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Avaliação – Voltz EVS AllBlack

Fotos Arnaldo Bittencourt

Fundada em 2017, a Voltz é uma empresa brasileira de tecnologia focada em mobilidade elétrica. O primeiro modelo da marca começou a ser comercializado em 2019 (o scooter EV1). Em maio de 2021, a empresa recebeu um aporte de quase 100 milhões da Creditas, uma das principais fintechs de crédito do Brasil. Esses recursos foram utilizados na instalação de uma fábrica em Manaus, na ampliação do número de lojas e na criação de uma rede de recarga de baterias (opera em São Paulo, disponível para entregadores do iFood nessa fase inicial).

Hoje a marca comercializa 4 veículos elétricos: o scooter EV1 Sport, que é uma versão aprimorada do scooter EV1 lançado pela Voltz em 2019; as motos urbanas EVS e EVS Work, sendo esta última voltada para entregas; e o triciclo Miles, também voltado para entregas. A moto testada é a EVS, uma “street” com desempenho comparável a uma moto a combustão de 160cc.

Custando a partir de R$19.900 (versão com uma bateria), a proposta desse veículo elétrico é atender seu proprietário em seus deslocamentos diários na cidade. Os donos de motos de baixa cilindrada, que usam a moto diariamente, são o público-alvo desse veículo elétrico de duas rodas. Aproveito para dar uma dica importante, logo de cara… Não comprem a EVS com apenas uma bateria. Quem quiser abraçar a EVS deve pegar a versão com duas baterias. Essa versão custa quase R$25 mil, é verdade, mas a segunda bateria faz uma grande diferença, principalmente em desempenho e autonomia. Como a Voltz ainda não vende baterias avulsas, repito, não comprem a versão com uma bateria.

A ficha técnica da EVS é bem interessante. Como trata-se de um veículo elétrico, algumas características fogem completamente do tradicional. Para começar, a moto apresenta um décimo da quantidade de peças de uma moto a combustão. É aquela coisa, quanto menos peça para quebrar, melhor. Por esse motivo, não há um plano de manutenção definido para a Voltz EVS. Existe a recomendação de verificação periódica das pastilhas de freio e troca do fluido de freio a cada dois anos. É necessário verificar o estado dos pneus periodicamente. E é basicamente isso, a manutenção da moto é muito simples.

O motor da EVS tem 3000w de potência, podendo alcançar picos de 7000w. Pois é, não adianta pensar em cilindrada, o termo não se aplica ao motor da EVS. Bugou a mente aí? Esse motor é instalado diretamente na roda traseira, portanto nada correia ou corrente de transmissão. A potência é despejada diretamente na roda, sem intermediários. Bacana, né? No local onde deveria ficar o motor há uma capa de plástico para compor o visual da moto.

Pesando 147kg com duas baterias, esse motor de 3000w permite a EVS acelerar de 0 a 60km/h em 6s, ou seja, 1 segundo mais rápido do que a maioria das motos de 160cc. A velocidade máxima é de 120km/h. Com duas baterias ela até supera um pouco essa marca, pude comprovar isso durante o teste… Excelente, com a EVS é possível andar em vias expressas que exigem velocidades de 90/100 km/h. Agora vamos a um aspecto polêmico… E a autonomia, como fica? Então, DEPENDE!

Gostaram da resposta? Fiquei em cima do muro e não me comprometi? Nada disso, a resposta é essa mesmo, respondi a pergunta corretamente. A autonomia varia de acordo com o jeito que você usa a EVS, essa é a verdade. Não vou considerar casos em que a moto está com algum problema de configuração. Ué, moto virou computador agora? Pois é, moto elétrica inteligente parece muito com um PC mesmo. Assim, se a sua EVS fica ali nos 40km de autonomia e/ou as baterias demoram 10h para carregar, a sua moto está com problema. Isso não é normal. Entre em contato com a Voltz, abra um chamado no sistema deles (outro termo usado por profissionais do mundo dos computadores, olha ai…).

