Avaliação – Honda ADV 150 2021
Um scooter aventureiro preparado para o rally das cidades brasileiras
Fotos Arnaldo Bittencourt
Um scooter na cidade é um veículo extremamente útil. Pequeno, econômico e ágil no trânsito, o scooter te leva a qualquer lugar de forma rápida e gastando muito pouco. Mesmo quando chove ele é útil: as carenagens protegem o piloto da chuva.
Lembro que uma montadora de motos brasileira chegou a disponibilizar em seu site uma calculadora cujo objetivo era demonstrar que comprar uma moto financiada saia mais barato do que andar de ônibus todos os dias. Nessa conta entrava, além da prestação do financiamento, IPVA e combustível da moto!
Não é à toa que na Europa e em diversos países da Ásia os scooters são muito populares. Em um mundo pós-pandemia, os scooters, ou talvez as motos de forma geral, ganharam um apelo ainda maior, pois possibilitam o deslocamento de forma barata e sem enfrentar as aglomerações bastante comuns nos transportes públicos das grandes cidades (ônibus, trens e metrô). Aqui no Brasil a cultura das motos cresce há vários anos. As vendas nas duas últimas décadas aumentaram consistentemente.
As motos de baixa cilindrada são bastante populares em todas as regiões do Brasil. As motos de cilindrada maior também vendem bem por aqui, tanto é que, em meados da década passada, o Brasil chegou a ser considerado a terra da Honda Hornet (CB600F). Durante vários anos, nenhum outro país do mundo vendia mais Honda Hornet que o Brasil. Certo, isso aconteceu aqui em boa parte em função de uma ausência de opções na faixa dos 400cc a 600cc, bem como em função da Honda ser uma montadora que já atua há muitos anos no Brasil, estando bastante presente no país, dotada de concessionárias em todos os cantos do país. Infelizmente o modelo saiu de linha em 2014, mas segue existindo no imaginário de grande parte dos motociclistas brasileiros. Prova disso é que, em pesquisa recente, foi constatado que o nome “Honda Hornet” continua sendo bastante procurado na internet pelos internautas brasileiros.
Ouso inferir que, não fosse a violência verificada nas grandes cidades brasileiras (assaltos a motociclistas) e a falta de educação geral do brasileiro no trânsito, o mercado de motos seria muito maior do que é hoje. O Brasil, não obstante, tem um mercado com grande potencial de crescimento, isso é inegável. Mas vamos lá, chega de lero-lero, estou aqui para falar do Honda ADV 150, esse belo produto que a Honda disponibilizou no Brasil.
Muito tecnológico, seguro e fácil de pilotar, o Honda ADV 150 está disponível nas cores “vermelho” e “branco perolizado”. O modelo que testei era nessa primeira cor, que apresenta uma bela tonalidade vermelha, com detalhes em preto. Dado o interesse dos brasileiros por motos de baixa cilindrada, desnecessário dizer que a moto chama bastante atenção na rua, a ponto de gerar um certo desconforto… Parado nos sinais, é muito comum os outros motociclistas olharem para o scooter, alguns discretamente, mas outros descaradamente. Daí a cabeça traumatizada de um carioca como eu entra logo em ação: “estou chamando muita atenção na rua, daqui a pouco alguém me assalta”. É triste pensar assim, mas no Rio de Janeiro esse pensamento não está distante da realidade, infelizmente.
O design do ADV 150 é muito elegante, principalmente na parte frontal. As linhas limpas e aerodinâmicas frontais dão um ar de modernidade ao scooter. Os faróis, em led, são alongados e iluminam muito bem, além de serem muito bonitos. Há ainda um parabrisa (uma bolha) com altura ajustável manualmente para desviar o vento e, assim, aumentar o conforto durante a pilotagem. Como esse ajuste exige o uso das duas mãos, não é possível operar o sistema com a moto em movimento. Já na traseira, a lanterna em led compõe um conjunto harmonioso com a carenagem, a ponteira do escapamento e os grandes amortecedores com reservatório de gás da marca Showa.
