

A Buick Motor Company é dona de uma das mais interessantes histórias da indústria automobilística. Fundada em 19 de maio de 1903 pelo escocês David Bunbar Buick em Detroit, Michigan, a empresa foi vendida para James H. Whiting no mesmo ano, transferindo suas instalações para a cidade de Flint, também em Michigan. Para gerir sua empresa, em 1904 Whiting foi buscar em Boston o jovem William Crapo Durant, que transformou a Buick Motors Company no maior fabricante de automóveis da América. Com os lucros obtidos, Durant adquiriu rapidamente a Oakland (que virou Pontiac), a Cadillac, a Oldsmobile, várias indústrias fornecedoras e nasceu aí, então a General Motors Company.
Em 1910, após uma serie de divergências, Durant retirou-se do grupo, associando-se com Louis Chevrolet e, em 1916, com o dinheiro arrecadado pela Chevrolet Motor Car Company – empresa que já havia adquirido a totalidade em 1915 –, Durant comprou TODA a General Motors Company e retomou seu controle. A competição interna das diversas marcas encampadas pela GMC teve um fim rápido, pois Durant queria que cada marca – Cadillac, Buick, Chevrolet, Oldsmobile e Pontiac – tivesse seu público-alvo bem definido. Mas nem tudo foram flores, e na década de 1920 a vida de Durant ficou bem complicada, com o “Fabuloso Billy” indo à falência após o Crash de 1929 e terminando seus dias como gerente de uma casa de boliche. Ou seja, se a General Motors Corporation existe até os dias de hoje, tudo se iniciou com a Buick Motors Company, sob a batuta de William Crapo Durant, um gênio visionário que não previu a quebra da Bolsa de Valores e a Grande Depressão que a seguiu.
Durante sua existência, os carros produzidos pela divisão Buick primaram pela alta qualidade, potência, beleza e luxo, ficando abaixo, puramente por questões mercadológicas, apenas da divisão Cadillac no segmento dos carros Premium. Entre muitos modelos da marca ao longo dos anos, um dos mais emblemáticos é o Buick GSX Stage 1 de 1970, um dos melhores representantes dos Muscle-Cars norte-americanos de todos os tempos!
A moda era essa: toda montadora norte-americana tinha de ter pelo menos um modelo – normalmente tinham vários – coupé 2 portas, com uma versão conversível e dotado de um motor V8 gigante, transmissão manual de série e automática opcional, grandes dimensões e design bastante agressivo. Em 1970 o consumidor podia escolher entre diversas montadoras, modelos e versões, sendo eles: AMC Matador Machine e Rebel; Chevrolet Chevelle SS 454; Dodge Coronet 426 Hemi e Challenger; Mercury Cougar Eliminator e Montego; Pontiac Firebird, GTO, Judge e Trans-Am; Plymouth Belvedere 426-S, Hemi Barracuda, Intermediates 426 Hemi, GTX, Road Runner, Superbird e Duster; Ford Galaxie, Shelby Mustang GT350 e GT500, Mustang Cobra Jet, Torino GT, Cobra 428 & Talladega, Mustang Boss 302 e 429 e Mustang Mach 1; Oldsmobile 442, Cutlass W31 e Rallye 350. Então, chegou o novíssimo Buick GSX Stage 1 Sport Coupé, que veio substituir o mais do que consagrado Grand Sport 350 Coupé e manter a Buick na briga pelo mercado dos reis das estradas.