Voltando à autonomia, a Voltz divulga uma autonomia de 120km com a EVS equipada com uma bateria e 180km se a moto estiver equipada com duas baterias. Para isso, a velocidade média tem que girar em torno de 35km/h. Pois bem, no teste que eu fiz com uma EVS All Black 2021 equipada com duas baterias pelas ruas do Rio de Janeiro, consegui extrair 120km de autonomia. Como testei a moto durante um fim de semana, peguei muitas ruas vazias, conseguindo manter velocidades acima de 70-80km/h. Em vias expressas fiquei na faixa dos 100km/h, com picos de 120km/h nas ultrapassagens.

Em dias úteis, com o trânsito mais pesado, sendo obrigado a circular em velocidades mais baixas, a moto consumiu 6% de uma bateria e 9% da outra para me levar ao trabalho, que fica a 11km de casa. Nesse ritmo consigo rodar praticamente a semana inteira com a mesma recarga.

A moto tem 3 modos de condução: ECO, STANDARD e TURBO. É possível trocar de modo com a moto em movimento usando uma tecla no punho direito. Na prática, usei o modo turbo a maior parte do tempo (85% do tempo). O modo STANDARD pode ser usado no corredor, quando o trânsito estiver agarrado. Nesse modo, a moto não passa de 75km/h. Já o modo ECO deixa a moto extremamente lenta, como se fosse uma bike elétrica. Não vi utilidade nesse modo.

Uma observação importante… A central eletrônica da moto gerencia o consumo de energia o tempo todo. A partir dos 30%, senti uma redução considerável no desempenho da moto, mesmo no modo de condução TURBO. A moto não queria mais passar dos 90km/h e a aceleração ligeiramente. O desempenho continuou ok para rodar em vias urbanas, mas não era mais o mesmo.

Lembrando que trata-se de uma moto urbana, me sinto confortável em afirmar que os números acima são bem interessantes e me surpreenderam positivamente. Por falar em recarga, em quanto tempo é possível carregar as baterias de 33Ah/72v da EVS? Utilizando o carregador bivolt automático que vem com a moto, é possível recarregar as duas baterias em 5h. Bem rápido, a meu ver.

É possível recarregar as baterias na própria moto ou desconectá-las e levá-las para recarregar em casa. A primeira opção é a que eu recomendo. Cada bateria pesa 15kg, então transportar as duas não é confortável, tem que estar em forma fisicamente. Além disso, operar as chaves de liberação das baterias com frequência pode gerar problemas, pois essas chaves são frágeis. Os contatos das baterias com a moto idem. Por isso, repito: carreguem suas baterias na moto.

Sabe-se que as baterias de um veículo elétrico custam caro, então é importante observar a durabilidade delas antes de adquirir esse tipo de veículo. No caso da Voltz EVS, a marca garante que a bateria consegue suportar pelo menos 1500 ciclos de recarga. Isso dá mais ou menos 4 anos de recargas diárias. Por esse motivo, a garantia das baterias oferecida pela Voltz é de 3 anos ou 1.500 ciclos. De acordo com as estimativas da Voltz, entretanto, as baterias devem chegar aos 3.000 com pelo menos 80% da capacidade original. Ou seja, a bateria da moto deveria ter uma vida útil de 8 anos, quando carregada de 0 a 100% diariamente.

A título de informação, uma bateria nova custa em torno de R$4 mil, mas como afirmei anteriormente, a Voltz ainda não vende baterias avulsas. As baterias são produzidas por fabricantes renomados: inicialmente era a Samsung que produzia as baterias. Recentemente, a Voltz passou a encomendar as baterias da LG.  Quanto custa cada recarga? Considerando o preço da energia nos dias de hoje, a recarga das duas baterias deveria custar, no máximo, R$8,00. Considerando a minha utilização (22km por dia), é como rodar a semana inteira gastando um litro de gasolina. Nada mal hein, curti.

O painel da EVS é bem bonito, em TFT colorido. É possível conectar o smartphone ao painel via bluetooth, permitindo ver no display o nome da música e do álbum que está tocando. Sim, a EVS tem um sistema de som! Além disso, há a notificação de chamada recebida e informações de navegação enviadas pelo GPS do seu celular. Esse painel também traz relógio com data e hora, informações sobre consumo em tempo real das baterias, dois trips, autonomia restante, modo de condução em uso (ECO, STANDARD, TURBO) e temperatura externa.

