Quando se assume o primeiro lugar em algo, um prêmio é colocado automaticamente sobre a sua cabeça. A história dos esportes não me deixa mentir. O primeiro lugar é, ao mesmo tempo, o posto mais desejado e temido por todos que estão em uma competição. E é isso que torna tão sedutora a sensação de estar no topo.
Em nosso mercado de veículos, ninguém está acima do VW Gol. Desde que este assumiu o primeiro lugar em vendas, em duas ocasiões distintas houve um italiano que tentou colocar água no chopp alemão, mas a ofensiva durou pouco, nem arranhou a hegemonia do campeão. Fiat Tipo e Fiat Uno foram os únicos veículos que, por pelo menos uma vez, e sem a devida consistência, impediram a liderança de ponta-a-ponta do compacto das auto.
Mas agora a disputa pelo cinturão dos compactos de entrada ficou mais séria. Nunca na história desse país houveram tantos lançamentos importantes nessa divisão de veículos. A japonesa Toyota trouxe o seu indiano Etios, enquanto a Chevrolet optou por desenvolver o Onix voltado para as necessidades tupiniquins. Em outra ocasião abordarei os dois postulantes ao título em questão, mas os holofotes no momento estão sobre o top contender Hyundai HB20.
Desde que o primeiro rabisco da fábrica nacional foi feito, os coreanos já sabiam o que queriam: destronar o VW Gol. Imagino que os designers e engenheiros da marca coreana dormiram e acordaram todos os dias com fotos do Gol ao lado de suas camas, durante cada etapa do projeto. A tarefa dada a eles não seria fácil, mas a glória requer sacrifícios e lutas que sequer o melhor romance de drama poderia relatar com exatidão.
A partir do dia 10 de outubro, nas concessionárias Hyundai com portas emolduradas em azul, o consumidor brasileiro poderá entregar suas economias na compra de um carro pensado exatamente para ele, ou pelo menos é essa a idéia.
Bonito ele é. Carrega em seu genoma as linhas da tal “escultura fluída”, capaz de fazer consumidores formarem fila por modelos superfaturados no Brasil como Sonata, Veloster e Elantra. É similar ao efeito de colocar uma Panicat (de biquini) para vender gelo a esquimós, cobrando um dólar por cubo. A beleza enfeitiça e traz resultados, é fato, mas não põe mesa. E os pais do HB20 já tinham isso em mente.
Custando a partir de R$ 31.995, o compacto busca superar o VW Gol em todos os aspectos. Se não supera, pelo menos iguala. Por exemplo, os motores são 1.0 e 1.6 em ambos os casos, mas no HB20 os motores são mais modernos: o 1.0 é o mesmo que equipa o Kia Picanto, com três cilindros, comando de válvulas variável, quatro válvulas por cilindro e 80 cv com Etanol. Já o 1.6 é aquele mesmo que empurra o Kia Soul, com 16V e duplo comando variável, rendendo 128 cv com Etanol. Em tecnologia e cavalaria, dá um banho nos motores EA-111 da VW.
O VW Gol mais “pelado” é mais barato, mas o HB20 entrega ar-condicionado e airbag duplo de série. O alemão era o único compacto de entrada com coluna de direção regulável em altura e profundidade, agora não é mais. Nas dimensões, os 3,90 m de comprimento, 1,68 m de largura, 1,47 m de altura e 2,50 m de entre-eixos são similares às medidas do seu alvo, que perde por 2 cm na largura e 3 cm entre as rodas. No porta-malas, o HB20 coloca 15 litros a mais (totalizando 300 litros) do que o alemão, o suficiente para acomodar sua mochila entre a bagagem da sua esposa.
Infelizmente a Hyundai levou a sério demais a idéia de “pelo menos igualar” e se esqueceu de se destacar nos lances aonde o Gol é contra. Ar-condicionado digital ou cruise control? Não há. Teto solar? Nem em sonho. Controles de tração e estabilidade? Conta outra. E ainda que ofereça airbag duplo frontal de série em todas as versões, infelizmente não passa disso. Enquanto isso o Fiat Palio ri de orelha a orelha com seus airbags laterais e teto solar gigante (ainda que opcionais).
Se desejar, o consumidor adepto do conforto pode levar o HB20 equipado com câmbio automático de (argh) quatro velocidades, desde que escolha a versão 1.6 Confort Style por R$ 45.995 ou a Premium por R$ 47.995, com o mesmo propulsor. Ainda que possa argumentar que oferece um câmbio automático de verdade contra o ASG automatizado do VW Gol, o HB20 AT ficará corado de vergonha quando o Chevrolet Onix revelar as seis velocidades sequenciais do seu câmbio.
Mas, afinal, será o Hyundai HB20 um sucesso? Levando em consideração o preço, seus equipamentos oferecidos, o status que a marca coreana atingiu entre os brasileiros e o conjunto da obra, qualquer um afirma de olhos fechados que o sucesso é quase garantido, basta a Hyundai se comprometer em oferecer um bom pós-venda e colocar a fábrica à todo vapor para suprir a demanda por esse carro e seus componentes, que será bem alta.
Porém, a presença do HB20 no mercado não trará um novo campeão de vendas a princípio, e sim irá provocar uma maior divisão do mercado de compactos entre carros cada vez melhores, e esta será a provável razão da queda do atual detentor do cinturão, que será obrigado a se aprimorar, se ainda quiser continuar com essa dura vida de campeão. Ao consumidor dessa categoria, sugiro que se prepare, pois a briga pelo seu dinheiro nunca foi tão boa. Como diria Bruce Buffer, it’s tiiiiiiiiime!
Uma pequena correção, lá em cima diz que o Fiat Tipo teria passado o Gol em vendas. Acho que o correto seria Fiat Palio.
Um abraço!
Oi Henrique,
Obrigado pelo seu comentário. Na verdade a informação está correta sim, o Fiat Tipo passou o VW Gol em vendas por apenas um mês, em 1995.
http://bestcars.uol.com.br/classicos/tipo-3.htm
Obrigado,
Marcelo
Marcelo, legal a informação! Eu ia morrer sem saber que o Tipo passou o Gol!
Parabéns pelo texto, Marcelo. Claro e objetivo. Espero, como consumidor, que todos esses lancamentos não só tragam mais qualidade ao mercado automotivo brasileiro, mas também puxem os exorbitantes preços para baixo a fim de nos aproximar mais do primeiro mundo.
Gostei desse HB 20 marrom, porém, pelo que li nessa reportagem acho que o Gol ainda reinará absoluto por uns bons anos, pois esse motorzinho 1.0 de três cilindros não sei se será bem aceito pelo público e o 1.6 automático só tem quatro marchas, aliás a GM alardeava essa inovação… no início da década de 90 com o câmbio automático do extinto “Opalão”.
De todas as informações que colhí acerca do HB20, esta é a mais lúcida. Conhecí o Hetch da Hyunday dia 10 e a impressão que ficou foi muito boa. Mas prevejo que a montadora terá uns contratempos com o conjunto superflexivel das borrachas ( juntas ) das portas. Por conta do imtemperismo e qualidade questionavel da água nos lava a jatos no Brasil, poderá ocorrer desgastes e torções inesperadas.
por Giva ( prof Quimica)