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Sonho de infância – “A história do meu Chevrolet Bel Air 1957”

"Desde criança sempre fui apaixonado por automóveis"

Por Alvaro Albuquerque/Fotos Marcus Lauria/Arquivo Pessoal

Meu saudoso pai, cujo nome herdei com muito orgulho, dada a sua curta passagem pelo nosso Mundo (faleceu em 1962 aos 48 anos), só possuiu dois automóveis: um OPEL KAPITAN 1946 e um OLDSMOBILE sedan quatro portas, 1948, hidramático (!), que foi o carro em que ele me ensinou as primeiras aulas de direção. Esse OLDSMOBILE coube a mim na partilha da sua herança, tendo sido verdadeiramente o meu primeiro carro.

Havia também um outro carro da empresa dele, no qual também aprendi a dirigir carros com câmbio manual –  um JEEP WILLYS OVERLAND 1960, com tração nas quatro rodas, reduzida, etc. muito eficiente caminho e nas estradas vicinais lamacentas para Vassouras, RJ.

Como é fato conhecido pelos aficionados, o período da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) fez interromper o lançamento de novos modelos, uma vez que todas as plantas industriais, notadamente das “Big Three” – Chrysler, Ford e General Motors –  foram convertidas inteiramente para atender ao esforço de Guerra, notadamente a partir do ataque japonês à base naval de Pearl Harbor, em 07de dezembro de 1941.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, deu-se início a uma corrida desenfreada nas automotoras para “recuperar o atraso”  e conquistar o consumidor, à custa de novos projetos, concedendo aos designers inteira liberdade para criar novos modelos, em que se notava um  arrojo desmesurado, utilizando-se grandes massas de cromados, rabos-de-peixe (teriam sido inspirados no bombardeiro B-34 ?), lanternas e para-choques alusivos à aviões e foguetes, atingindo os carros dimensões extravagantes no comprimento e largura,  contando com motores cada vez mais potentes, sobretudo nos modelos americanos.

É minha opinião de que o ano de 1959 foi talvez o ápice da liberdade dos desenhistas para criarem modelos que pareciam ter saído do desenhista de Flash Gordon, uma revistinha muito lida pelos garotos da minha idade. Para se ter uma ideia, o “rabo de peixe” que adornava os para-lamas traseiros do Cadillac media um metro, a partir do chão.

Ajudado por minha querida e saudosa irmã, Lúcia, que dominava de forma perfeita o inglês, eu passei a escrever cartas todos os anos para a American Motors, Chrysler, Ford e GM, pedindo folhetos sobre produtos, lançamentos, especificações, performances, etc. Ficava muito ansioso, perguntando todo dia ao porteiro do prédio se tinha chegado alguma correspondência deles para mim.

Me lembro muito bem do dia em que recebi o material publicitário sobre a nova coleção da GM (Chevrolet, Pontiac, Oldsmobile, Buick e Cadillac) de 1957.

Definitivamente desabei de paixão pelo Chevrolet Bel Air, concebido na gestão de Ed. Cole, com linhas absolutamente lindas, para os padrões da época.

No início de 1957 – eu estava com 13 anos – quando li no jornal que a “coleção 1957” havia chegado ao Porto do Rio de Janeiro transportada por navios da companhia Moore Mc. Cormack. Recorri ao meu queridíssimo tio e padrinho, Heitor, que tinha uma empresa de turismo, para conseguir o meu acesso à área de desembarque dos carros, no Porto do Rio de Janeiro, próxima ao ponto onde hoje está instalado o Museu do Amanhã.

Quando me aproximei do lote dos Chevrolet Bel Air 1957, cobertos por uma camada externa protetora de graxa, eu realmente fiquei muito impactado e disse para mim mesmo: um dia ainda vou ter um!

Imediatamente lancei uma campanha em casa junto ao meu pai para que ele trocasse o seu Oldsmobile 1948 por um Chevy 1957 mas, infelizmente ele faleceu poucos anos depois. De lá para, cá sempre mencionei para meus próximos o “ encontro do Pier Mauá” e o sonho que sempre acalentei de um dia ter aquele carro.

No dia dos Pais de 2014, no tradicional almoço em família, meus filhos Rodrigo e Thiago queriam me dar um presente muito especial: anunciaram que tinha encontrado um Chevy Bel Air 1957 no estado do Paraná, proveniente de um sítio da região de Betim, MG que precisava de muita restauração para voltar a rodar.

O automóvel foi transportado para São Paulo, onde passou por uma restauração completa pelas mãos competentes do lanterneiro (funileiro) Paulo Salna, do mecânico Baptista e do capoteiro (tapeceiro) Gerson Ruas, dentre outros especialistas.

A obra finalmente ficou pronta no início de 2019, e, recentemente foi trazida para o Rio de Janeiro, onde resido.

Durante a matéria, mostro algumas fotos das etapas da restauração e do carro pronto. Agradeço a Deus e à família por ter-me proporcionado a realização deste sonho.

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