Como a moto é automática (sem marchas), é no painel que está a indicação do P (parking). Com o P ativado, o acelerador não funciona. Para retirar a moto do P e começar a andar, basta apertar um botão no punho direito. Bem simples, fácil de operar! No painel também há a indicação da ré. Isso mesmo, a EVS tem ré. Mantendo pressionada a tecla R no punho esquerdo, a EVS anda para trás. Isso é útil principalmente em ladeiras, quando é necessário manobrar a moto. Os motociclistas entenderão perfeitamente a que situação me refiro.

Aí vai outra dica de uso da EVS: se a data e a hora estão aparecendo no painel, a moto está pronta para ser conduzida. Basta tirar ela do “P”. Na hora de desligar, quando a data e a hora somem do painel, é sinal de que a moto já iniciou o processo de desligamento (igual a um computador, impressionante!)

A Voltz disponibiliza o app “Hello Voltz” que te permite monitorar a moto à distância. Com ele é possível monitorar a vida útil das baterias, autonomia restante, mas também rastrear a moto, bloquear e liberar a partida e definir contatos de emergência em caso de acidente. Por enquanto são essas as funções do app, mas a Voltz promete mais funções futuramente.

O mundo dos veículos inteligentes e computadorizados é assim mesmo… A evolução é constante, não pára. A Voltz prevê, inclusive, que atualizações para a moto poderão ser baixadas pelo proprietário através do app e instaladas na moto, sem o auxílio da assistência técnica. Com isso a moto melhora o comportamento, ganha novas funções… Bacana!

O farol, a lanterna traseira e os piscas são em led. Não faria sentido utilizar lâmpadas convencionais em um veículo elétrico, não é mesmo? Agora chega de características, como é andar na EVS? Na minha opinião, a moto é boa de andar. O desempenho é bom para o uso urbano, a autonomia é boa, recarga ágil, freios combinados (CBS) são muito eficientes.

Visualmente a moto chama bastante atenção. Muita gente me abordou afirmando que a EVS lembra muito uma CB 300. O símbolo da Voltz aceso na altura das pedaleiras dianteiras e o sistema de auto-falantes da moto contribuem definitivamente para a moto se transformar no centro das atenções nas paradas de semáforo.

A suspensão traseira, monobraço, é eficiente. A moto aguenta até 200kg de carga, mas não andei com garupa. É claro que, quanto maior o peso, menor a autonomia… A suspensão dianteira, do tipo invertida, eu não curti. Achei frágil, subdimensionada, macia demais. Em velocidades mais elevadas (90-100km/h), principalmente quando o asfalto não está legal, fica a sensação de fim de curso, como se a frente estivesse pulando, balançando. O quadro da EVS também me pareceu flexível demais, poderia ser mais rígido.

Como a versão que testei era 2021, se fez presente o conhecido problema de folga na caixa de direção. A Voltz afirma que o problema foi resolvido na versão 2022 com a troca do fornecedor da peça. Há uma polêmica na internet sobre o uso da EVS na chuva. Bem, andei 95km com a EVS na chuva pesada e posso dizer o seguinte… A moto não parou comigo, nem deu sinal de que algo poderia dar errado. Funcionou normalmente, à exceção do … alto-falante! Pois é, no dia seguinte à chuva o auto-falante ficou muito baixo e com ruídos. Não tenho como afirmar que foi a chuva, mas acredito que sim. Pode ser um problema de software também, de repente dando um “reset” na moto a caixa de som volta a funcionar normal. Novamente, coisas de veículo moderno computadorizado ao extremo!

Outro ponto que tenho que destacar: algumas peças metálicas da moto estavam enferrujadas, mesmo a moto marcando menos de 1800km no odômetro. Refiro-me aos parafusos da roda traseira e alguns anéis metálicos na região do guidão. Não detectei outros pontos de ferrugem. Entendo que a versão 2021 objeto do teste ainda contém alguns defeitos que deveriam ter sido endereçados na 2022. Mesmo assim, a experiência com a moto foi bastante positiva.

