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Cinquentenário do primeiro campo de provas da indústria automobilística brasileira

Em 2022, será comemorado o cinquentenário do campo de provas da Ford em Tatuí, primeiro Campo de Provas da indústria automobilística brasileira, localizado a 132 quilômetros de São Paulo e instalado na estrada que liga a Rodovia Castelo Branco à cidade de Itapetininga, na Rodovia Raposo Tavares.

O campo de provas da Ford representou um marco e um importante passo na evolução e desenvolvimento da engenharia brasileira e, consequentemente, dos veículos produzidos no País. Naquela época, nenhuma montadora do País tinha campo de provas e os testes e medições eram feitos nas estradas, sem os parâmetros mais acurados e critérios mais rigorosos.

Hoje, muitas montadoras possuem campos de testes e desenvolvimento, como a Mercedes-Benz, General Motors, além de outras empresas do setor, como a Pirelli e a Randon, entre outras, o que contribui para o Brasil estar entre os mercados mais evoluídos do mundo.

Dois anos antes de a Ford inaugurar as instalações, no dia 12 de janeiro de 1970, fiz uma reportagem anunciando que a Ford – que na época tinha a denominação de Ford-Willys, estava em negociações com a proprietária da fazenda Bom Pai para a compra da área de 173 alqueires para a construção do primeiro campo de provas da América do Sul.

O objetivo da empresa era possuir um campo de provas para testes e desenvolvimento de automóveis e caminhões que produzia no Brasil e também ficaria disponível a empresas automotivas do Brasil e da Argentina.

Minha primeira providência foi visitar a cidade e entrevistar o prefeito Orlando Lisboa de Almeida para saber como ele avaliava a construção de um campo de provas no município.

Lisboa de Almeida revelou entusiasmo pelo fato de Tatuí receber um empreendimento de tecnologia que, além de criar empregos para profissionais qualificados representaria um impulso importante para a aprovação do governo do Estado de São Paulo do plano de construção da Faculdade de Tecnologia. Essa instituição de ensino tinha a finalidade de formar profissionais de áreas técnicas que poderiam ser aproveitados pela Ford-Willys e atrair outras empresas interessadas em investir no município.

Em nosso diálogo o prefeito informou que a fazenda Bom Pai era de propriedade da senhora Maria Elisa Carbett, mas que eu tomasse cuidado porque ela tinha a fama de não ser receptiva a estranhos e que vivia armada para se proteger. Soube depois que a senhora era uma viúva e residia na fazenda em companhia de uma empregada de confiança.

Ao chegar à fazenda a empregada me atendeu e foi transmitir a informação à senhora Maria Elisa que concordou em nos receber, confirmando as negociações com a Ford-Willys e que dependia apenas da data para a transferência da propriedade.

Informou também não ter medo de viver só com a empregada, que sabia de sua fama e contava com a proteção de Deus e de dois revólveres, um 38 e um 22. E que, para tomar posse da fazenda que herdara do marido, precisou vencer uma luta contra o arrendatário da área, de advogados e políticos. Ao ganhar a causa e chegar à fazenda, beijou o chão e nunca mais saiu de lá.

Depois de tomar a posse, em dois anos, a Ford-Willys concluiu a fase inicial de construção do campo de provas. Onde existiam diversos tipos de plantações e mutas cobras, a fazenda foi transformada, ganhando área administrativa, departamento médico, vestiários, restaurante, duas pistas asfaltadas, pista de terra com diferentes tipos de piso para testes severos, cabine de água salgada, área especial, com lombadas, valetas, costelas de vaca, cruzamento de ferrovias, rampas com diferentes inclinações, setor de frenagem, laboratórios, oficina, garage e piscina com diferentes níveis de profundidade para testes de eficiência de vedação do interior dos veículos.

O campo de provas recebeu também uma cabine de refrigeração utilizada para o desenvolvimento de veículos Escort exportados para a Escandinávia. Como detalhe depois dos procedimentos técnicos, os engenheiros não conseguiram abrir as portas do automóvel, sendo obrigados a retirar o carro da câmara fria com o uso de macacos, e deixá-lo exposto ao sol para o descongelamento das fechaduras. E, naturalmente, dar início a um programa de desenvolvimento de graxas e borracha dos limpadores de para-brisa e de outros sistemas do carro até serem aprovadas para atender aos rigores das baixas temperaturas da Suécia, Noruega e Finlândia.

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Fonte: Secco Consultoria / Crédito das imagens: Arquivo da Internet

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