Percebe-se que o ADV 150 foi desenhado para garantir um elevado grau de conforto em qualquer tipo de terreno, mesmo tendo rodas menores que uma moto convencional (14” na dianteira e 13” na traseira). Mérito da suspensão de longo curso desenvolvida exclusivamente para esse scooter. Inovadora e aventureira, a Honda ADV é a primeira scooter da categoria com suspensão Showa de longo curso. Com mola progressiva de 3 estágios e amortecedor com duplo reservatório externo, ela garante conforto e melhor desempenho para o piloto, mesmo em vias esburacadas e irregulares. Mérito também dos pneus de uso misto, mais largos, proporcionando mais agilidade, estabilidade e segurança em qualquer tipo de terreno. Muito bacana!
O banco do ADV 150 é grande e comporta piloto e garupa com conforto, permitindo que duas pessoas possam sentar-se facilmente, Debaixo do banco há bastante espaço, cabendo um capacete fechado e outro aberto, ou um capacete fechado e uma pequena mochila ou capa de chuva daquelas grandes emborrachadas. Consegui, por sinal, encaixar nesse espaço com alguma dificuldade a minha mochila contendo um notebook com tela de 15.4 polegadas dentro. A ideia era andar com o scooter sem exibir a mochila nas costas, evitando assim suar a camisa em função do calor carioca mas também possíveis assaltos ao trafegar no horário de rush em avenidas em que as motos ficam agarradas entre os carros e ônibus (lá estou eu falando em assalto novamente, não tem jeito). Pois bem, a prática funcionou bem até o último dia do teste. Nesse dia, ao chegar no trabalho, percebi que a tela do note havia trincado, provavelmente por ter ficado mal instalado debaixo do banco do ADV 150.
Há uma tomada 12v no porta-treco localizado ao lado painel, que pode ser usada para carregar itens eletrônicos após a instalação de um daqueles conversores de porta 12v para USB. Nesse mesmo porta-treco também é possível guardar, por exemplo, o seu telefone celular durante a viagem, enquanto carrega via porta 12v. Não há tranca no porta-treco, então nada de deixar o celular ali após estacionar o scooter.
O painel do scooter é bonito e bastante completo. Nele, além de velocidade, nível do combustível, data e hora, o piloto tem acesso a informações não tão comuns como consumo instantâneo, média de consumo, autonomia e carga da bateria. Há entretanto um problema nesse painel… Primando pela estética, a Honda optou por utilizar um LCD invertido, daqueles que os números são na cor cinza e o fundo é preto. Realmente o efeito visual é ótimo, melhor do que um LCD convencional (fundo cinza, números pretos). Ocorre que, dependendo do ângulo de incidência da luz, a sua visualização torna-se mais difícil. Buscando melhorar a visibilidade do painel, a montadora instalou uma pequena cobertura sobre o painel, uma espécie de “para-sol”, que reduz o problema mas não o evita completamente. Saliento que em nenhum momento o painel deixa de ser legível, mas em alguns momentos do dia é preciso fazer um certo esforço para enxergar a informação indicada no painel, principalmente no caso dos números do computador de bordo, que são apresentados em tamanho menor.
Os freios são bastante eficientes e há sistema ABS capaz de evitar o travamento da roda dianteira em caso de frenagem brusca. Poderia ser nas duas rodas, né dona Honda… Veja bem, o freio do ADV 150 é muito bom, a roda traseira não trava facilmente, sendo que na terra poder travar a roda traseira pode ser útil. A questão é que a concorrência oferece scooters com ABS nas duas rodas, e isso atrai bastante a atenção do público, então vamos lá dona Honda…
E o motor? Trata-se do mesmo motor monocilíndrico arrefecido a líquido, de 150cc, que equipa outro scooter da Honda que é um grande sucesso no Brasil, o Honda PCX. Há, entretanto, uma melhoria no coletor de admissão que melhora a entrega de força em baixas e médias rotações. Assim, os valores de potência e torque são iguais ao valores do PCX, mas a rotação em que os valores máximos são obtidos é diferente: no ADV temos 13,2cv a 8.500rpm e 1,38kgfm de torque a 6.500rpm.
