Lucas, misturou com o primeiro Batmóvel e criou seu design. O Veneno é feio, em todos os ângulos exagerados, com aquela frente que faz a alegria de todo adorador de “lixuning” do mundo.
Mini Coupé
Essa é para não entender nem com muito esforço. Qual foi a inspiração para esse carro? Depois da re-estilizada primorosa no Mini, que o trouxe para a modernidade sem perder seu traços originais, a BMW resolveu estragar tudo. Primeiro, veio a coisa estranha batizada de Countryman, aquele Mini esticado, com 5 portas. Não contentes, criaram o Paceman. Para completar o circo de horrores, sabe-se-lá de onde tiraram a ideia do Mini Coupé, esse sim um negror de design de tirar o fôlego.
Lincoln MKT
Nossa… é um vagão de trem com uma grade gigante e quatro rodas? Não, é o Lincoln MKT, um modelo “Touring”? lançado pela divisão de carros de luxo da Ford. Pode ser luxuoso… mas é horrível, com seu design lembrando uma baleia jubarte que comeu krill demais. As linhas laterais até que são agradáveiz, e a traseira bem elaborada, o que sugere que o departamento de design inverteu as bolas por aqui, começou de trás para a frente e se perdeu. Conquistou mercado no segmento de carros fúnebres em algumas localidades norte-americanas.
Infiniti QX80
Procure a palavra Horrível no dicionário. Lá você encontrará o Infiniti QX80. Este foi o novo nome do QX4, que depois virou QX56 e, finalmente, QX80 em 2014. Porém… batizado com qualquer letra e dígito, a feiura profunda permanece inalterada. Tem cromado o suficiente para causar inveja em um Cadillac Escalade e dimensões paquidérmicas como as de um Lincoln Navigator. E uma frente que não se consegue definir em que foi inspirada, lembrando os caminhões dos anos 1950 após explodir o motor com o capô fechado.
Após uma pausa para um copo d´água e algum remédio para colocar o estômago em ordem, é hora de vermos como se comportou esse mundo insólito do design automotivo em 2015, ano em que, ao menos, a humanidade foi poupada da continuidade de coisas como Nissan Murano CrossCabriolet, Honda Insight e Toyota FJ Cruiser, entre outros. Mas a alegria parou por aí. A criatividade da beleza reversa da indústria automotiva não para de nos supreender. Duvida? Veja esses 5 exemplos…
Scion xB
O carro da divisão de entrada da Toyota é um excelente exemplo. A Scion nunca primou por seu departamento de estilo, com a maioria de seus modelos figurando em todas as listas de feiúras motorizadas existentes. Mesmo após re-estilizações, os Scion conseguiram apenas deixar de ser medonhos para evoluirem para horrorosos. Como o xB, menos apavorante do que o xA ou o xD, mas ainda assim algo pouco além de uma geladeira com rodas. E uma geladeira quadrada antiga muito feia. Pelo menos, aqui no Brasil o xB ainda não está a venda.
Jeep Cherokee
Esse conseguiu. O Cherokee, em qualquer versão, sempre foi um Jeep e, como tal, sua função na vida é ser um SUV genuino, com bastante conforto. Era. Agora, sob a batuta da Fiat Chrysler Automobiles, deu um grande passo na direção errada para a sua venerável marca. É construído sobre a plataforma do Alfa Romeo Giulietta, a mesma do Dodge Dart e Chrysler 200 e, o que realmente aterroriza quando se olha o Cherokee é a sua dianteira revoltante, que perdeu sua aparência de indestrutível para ficar com a cara de mais um crossover inofensivo.
Kia Soul
O Kia Soul voltou mais feio. Após a melhoradinha sutil em 2014, o estranho sul-coreano volta a ocupar seu lugar de honra entre os carros mais feios no mercado. O carro foi criado para ser descolado e ”da moda”, mas aparentemente foi projetado na Iugoslávia, pelos mesmos designers tchecos e russos responsáveis pelo Zastava Yugo e Lada Samara, e com um conjunto mecânico fraco, não consegue convencer o porque da insistência da montadora em tentar mantê-lo vivo.
Honda CRZ
Se você é daqueles fãs de carteirinha dos carros mais bizarros do mundo, esta é sua oportunidade. O CRZ é um misto de cupê esportivo de dois lugares, com a modernidade dos híbridos e o estilo dos hatchback de 1980, em um design onde misturaram descaradamente as linhas estranhas do Hyundai Veloster com a traseira horrível do Toyota Prius. Deve ser excesso de saquê, porque não é fácil se superar na arte do muito feio. Nesses momentos devemos nos alegrar por não existirem essas coisas à venda no Brasil…
Smart ForTwo
Desde seu lançamento em 2008, em nenhum momento esse carrinho procurou qualquer proximidade com a beleza; conseguiu a fama de “engraçadinho”, o que é bem diferente. Como regra geral, quando uma empresa sente a necessidade de dizer-lhe que algo é inteligente e descolado, cria algo chocantemente absurdo, e o Smart Fortwo é um excelente exemplo. Bem, pensar que foi prjetado e construído na França trás algum sentido. . . afinal, onde mais poderia um carro tão inútil, tão irreal e tão feio ser elevado à pretensão de “mente elevada”? Só pode ser gozação da alemã Daimler com a cara dos franceses (que criaram o Renault Twingo)…
É necessário frisar que não, não existe nenhuma “implicância” pessoal com relação a nenhuma das montadoras ou seus países de origem. É a minha opinião pessoal (até porque não tenho opinião pública…). Desnecessário lembrar que praticamente todas as montadoras mencionadas já criaram automóveis irretocáveis, e não tive como objetivo prejudicar a comercialização dos modelos exemplificados uma vez que, mesmo com suas aparências estapafúrdias, podem oferecer um banho de tecnologia avançada. O objetivo aqui foi demonstrar que o design é o principal responsável pelo sucesso ou fracasso de todo e qualquer produto, de embalagens de detergente aos automóveis, e tenho a certeza de que muita gente, ao ler tudo isso, lembrou-se de carros que também considerou aberrações ambulantes!