Medindo 5.14 metros de comprimento, 1.97 metros de largura e 1.35 metros de largura, com uma distância entre-eixos de 2.85 metros, o Buick GSX Stage 1 representava a 3ª geração do Skylark, oferecendo um pacote de alta performance para a versão GS 455, e só poderia ser classificado como Coupé Médio nos Estados Unidos; por suas dimensões, peso e potência, em qualquer outro lugar do mundo pertenceria ao clube dos Grandes. Para derrotar pesos-pesados da concorrência, inclusive interna, como o Chevelle SS 454, Oldsmobile 442 W30 e o Pontiac GTO Judge, a Buick não economizou em motorização, dotando o GSX com um poderoso GM Buick Big-Block V8 455, aspirado, com 7.5 litros, carburador Rochester 4MV quadrijet, 360 Cv de potência e 692 Nm de torque. Para transferir tudo isso para o chão, haviam duas transmissões possíveis, sendo um câmbio Muncie M21/M22 de 4 marchas manual e um câmbio GM Turbo Hydramatic THM-400 de 3 marchas automático.
O GSX Stage 1 era comercializado apenas com o grande bloco V8 455, enquanto as demais versões contavam com motores 6 cilindros em linha, 4.1 litros e 260 Cv de potência. Por custar U$ 1.100 a mais do que as versões mais “civilizadas”, U$ 5.980 contra U$ 4.880 – quando um Cadillac De Ville Coupé custava U$ 5.800, por exemplo –, o modelo não atingiu grande popularidade e apenas 678 unidades foram produzidas em 1970, sendo seu principal argumento de vendas o fato de que qualquer GSX Stage 1 tinha um desempenho comparável ao do Plymouth Hemi Barracuda e seus 425 Cv de potência, só que era muito mais luxuoso. O segredo desse desempenho estava na engenharia do motor 455, diferente de todos os outros motores V8 produzidos pela General Motors na época, como o curso da biela mais longo e o menor diâmetro dos pistões, o distribuidor na parte dianteira (típica construção Buick), a bomba de óleo externa e os balanceiros oscilantes montados em uma única haste.
O modelo era oferecido em apenas duas cores, Amarelo Saturno ou Branco Apolo, com uma faixa preta dupla, contornada por um filete vermelho, atravessando todo o enorme capô do motor, assim como faixas laterais superiores com o mesmo estilo, que “morriam” numa bem-bolada asa traseira. Também de série eram os bancos tipo concha, alavanca de marchas no assoalho – o normal era na coluna de direção – e largos pneus ovais G 78-14” diagonais (235/70R14 radiais atuais). Comparando-se com números de modelos esportivos de hoje, dotados de sensores e eletrônica que corrigem tudo, pneus especiais e materiais leves, não há como não nos impressionarmos com as perfomances estabelecidas pelo Buick GSX Stage 1. Estamos falando de 1970, quando tudo era feito em ferro fundido e aço e, mesmo assim, com 350 Cv de potência e pesando 1.758 kg na versão com câmbio manual, sua velocidade máxima era de 173 km/h, acelerava de 0 a 100 km/h em 6.8 segundos e em 13.8 segundos alcançava os 402 metros, com um consumo de aproximadamente 4,1 km/l. Equipado com o câmbio automático, pesando 1.779 kg, atingia a velocida máxima de 170 km/h, acelerava da imobilidade aos 100 km/h em 6.2 segundos e os 402 metros em 14.8 segundos, mas isso porque só mudava da segunda para a terceira marcha na casa dos 130 km/h, e seu consumo de combustível beirava os 3,4 km/l.
Leis de controle de emisões, crises do petróleo e financeiras em todo o planeta levaram a indústria a procurar motores menores e mais econômicos. Em 1971, a “Família” Skylark contava com os motores 250 6 cilindros em linha, 4,1 litros com 145 Cv e 350 V8 5,7 litros com 230 Cv de potência, o que decretou o fim, junto a seus concorrentes, de um dos maiores Mucle-Cars já produzidos. Devido a sua raridade, e ao fato de que 278 das 678 unidades produzidas em 1970 sairam da linha de montagem com o pacote completo GSX Stage 1 Sport Coupé, o valor atual desses modelos é altíssimo. Em 2010, quatro unidades impecavelmente restauradas foram vendidas no leilão Barrett-Jackson, em LasVegas, por US $ 80.000 cada.