A maior concorrente da Voltz EVS atualmente é uma moto da própria Voltz: o scooter EV1 Sport. Fiz um test-drive de alguns minutos nele, curti o scooter. Devo dizer que achei o desempenho inferior ao da EVS… Em compensação, senti a suspensão mais acertada, por incrível que pareça. Há também a Super Soco, um moto com visual bem bacana e acabamento melhor do que a EVS. Em compensação, o desempenho e autonomia são inferiores, e o preço é mais salgado. Há ainda outras motos elétricas no mercado brasileiro disponíveis para venda das marcas Shineray e Watts, mas nenhuma delas alcançou a popularidade das motos da Voltz. O fato é que o segmento está aquecido e promete muitas novidades já nos próximos meses!

Ao final do teste resolvi pagar os R$500 para entrar na fila de futuros proprietários da moto. O prazo de entrega é de aproximadamente 28 semanas (haja paciência, o número de reclamações na internet de clientes em relação ao prazo de entrega é enorme). A boa notícia é que a Voltz espera reduzir consideravelmente esse prazo até outubro deste ano, praticamente zerando a fila. Para cumprir essa meta, contam com a produção das motos na fábrica de Manaus, ao invés de virem prontas da China. Com a fábrica no Brasil, em operação desde junho deste ano, a tendência é o controle de qualidade ser melhor e algumas peças começarem a ser produzidas em solo brasileiro. Exemplo: os pneus que equipam a EVS, de marca desconhecida, serão substituídos por pneus Pirelli brasileiros.

Há risco do modelo ser tirado de linha e quem comprar ficar com um pepino na mão? Sim, entendo que há. Notem, entretanto, que as baterias que equipam a EVS parecem ter se tornado o padrão da marca, considerando que a rede de recargas criada pela Voltz, que não custou barato, utiliza o padrão de bateria da EVS (atenção, a EV1 Sport tem uma bateria diferente…). Isso é um fator que afasta um pouco esse risco, no meu entendimento.

Pode a Voltz, uma empresa brasileira de tecnologia fundada recentemente, que até o início da operação da fábrica em Manaus importava motos da China e vendia no Brasil não dar certo e novamente o consumidor que comprou a EVS ficar com um problema nas mãos? Sim, o risco existe. O mercado é competitivo, tudo pode acontecer. A Voltz, entretanto, começou na frente, atraindo investimentos de fundos, construiu uma fábrica em Manaus que já está em operação, isso tudo confere uma credibilidade maior à marca. A procura pelas motos está elevada, outro bom sinal.

E as histórias da internet de prazos de entrega desrespeitados? A Voltz vai insistir em ser otimista e seguir se comprometendo com prazos que depois não consegue atender? Todos esses pontos devem ser conhecidos e avaliados por quem deseja fazer negócio com a Voltz, ou com qualquer outra empresa que comercializa motos elétricas. É verdade que as marcas tradicionais (Honda, Yamaha, etc) ainda não lançaram modelos elétricos “populares” no Brasil.

Na minha visão, a Voltz EVS é uma opção viável para quem procura uma moto pequena para usar no dia-a-dia, no trajeto casa/trabalho. Se você roda entre 20-50km ao dia, é uma opção interessante. Desempenho similar a uma moto de 160cc, gastando quase nada por quilômetro rodado (considerando que uma recarga completa custa R$7,00-8,00 e a autonomia da moto no uso real fica na casa dos 120km). Manutenção baixíssima, poucas peças… Os apelos são muitos, não é à toa que a procura pelo modelo é grande!

*FICHA TÉCNICA:

Potência 3 kW (7 kW pico)

Torque não informado

Câmbio Não

Geral:

Bateria Lítio, 72 V, 33,6 Ah, 2,45 kWh

Velocidade Máx. 120 km/h (modo Sport)

Autonomia 120 km (uma bateria, modo ECO)

Dimensões:

Comprimento 1.980 mm

Largura 800 mm

Altura não informado

Entre-eixos 1.460 mm

Distância do solo 200 mm

Altura do assento 850 mm

Peso 132 kg (com uma bateria)

Chassi:

Freio dianteiro Duplo Disco

Freio traseiro Disco

Pneu dianteiro 110/70-17

Pneu traseiro 140/70-17

ABS Não

Controle de Tração Não

Outros:

Painel totalmente digital Sim

Painel Digital em LCD ou TFT TFT

Iluminação Full-LED Sim

*Dados do fabricante

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