Avaliação – Lexus CT200h Luxury 2016
Fotos: Marcus Lauria
Eu sou apaixonado por carro, e acredito que você, leitor, também é. Como apaixonados por carros, nós temos prazer com o som do motor, apreciamos uma boa troca de marchas e nos regozijamos com o júbilo proporcionado por bons propulsores girando a rotações elevadas. Corre gasolina (ou etanol, no caso de alguns) em nossas veias, nosso coração é quatro tempos, temos cilindros, pistões e bielas ao invés de átrios e ventrículos.
Portanto, carros elétricos são um sacrilégio, uma heresia, um golpe profundo no âmago de nossa religião aonde os deuses são os motores a gasolina. Quanto maiores e mais fortes, melhores eles são. Qual a graça de um carro sem ronco? Qual o prazer em motores que não giram? Em um mundo aonde bacon causa ataques cardíacos, cigarro mata, sexo precisa de embalagem plástica e algumas cervejas possuem cheiro de chocolate, deixem-nos ficar com nossos motores, mesmo que nos forcem a plantar uma árvore ou adotar um urso polar cada vez que passarmos das 5.000 rpm.
Mas há um meio termo, os híbridos. Carros híbridos são o futuro. Eles agradam tanto o ambientalista quanto o gearhead, uma prova disso é que os carros de Fórmula 1 são híbridos. E se sua ideia de carro híbrido é uma coisa esquisita com visual estilo Jetsons, é melhor rever seus conceitos. Carro híbrido pode ser interessante, e esse é o caso do Lexus CT200h, que combina uma carroceria hatch com toques de esportividade, consumo apaixonante e desempenho respeitável.
Comecemos com o que há debaixo do capô: um motor 1.8 16V com duplo comando variável de válvulas e ciclo Atkinson, que rende pacatos 99 cv @ 5.200 rpm de potência e 14,5 kgfm @ 4.000 rpm de torque, bebendo apenas gasolina. Mas não use esses números como referência, pois combinado a esse propulsor, há um motor elétrico do tipo 3JM, com 82 cv de potência e 21 kgfm de torque. O resultado é uma potência combinada de 136 cv, administrados por uma transmissão CVT. O conjunto permite ao carro de 1.465 kg acelerar de 0-100 km/h em 10,3 segundos, de acordo com a Lexus. É o desempenho que se espera de um hatch com motor aspirado 1.8 ou até 2.0.
O visual do carro é agradável, mas a atenção atraída nas ruas é fruto da raridade (o Lexus vende pouco) e não tanto da ousadia das linhas do CT200h. Na dianteira, o hatch conta com faróis cujos grupos ópticos são bem definidos e traz assinatura em LED, além da grade frontal no formato de hexágono invertido, assim como em outros Lexus. Sua lateral é esguia e a coluna C traz visual incomum. Por fim, na traseira há lanternas com lente transparente estilo tuning e extratores funcionais na base do para choque. Com a baixa altura de rodagem e as linhas fluidas, o hatch tem um ótimo Cx de 0,29.
Do lado de dentro, há o luxo que se espera de um Lexus, especialmente nessa versão mais completa, batizada como Luxury. O modelo conta com bancos em couro com aquecimento e regulagens elétricas, faróis em LED, teto solar elétrico, central multimídia com DVD, TV e 12 auto-falantes, entre outros itens. Na prática, o conforto nos bancos dianteiros é de altíssimo nível, com bancos macios na medida e bem envolventes, e a posição de dirigir para o motorista é irrepreensível. Na traseira, falta espaço para passageiros mais altos, por conta das baterias sobre o eixo traseiro e, o mesmo ocorre no porta-malas, que tem piso elevado e capacidade de apenas 272 litros (375 litros até o teto).
Colocar o CT200h em movimento é interessante, pois quem dá as caras ao se pressionar o botão de partida é apenas o motor elétrico. Ou seja, exceto pelo “Ready” aceso no painel, não há qualquer ruído que denuncie que o CT200h está em funcionamento. Em manobras e em baixa velocidade, sempre que houver carga na bateria, o Lexus funcionará sempre em modo elétrico, sem consumir uma gota de gasolina e sem emitir nenhum gás poluente. E manobrar o carro é bem tranquilo, pois sua direção é elétrica (embora não seja tão leve), a visibilidade é boa para todos os cantos, há sensores de estacionamento na frente e atrás e, além disso, o diâmetro de giro é de bons 10,4 m.
No uso urbano, em velocidades baixas, o carro utiliza o motor a gasolina basicamente para recarregar as baterias do motor elétrico. É possível ativar, com um botão, o modo EV (Electric Vehicle), que utiliza apenas o modo elétrico até 45 km/h, mesmo com maiores pressões no acelerador. Nesse caso, a autonomia é reduzida, em torno de 2 km nos nossos testes, e tão logo as baterias começam a se descarregar, o motor a gasolina entra em ação, de modo bem suave. E a suavidade continua na maciez da suspensão e na atuação do câmbio CVT, especialmente em modo ECO, quando o carro fica realmente moroso e é adequado apenas para engarrafamentos. Para deslocamentos mais ágeis, o ideal é usar o modo Normal, que deixa o mapeamento do acelerador mais arisco.
Já no uso rodoviário, o carro flui de forma confortável em modo Normal, com o giro do motor a gasolina sempre baixo. Em caso de necessidade, basta afundar o pé no acelerador e os dois propulsores atuam em conjunto para entregar força máxima, e o CT200h não é fraco nas acelerações e retomadas, demonstrando boa força para fazer ultrapassagens. O isolamento acústico é ótimo, padrão Lexus, e a rodagem do carro é bem macia, em qualquer tipo de asfalto. Para quem desejar mais desempenho, basta selecionar o modo Sport e, nessas condições, o câmbio CVT adota rotações mais altas do motor e um conta-giros aparece no cluster, que também assume coloração vermelha. Na prática, o ganho é pequeno, mas vale para dar mais vivacidade ao carro.
Na dinâmica, o lado hatch esportivo fica mais evidente, graças ao conjunto de suspensões independentes nas quatro rodas (McPherson na dianteira e braços sobrepostos na traseira). Os pneus de medida 205/55 R16 proporcionam uma boa quantidade de borracha em contato com o solo, e ajudam no desempenho dos freios a disco nas quatro rodas. Bem neutro no limite, o carro conta ainda com controles de tração e estabilidade para o caso de algo sair do controle.
Mas o grande trunfo deste carro está no consumo. Conseguimos uma média de 20,4 km/l na cidade e 17,8 km/l na estrada. Como assim? Consumo urbano menor que o rodoviário? Sim, pois nos híbridos, na baixa velocidade da cidade e nos momentos de engarrafamento ou sinal fechado, o motor elétrico trabalha mais enquanto o motor a gasolina fica desligado. É o contrário do que ocorre na estrada, pois o desempenho vem quase exclusivamente do motor a gasolina, que também agrada por ser bem econômico.
Diante do que vimos, repito: carros híbridos são o futuro. Mas por enquanto, especialmente no Brasil, são parte de um futuro bem distante. Faltam por aqui incentivos para que os carros sejam fabricados em solo nacional, barateando seus custos e popularizando suas vendas. O Lexus CT200h custa R$ 134.000 na versão Eco e R$ 154.000 na versão Luxury (testada). É muito caro, mesmo com toda a economia proporcionada. Há outros híbridos no mercado, como o Toyota Prius e o Fusion Hybrid, mas todos eles custam mais de R$ 100.000, e fica difícil para o consumidor comum visualizar as vantagens dessa ótima tecnologia.
CONFIRA NOSSO VÍDEO: