Avaliação – BMW X6 4.4 xDrive50i M Sport 2016
Fotos: Marcus Lauria
Para muitos, o BMW X6 não faz sentido. De fato a BMW tem um SUV grande, o X5, e tem também esportivos, cupês e tudo mais. Qual a razão de fazer um SUV com carroceria “cupê”, dimensões tão generosas quanto o desempenho e aptidão off road menor do que a capacidade de dar voltas muito rápidas em Nurburgring? Não parece haver razão, mas se entrarmos no campo da emoção, o X6 faz todo o sentido, especialmente nessa versão avaliada, a xDrive50i com pacote M Sport.
Aliás, não chame o X6 de SUV, ele quer ser chamado de SAV (Sport Activity Vehicle). É mais chique, e mais condizente com o visual extravagante do carro, que ganhou linhas renovadas na linha 2015, desenhadas para fornecer maior fluidez aerodinâmica ao modelo. Há também retrovisores e spoiler em fibra de carbono, bem como uma pequena atualização na grade frontal. Mudanças pequenas e pontuais, suficientes para o X6 continuar arrancando suspiros por onde passa. E, como se não fosse suficiente, essa versão M Sport acrescenta ainda apaixonantes rodas aro 20”.
Mas basta abrir o capô para visualizar o que realmente tira o fôlego: um enorme V8 4.4 biturbo a gasolina, que entrega uma potência de 450 cv @ 5.500-6.000 rpm e um torque máximo de 66,3 kgfm @ 2.000-4.500 rpm. Tamanha força é distribuída nas quatro rodas (com predileção pelas rodas traseiras) e orquestrada por uma transmissão ZF de oito velocidades. Tal conjunto permite ao monstro de 2.245 kg acelerar de 0-100 km/h em 4,8 segundos e atingir uma velocidade máxima de 250 km/h. E os números de desempenho não podem descrever com exatidão a sensação incrível que é acelerar o X6.
Só que antes de sentir nas vísceras o soco causado pelo V8, o condutor irá se abrigar confortávelmente em um banco de couro com amplas regulagens elétricas. A posição de dirigir é o mais baixa possível para um carro tão alto, e a coluna de direção tem o ajuste telescópico (elétrico) mais amplo que já vi. O interior é tão aconchegante que não se percebe de imediato as dimensões do SAV, e os recursos de multimídia a bordo abusam do poder de sedução: som da Bang & Olufsen, tela de 10” dianteira e dois monitores de 9,2” na traseira e DVDs independentes na dianteira e traseira. Some isso ao espaço interno de qualidade para todos os passageiros e ao isolamento acústico de primeira.
E ninguém desfrutará mais das qualidades tecnológicas do carro do que o comandante. Há um cluster digital que altera suas informações de acordo com o modo de condução (Eco Pro, Comfort, Sport e Sport+), GPS com trânsito em tempo real, head-up display, sistema de frenagem automática, sistema de visão noturna (BMW Night Drive) e faróis em LED (Dynamic Spot Light) que direcionam automaticamente um facho de luz alta para placas, pedestres, animais ou qualquer coisa que possa ferir a integridade do X6. Além disso, há um recurso que faz o volante vibrar caso o motorista invada as faixas divisórias da estrada. Definitivamente é um daqueles carros que requer muito esforço do “piloto” para fazer alguma besteira.
Manobrar um carro de 4,91 m de comprimento, 1,99 m de largura e 2,93 m de entre-eixos em garagens apertadas pode parecer complicado, e acaba sendo, mas o X6 fará de tudo para facilitar sua vida. No display central, o carro usa as câmeras ao redor da carroceria para gerar uma imagem como se o carro estivesse sendo filmado de cima por um drone e, em conjunto com os sensores de estacionamento por todos os cantos, faz qualquer motorista recém-aprovado no teste de baliza manobrar (quase) tão bem quanto um valet de Las Vegas. E para aqueles que não confiam tanto em tecnologias, os retrovisores são grandes e abaixam suas lentes (tilt-down) para facilitar as manobras feitas à moda antiga, sendo que apenas a visibilidade pela vigia traseira é ruim, culpa da carroceria SAV.
