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Da parede do diretor da SIMCA para as páginas do Jornal da Tarde

No final dos anos 60, a Simca, uma das primeiras marcas de automóveis produzidos no Brasil e, naquela época, já sob o controle da Chrysler, estava preparando o lançamento de um novo modelo esportivo. O desenvolvimento desse automóvel foi uma espécie de transição entre os produtos Simca enquanto preparava os seus próprios carros, que surgiram a partir de 1969, com o modelo Dodge Dart.

Como acontecia normalmente, soube, por um amigo informante, que o carro estava em desenvolvimento e que eu não tinha condições de chegar até uma área tão secreta da fábrica. Mas que um diretor da empresa havia mandado emoldurar uma fotografia do carro e colocou o quadro para decorar a sua sala, na fábrica de São Bernardo do Campo.

Depois de transmitir a informação, me desejou boa sorte. O tradicional vire-se.

Então, para revelar a novidade, montei um plano audacioso de visitar a sede da Simca, acompanhando de um fotógrafo, e registar as imagens do futuro lançamento. E foi o que fizemos, eu e o Oswaldinho Palermo. Aliás, esta foi uma das primeiras aventuras do Oswaldinho.

Naquela época, embora o Jornal da Tarde desse total apoio ao meu trabalho, as atividades diárias do jornal impediam que eu pudesse contar sempre com um repórter-fotógrafo. E o Oswaldo Palermo, chefe do Departamento Fotográfico e grande amigo dava importância à minha atividade e conhecia as dificuldades. Um dia, me fez uma proposta incrível: “você não quer trabalhar com meu filho, o Oswaldinho, que pode ajudar bastante nessas aventuras?”. Ainda bem jovem, no máximo 18 anos, Oswaldinho trabalhava no laboratório do Departamento Fotográfico e adorava automóveis. Foi o maior presente que eu poderia receber.

Fomos à Simca e, na portaria, informamos que iríamos ao Departamento de Imprensa. O funcionário me conhecia de visitas anteriores e, por isso, liberou nossa entrada, sem consulta prévia á área de Imprensa. E arriscamos circular pelo prédio da diretoria à procura da sala do tal diretor.

Encontramos a sala, mas o diretor estava debruçado sobre papéis e ainda tinha a secretária, em uma mesa, junto à porta. Passamos direto, para não chamar a atenção. Entramos no banheiro e retornamos. Ao analisar o ambiente concluímos que a estratégia seria esperar e torcer pela saída do diretor e da secretária.

Por ser próximo ao horário de almoço decidimos ficar numa sala de espera, na verdade, um pequeno espaço na antessala dos diretores, com duas ou três cadeiras e uma mesa de canto. Algumas revistas sobre a mesa e, na parede, um pôster com um Simca Chambord, ligeiramente inclinado por falta de capricho. Aproveitei para exercer uma de minhas manias e acertei a posição horizontal do pôster.

Passaram alguns diretores, gerentes, secretárias e funcionários. Estávamos preocupados, porque poderíamos ser vistos por algum representante da área de Imprensa que circulava pelos diferentes setores das fábricas.

Depois de algum tempo, a secretária do diretor saiu acompanhando uma amiga e, imagino, foram para o restaurante. O diretor continuou na sala. Mas, depois de algum tempo, ele também passou por nós. Sequer nos olhou.

Saímos em direção à sala e eu, muito preocupado, fiquei atento, de prontidão. O Oswaldinho, em seu primeiro serviço excitante dava a impressão de estar em sua própria casa. Empunhou a Nikon e, em movimentos tranquilos e precisos, combinou cliques com acertos de foco, procurando diferentes ângulos. Enquanto para mim parecia uma eternidade, para o Oswaldinho foi uma curtição. Foi o primeiro trabalho arriscado de Oswaldinho, excelente fotógrafo e grande revelador de segredos da indústria.

No dia da publicação, precisei ouvir as queixas do diretor de Relações Públicas, que ficou inconformado com a revelação da notícia. Mas, apesar das queixas, o projeto foi cancelado porque um ano antes a Simca havia sido adquirida pela Chyrsler que decidiu mudar a linha de veículos e, mais tarde, pretendia lançar o projeto como Esplanada GTX, antes de seus próprios modelos, das linhas Dart, Charger, Magnun e Polara.

Para os que nunca ouviram falar da Simca, a marca francesa alcançou grande repercussão internacional, inclusive na Fórmula 1, com o seu inconfundível motor V12 de som agudo e estridente, e foi vencedora das 24 horas de Le Mans em 1973.

No Brasil, a Simca fabricou o Simca Chambord que foi o carro mais elegante do início da indústria automobilística brasileira, e o aristocrata Simca Presidence, que se destacava por um estepe na traseira e por acabamento luxuoso. Na área do banco traseiro, o automóvel tinha até um compartimento com copos e espaço para comportar uma garrafa de uísque, vinho ou mesmo água.

Além dos modelos Chambord e Presidence, a Simca também produziu a perua Jangada e o Rallye, modelo esportivo utilizado pelo departamento de competições por onde passaram pilotos famosos, como Ciro Cayres, Jaime Silva José Fernando Martins e Anísio Campos como grandes astros. Todos sob o comando do primeiro grande ídolo do automobilismo brasileiro, Chico Landi, vencedor do Grade Prêmio da Bari, na Itália e o mais vitorioso no circuito da Barra, no Rio de Janeiro.

Para enfrentar a concorrência, principalmente da Willys Overland do Brasil, Vemag, Fábrica Nacional de Motores e grandes pilotos de equipes próprias, disputou as corridas com o modelo Rallye e, alguns anos depois, importou alguns Simca Abarth que passaram a dominar as corridas brasileiras.

Para explorar esse domínio nas pistas, a Simca decidiu modernizar o modelo Rallye e o seu departamento de estilo dedicou-se a um trabalho para tornar essa versão a mais atraente possível.

A desejosa versão esportiva era fácil de ser produzida. Bastavam alguns detalhes estéticos, como faixas laterais e sobre o capô do motor, faróis de milha, rodas de desenho esportivo, pneus Cinturato (conhecidos como radiais) e cores atraentes. Internamente, volante esportivo, bancos individuais, conta-giros. E, naturalmente, um motor bem alegre.

Fonte: Secco Consultoria / Crédito da imagem: Oswaldo Palermo
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