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Avaliação – Volkswagen Saveiro Highline 1.6 MSI Flex Cab. Dupla 2015

Fotos: Marcus Lauria

Então bate aquela vontade de comer um belo hambúrguer, e as opções de restaurante recaem sobre as hamburguerias gourmet, que estão na moda, ou o bom e velho fast-food. Na primeira opção, a qualidade é garantida, mas a variedade de recheio do lanche fica aquém das opções disponíveis no fast-food, que pode não ter a mesma riqueza de sabor, mas cumpre bem a função de matar a fome.

Assim é o cardápio para quem escolhe entre uma das duas picapes pequenas líderes de mercado. Enquanto a Saveiro preza pela dinâmica impecável e o câmbio delicioso, a Strada sempre reagiu com ampla gama de opções: cabine simples, estendida ou dupla? Motor 1.4, 1.6 ou 1.8? Aventureira com ou sem bloqueio de diferencial? Pois é, com tantas opções, a italiana Fast-Food vende mais do que a Saveiro gourmet, embora possa custar mais em certas configurações.

Mas assim como a hamburgueria gourmet que permitiu aos clientes escolher uma ou duas carnes, a VW reagiu – tardiamente, diga-se de passagem – e passou a oferecer configuração de cabine dupla para a Saveiro. Trata-se de uma considerável modificação, especialmente na altura da carroceria, que precisou de um espaço extra para abrigar a cabeça dos passageiros do banco de trás. Além disso, a Saveiro traz espaço para cinco passageiros, enquanto a Strada se limita a quatro.

Na prática, os três passageiros do banco de trás sofrem, a menos que tenham porte de ginasta. Tanto o acesso quanto o espaço na extensão da cabine é ruim, tão ruim quanto na concorrência italiana, que pelo menos facilita o acesso dos mini-passageiros por meio de uma porta extra, algo que talvez seja adotado na Saveiro 2018. Eu, com meu porte de rinoceronte, só consegui ocupar o banco traseiro por alguns segundos, antes de ser acometido por uma cruel crise de claustrofobia.

Ocupando o banco do motorista, não pude deixar de frustrar-me com a falta da regulagem em altura e profundidade do volante, denotando que a Saveiro Highline, que deveria ser a mais completa da gama (junto com a Cross e não abaixo desta) deriva das versões intermediárias do Gol, com aletas mais simples dos comandos de seta/limpador e acionamento dos faróis por comandos giratórios na haste e não no painel, como no resto da linha VW. Pelo menos o volante é aquele (bom) multifuncional de sempre, mas sem acabamento em couro.

A posição de dirigir é um pouco mais alta do que se observa nas versões com cabine estendida, e o trilho do banco parece ser mais curto, atrapalhando a vida de quem tem pernas mais compridas. Outro fator negativo é que o cinto de segurança passa a incomodar, assim como ocorre na Strada. Precisava ser tão fiel ao copiar a rival? Em contrapartida o espaço para a cabeça é bom, enquanto os bancos continuam apoiando bem as costas e as coxas.

Ajustar os retrovisores externos é fácil, e logo se encontra uma posição agradável de forma que eles possam compensar a péssima visibilidade através do retrovisor central, por culpa da caçamba arrebitada. Para manobrar, o sensor de estacionamento (opcional) com indicação gráfica no rádio supre a falta de visibilidade com louvor. Com tudo isso, somado à direção hidráulica sem peso excessivo, manobrar a Saveiro em vagas apertadas é uma tarefa tranquila.

Em percurso urbano, o primeiro ponto positivo a ser notado é que o câmbio MQ 200 de engates precisos e eficientes continua a mesma maravilha. A suspensão também continua trabalhando com louvor, sem deixar a picape chacoalhar muito com a caçamba vazia. Seu motor 1.6 8V da família EA-111 também não mudou, e continua eficiente ao entregar 15,6 kgfm @ 2.500 rpm, ofertando torque suficiente desde as baixas rotações. Uma pena que a VW tenha deixado apenas a Saveiro Cross com opção do belíssimo bloco 1.6 16V da família EA-211.

Passando para o comportamento em rodovias, nota-se que os 104 cv @ 5.250 rpm do 1.6 são apenas cumpridores, ofertando boa dose de força em todas as situações, gozando do excelente casamento com o câmbio bem escalonado. Porém, em ultrapassagens aonde eleva-se o giro do motor, nota-se que falta tempero acima das 4.500 rpm, situação em que o carro pouco desenvolve, mas o ruído do motor invade o habitáculo sem dó. Em velocidades mais altas, os ruídos aerodinâmicos e de rolagem dos pneus se juntam ao concerto, maltratando um pouco os ouvidos.

Falando sobre o comportamento dinâmico, as pinças mordem os discos nos quatro eixos, a Saveiro aponta para a curva com atitude e a tendência é completamente neutra, sem qualquer demonstração de instabilidade em qualquer um dos eixos. A carroceria rola bem pouco e os pneus Pirelli P3000 de medida 205/60 R15 grudam no solo e são bem comedidos na cantoria. E tal comportamento exemplar em curvas deve ser a explicação da VW para não trazer o controle de estabilidade da Cross para o restante da linha, o que é uma pena.

A idade do motor pesa no consumo de combustível, que ficou em 6,3 km/l com etanol na cidade e 9,3 km/l na estrada, uma marca apenas razoável para uma picape com pouco mais de 1.100 kg. E quanto ao preço, a VW mostra que aprendeu com a Fiat, cobrando a partir de caros R$ 54.380, que podem aumentar para R$ 57.300 quando equipada com sensor de estacionamento traseiro, roda de liga leve, bancos em couro e capota marítima. Como comparação, a Fiat Strada Trekking 1.6 16V cabine dupla parte de R$ 53.950 e pode chegar a R$ 57.830 equipada de forma similar, ou a caríssimos R$ 62.294 quando completamente equipada.

Em suma, a VW conseguiu equiparar a Saveiro cabine dupla à sua rival, e embora de não trazer a praticidade da porta extra, consegue levar uma mini-pessoa a mais. E mesmo a Saveiro adquirindo pontos negativos da Strada cabine dupla como o preço elevado e a posição de dirigir pouco confortável, sua dinâmica continua superior à da rival, abrindo um sorriso no rosto de quem dirige por gostar do que faz. Assim como na comparação com os hambúrgueres, apesar das semelhanças, o hambúrguer gourmet satisfaz mais quem realmente gosta de hambúrguer.

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