O scooter conta com o sistema eletrônico “idling stop”, popularmente conhecido no mundo das 4 rodas como “start-stop”. Esse sistema desliga o motor quando a scooter está parada e liga automaticamente ao acelerar. Quando o motor está frio, o sistema não atua. O objetivo desse sistema é ajudar na economia de combustível e na redução da emissão de gases na atmosfera. O seu funcionamento é perfeito, sem falhas.
A transmissão é CVT, como nos demais scooters da categoria. Ou seja, nada de se preocupar com marchas, basta girar o punho e acelerar. As manetes atuam como freios, nada de embreagem, o que é extremamente positivo em um veículo com vocação urbana. Em termos de consumo, a média no meu trajeto casa-trabalho (ida e volta), que envolve algumas vias expressas, ficou em 42km/l. Considero essa média muito boa. Talvez seja possível alcançar médias melhores maneirando no acelerador. Além disso, a moto estava com baixíssima quilometragem, ainda no período de amaciamento. Sabe-se que essa condição não é favorável para o consumo. Considerando que o tanque do scooter tem 8 litros de capacidade, mantendo essa média dá para rodar BASTANTE com um tanque. Com o preço da gasolina na estratosfera, autonomia elevada torna-se um grande atrativo para o consumidor.
A chave da ADV 150 é presencial (smart key), o que facilita o uso da moto no dia a dia. É bastante prático poder ligar e desligar a moto sem tirar a chave do bolso, ou da mochila (principalmente se ela estiver “perdida” no meio de várias outras coisas!). O rodar do ADV 150 é “durinho”, como em qualquer scooter. A suspensão não é macia como uma suspensão de moto trail, obviamente, mas diria que é bem próxima de uma moto urbana “normal”, com rodas maiores. Dá conta de absorver boa parte dos remendos do asfalto e até buracos menores. A coluna do piloto agradece.
O motor acelera com bastante suavidade, não apresentando grandes vibrações até 90km/h. A velocidade final do scooter gira em torno dos 110km/h. O preço sugerido do ADV 150 no site da Honda é R$18.500, sem frete, podendo ser encontrado nas concessionárias por valores maiores. Não é um scooter barato, é verdade, mas aquele que tiver meios de levar um para casa certamente ficará bastante satisfeito com esse produto versátil e de visual diferenciado comercializado em solo nacional pela Honda.
*FICHA TÉCNICA:
MOTOR
Tipo: OHC, Monocilíndrico 4 tempos, arrefecimento líquido
Cilindrada: 149,3 cc
Potência Máxima: 13,2 CV a 8500 rpm
Torque Máximo: 1,38 kgf.m a 6500 rpm
Transmissão: Tipo V – MATIC
Sistema de Partida: Elétrica
Diâmetro x Curso: 57,3 x 57,9 mm
Relação de Compressão: 10,6 : 1
Sistema Alimentação: Injeção Eletrônica, PGM FI
Combustível: Gasolina
CHASSI
Tipo: Berço Duplo
Suspensão Dianteira/Curso: Garfo telescópico
Suspensão Traseira/Curso: Dois amortecedores com Twin Subtank Showa
Freio Dianteiro/Diâmetro: A disco / 212,71 mm / 240 mm
Freio Traseiro/Diâmetro: A disco / 185,83 mm / 220 mm
Pneu Dianteiro: 110/80 – 14
Pneu Traseiro: 130/70 – 13
DIMENSÕES e CAPACIDADE
Comprimento x Largura x Altura: 1950 x 763 x 1153 mm
Distância entre eixos: 1324 mm
Distância mínima do solo: 165 mm
Altura do assento: 795 mm
Peso Seco: 127 kg
Tanque de Combustível: 8,0 litros
Óleo do Motor: 0,9 litros (0,8 litro p/ troca)
*Dados do Fabricante