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Carros Usados: O difícil mercado brasileiro

Por Renato Pereira / Fotos: Reprodução da internet

Mesmo após o boom da indústria automotiva brasileira, somada a chegada aos borbotões de marcas e modelos dos 4 cantos do mundo, o consumidor brasileiro ainda é um ser estranho e complexo, recheado de tabus e discriminações do século 19 que fazem a alegria de uns e tristeza de outros. Até algum tempo, havia as redações especializadas que, salvo um ou outro veículo de comunicação, primavam pela verdade e informação que, de novo, fazia a alegria de uns e tristeza de outros, e era um bilhão de vezes melhor do que nos dias atuais, onde influenciadores digitais e celebridades que não sabem porquê um pneu é preto dão seus pitacos estapafúrdios a respeito dos modelos lançados e cuja maior preocupação é saber se “o carro tem conectividade”. Motor, potência, transmissão, tecnologia, consumo etc… esses “formadores de opinião” não sabem dizer porquê não entendem nada, mas o marketing acha que ajudam a vender e ainda pagam muito por esse “trabalho”.

Por quê a afirmação de que o brasileiro é recheado de tabus e discriminações? Simples… porquê é, e é incentivado a se manter neste limbo porquê assim quem comercializa carros, desde a montadora até o braço-duro, faz o que quer no mercado, transforma qualquer modelo  em sucesso ou fracasso e, assim, faz o preço que der na veneta para comprar e vender o que aparecer. Criam eufemismos que não cabem no vernáculo, como “semi-novos”, por exemplo. Como assim, semi-novo? Ou é Novo ou é Usado. Se tem 1.000 ou 10.000 ou 50.000km  tanto faz, não é mais novo, é usado!  Vamos entender melhor esse mundo dos usados, o que deveria de verdade determinar seus valores e o que fazer para manter ou melhorar o seu usado!

Um dos principais tabus largamente alimentados pela indústria do comércio de usados é a quilometragem dos carros. A narrativa de que “motor com mais de 50.000km não presta” vem da época em que os motores eram todos de ferro fundido, varetas de válvulas laterais, óleo era tudo igual e baixíssima qualidade de matéria-prima. O mundo evoluiu, os motores a cada dia são mais compactos, potentes e longevos – qualquer motor 1.0 (menos os 3 cilindros…) rodam facilmente mais de 200.000km sem problemas, bastando fazer as manutenções corretas, mas na hora de vender o carro, pronto: já jogam o preço lá embaixo. O consumidor não se dá conta de que as revisões nas concessionárias se estendem por mais de 100.000km? Por quê esse consumidor se deixa levar por essa lenga-lenga? Porquê é mal informado e também acredita nessas asneiras seculares. Tem muito, mas muito carro por aí com menos de 30.000km cujo motor já foi pro beleléu porquê o dono do carro ainda pensa que “óleo é tudo igual”e manda colocar o “mais barato”, e aí quebra mesmo. A culpa é do carro, da quilometragem ou do proprietário? Essa mania estúpida de economizar em tudo – óleo vagabundo e/ou fora da especificação do motor, água de torneira no radiador, abastecer “desconto”, trocar pastilhas de freios quando já chegaram no ferro – e, de novo, a mais baratinha, feita na Índia -, pneus “remold”, “meia-vida” ou “riscadinhos” vendidos pelos borracheiros, entre outras avarezas é que condenam um carro, independente do ano de fabricação, origem ou quilometragem.

Outro tabú made in lojista é quanto ao carro ter recebido algum conserto na lataria. Tanto faz se foi um retoque nos parachoques ou um conserto maior – trocou uma porta, um paralama, um farol e o parachoque. Entra tudo no mesmo saco na hora da “avaliação”. Mas espera aí: se tudo foi feito de maneira correta, as peças são novas (as oficinas tem de entregar notas fiscais das peças), a mão de obra não foi na base do filho-do-amigo-do-vizinho que faz um precinho camarada, tem vistoria técnica, vistoria cautelar e tudo o mais… onde está o problema? Se o carro é “esculachado” tudo bem, tem mais é de ir pro desmanche mesmo, mas se tudo está perfeito, de novo, onde está o problema? É a mesma linha de raciocínio torpe que atravanca o comércio de carros oriundos de leilão. Bastou constar “passagem por leilão” no histórico do carro e pronto, já não vale mais nada na hora de comerciante comprar. Mas na hora dele te vender, isso não tem a menor importância, né? O número do chassi foi remarcado, porquê o carro é recuperado de furto ou roubo. E daí? Não está legalizado, o Detran não fez a alteração, as vistorias não aprovaram o carro? Então, e daí que foi remarcado? No que isso altera qualquer coisa na vida útil do carro? Mesma coisa com “o número do motor não é o mesmo do que saiu de fábrica”. Ok, o motor quebrou e o dono comprou outro bom, porquê os motores atuais raramente aceitam retíficas e, se retificarem, fica uma porcaria. De novo, não está lá nos documentos, o Detran não fez a alteração, as vistorias não aprovaram? E aí, onde está o problema? No brasileiro, que se acha esperto o suficiente para não perceber o quanto é feito de bobo.

Bom, agora que já demos um passeio nos tabus mais bestas do mundo do carro usado, é preciso lembrar que sim, existem trapaças, fraudes, falcatruas e golpes a beça nesse mercado. Como em todo segmento, existem os excelentes, os bons, os mais-ou-menos, os ruins e os pilantras. Com o mundo virtual sendo responsável pela imensa maioria das ofertas de carros usados, é lógico que o meio está infestado de marginais disfarçados de compradores e vendedores. É possível até afirmar que existem mais pilantras do que honestos neste e-commerce desvairado, se misturando aos pilantras físicos que ainda não evoluíram para o mundo digital mas estão na ativa. Não importa, todo cuidado é pouco e, ainda assim, o risco de se dar mal é enorme. Você anuncia seu carro numa plataforma dessas; em 10 minutos tem uma falange de “interessados”, que começam a te pedir dados de todo jeito. Preste atenção, não forneça nada. Não coloque seu endereço, tampouco aceite que o “interessado” venha à sua casa ou empresa. Ao agendar a apresentação do carro, não vá sozinho, leve alguém junto e em outro carro. Só agende se o comprador for o mesmo que irá ver o carro; caso seja um “amigo”, “ex-sócio”, “primo” ou algo assim, já encerre a conversa por aí mesmo. É golpe. “Posso levar no mecânico”? Pode, vamos juntos – mas com alguém em outro carro seguindo. Bandido é bandido e não vem com letreiro na testa. Não assine nada, nem mesmo dentro do cartório, enquanto não confirmar o depósito em sua conta. E preste atenção, veja se não tem nenhuma indicação de bloqueado ou agendado. Com a transferência assinada na mão, seu carro já era e não adianta ir reclamar com o Papa. É você quem está comprando? Não leve dinheiro, não vá sozinho, não peça para trazer em sua casa, não dê “sinal”, não faça nada disso. Primeiro pesquise se o carro anunciado não está em outras plataformas – 99,99% das vezes estará – e muito provavelmente com valores e contatos diferentes. Fuja, é golpe. Leve direto para uma Vistoria Cautelar completa, depois no mecânico – se ele não souber avaliar a vida pregressa de um trem-de-força, troque de mecânico – e procure uma oficina especializada nos sistemas eletrônicos, porquê a engenhosidade dos picaretas não tem limites (são capazes de instalar resistências nos cintos de segurança para esconder falhas nos air-bags, por exemplo) enfim, consulte a documentação e caso esteja tudo certo, mesmo que com alguma alteração porém legalizada, previna-se de toda forma possível, porque os criminosos já estão agindo no impossível. Não sabe como ou não tem tempo para isso? Contrate quem sabe, tem tempo e só faz isso; está cheio de profissionais para te auxiliar a comprar, vender ou trocar de carro e não se ferrar, e é mais barato do que se ferrar!

Então você comprou o carro. Bacana, parabéns. Mas saiba que comprar o carro é o mais fácil, manter é que são elas. Lavar e passar cera ajuda. Um aspiradorzinho por dentro também é legal. Mas seria o paraíso se os cuidados se resumissem à isso.  Se comprou de particular ou em loja, não importa, leve-o para uma manutenção preventiva. Troque óleo e filtro de óleo do motor, seguindo as especificações do fabricante. As velas tem vida útil, verifique como estão. Troque a correia dentada e todo o líquido do sistema de arrefecimento; você não sabe se o aditivo foi misturado com água de torneira – essa mistura tem reação química que corrói o bloco do motor – então nem perca tempo e refaça o abastecimento com água desmineralizada; se possível, por garantia, troque as mangueiras. Troque o óleo do câmbio. Sim, óleo de câmbio – mecânico ou automático – também se deteriora. Idem para fluídos hidráulicos – direção e freios. Confira as pastilhas e os discos, bem como tambores e lonas. Se puder, mesmo que aparentemente “boas”, troque-as por novas, sem procurar as mais baratas. É mais caro consertar o que sobrou do carro após falharem – as marcas-porcaria trincam do nada e estouram os discos de repente. E os pneus? São todos do mesmo fabricante? A medida mínima de profundidade dos sulcos é se 1,6mm. Mas o correto é trocá-los por novos quando atingirem a marca de 3mm. A 80kh/h com sulcos de 3mm, a distância de frenagem é de 50 metros para parar totalmente; com 1,6mm essa distância dobra. Se estiver molhado o pavimento, a distância aumenta o dobro do dobro. Bom, agora tudo está certo e você sabe que o carro que comprou está em perfeitas condições, independente do ano de fabricação ou da quilometragem indicada.

Então vem a fase de manter tudo em ordem. Lavar e passar cera ajuda, mas se puder mandar vitrificar antes, melhor. Se for bem novinho, faça as revisões na concessionária, mesmo sabendo que vai gastar de R$250,00 a R$2.000,00, a cada 10.000km. Se não fizer, na hora de vendê-lo ninguém vai querer. Se o carro for mais antigo, usa óleo mineral, se for mais moderno usa óleo sintético. No caso de óleo mineral, os fabricantes recomendam as trocas a cada 5.000km, e no caso do óleo sintético são 10.000km ou 6 meses em ambos os casos. Mas use a cabeça: cada meia hora parado em marcha lenta – em média os semáforos fechados demoram entre 2 a 3 minutos – corresponde a 26,5km rodados. Não é porque o carro está parado que o óleo não esta se desgastando. Então mate o escorpião de dentro do bolso e faça as trocas de óleo com 5.000 ou 9.000km junto com o filtro de óleo. A cada 40.000 em câmbios mecânicos e 70.000km em automáticos, efetue a troca do óleo e filtros também. A embreagem é mais difícil definir uma vida útil, por depender de vários fatores que aumentam ou reduzem seu desgaste; se o pedal ficar duro, muito alto ou trepidar são sinais claros que está na hora de trocá-la – de novo, marcas de confiança, nada de “mais baratinha”.  O freio esta “mole” ou as pastilhas, mesmo ainda novas, estão “apitando”? Ou o fluído já venceu, ou está na especificação errada, e as pastilhas “vidraram”, efeito que ocorre quando estão bem aquecidas e sofrem choque térmico com a água empoçada nas vias. Não precisa trocar, basta usar uma lixa fina na face de atrito com os discos e pronto. O motor “morreu” repentinamente? Evite “dar tranco”, porquê a chance de você mandar o motor pro espaço é enorme; a correia pode pular e as válvulas vão se estampar nas cabeças dos pistões. Dê partida na chave mesmo. Não “pegou”? Chame uma plataforma e mande para a oficina. Foi-se o tempo em que um martelo e uma chave de fenda consertavam qualquer defeito. A alavanca de câmbio está meio louca e é uma loteria engatar as marchas certas? As buchas do trambulador estão gastas, é hora de substituí-las. O volante de direção está tremendo ou o carro “puxando” para algum lado? Podem ser as ponteiras de direção estragadas ou pneu “amassado” na banda de rodagem. Um bom auto-center detecta o problema. Basicamente é isso, cuidar é melhor do que deixar estragar e, a desvalorização é mínima com tudo sendo feito direito, e é a certeza de que poderá viver feliz com seu carro!

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