Utilizar o X6 na cidade é tão chamativo quanto passear no shopping de mãos dadas com uma Panicat. O carro é volumoso demais para as ruas cada vez mais estreitas das nossas metrópoles, mas isso não incomoda a tranquilidade sentida ao rodar com o crossover. Em modo Eco Pro, o câmbio sobe marchas rapidamente e o start-stop coloca os 450 cv para dormir nos semáforos e paradas longas. Por contar com o BMW Adaptative Drive, os computadores do carro analisam e regulam a atuação dos amortecedores e barras anti-rolagem todo o tempo e, com isso, nem mesmo as ruas mais crocantes causam desconforto excessivo aos passageiros do X6, mesmo com pneus de perfil tão baixo. O consumo medido ficou em torno de 6,5 km/l de gasolina. Quanto mais cavalos, mais comida.
Já na estrada, o comportamento do carro é ainda superior ao que você poderia esperar. Em modo Comfort, o X6 flui suave em qualquer situação e, em modo Eco Pro, os freios regenerativos acumulam energia para a bateria e, tirando-se o pé do acelerador em velocidade de cruzeiro, o câmbio desacopla do motor e o modo Coasting faz o carro seguir “na bengala”, economizando combustível e abusando do Cx de 0,32 para ir mais longe gastando o mínimo possível. Consegui fazer até 10,8 km/l de gasolina andando suave, algo bom para um motor 4.4 de 8 cilindros mas, quem disse que dá para andar sempre suave com este carro?
É afundar o pé para uma aceleração ou retomada e não acreditar no que está acontecendo. O corpo todo é colado contra o banco, as marchas são trocadas rapidamente e, se o modo Sport estiver acionado, a cada troca de marcha um estouro é ouvido, simulando um backfire. Quem vê de fora não acredita que algo tão grande acelera tanto, e manter a atenção aos radares é mandatório para não acumular multas. Os discos ventilados nas quatro rodas fazem o carro frear tão brutalmente quanto acelera e, se não fosse pelo choro dos pneus brigando com o asfalto nas alicatadas do freio, você não saberia o quão incríveis são aquelas pizzas de metal dentro das rodas. Se não fosse pelo ABS, os pneus ficariam quadrados.
Aliás, que pneus? Esses Pirelli P Zero de medida 275/40 (dianteira) e 315/35 (traseira) que equipam o carro, e fazem com que ele devore curvas na estrada com uma aptidão espetacular para um carro com 1,70 m de altura e duas toneladas de peso. Lembra do BMW Adaptative Drive? Então, colocando o modo Sport em ação, o carro ganha direção e suspensões rígidas e, com o auxílio do sistema de vetoração de torque ativado pelos freios traseiros, o carro apresenta uma neutralidade sensacional nas curvas, mesmo se o modo Sport + (que desliga controles de estabilidade e tração) estiver acionado. Embora este seja um carro 4×4, com excesso de abuso a traseira abana, e nem precisa ser jornalista inglês para controlar a escapada como um gênio.
Mas afinal, quanto custa essa brincadeira? Não se sabe. Conforme informado pela Assessoria de Imprensa da BMW, há pouquíssimos BMW X6 xDrive50i disponíveis no Brasil, ou seja, é um carro tão raro quanto sedutor. Se levarmos em consideração o preço da versão mais simples xDrive35i, que custa R$ 417.950, podemos colocar algumas dezenas de milhares a mais no preço final do xDrive50i. Será que vale? Depende, pois há coisas menores e mais discretas, mais baratas e tão divertidas quanto (ou mais) mas, como dissemos lá em cima, o X6 é fruto da emoção, e a emoção às vezes nos impulsiona a fazer coisas sem sentido.
CONFIRA NOSSO VÍDEO:
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