Avaliação – Audi S3 Sedan 2.0 TFSI S tronic quattro 2015
Primeiro desligue o controle de tração, por meio de um botão no painel. Em seguida, no Audi Drive Select, escolha o modo Dynamic, que por sua vez já colocará o câmbio em modo S. O próximo passo é pisar no freio com o pé esquerdo, e no acelerador com o pé direito. O conta-giros estará marcando 4.000 RPM quando for o momento certo. Então, solte os freios e mantenha o pé cravado no acelerador enquanto aprecia o asfalto ser engolido, a paisagem se transformar em arte abstrata e as vísceras serem comprimidas pela ação brutal da força G.
Se você estiver fazendo isso em um local propício, após mais ou menos 5 segundos, o velocímetro digital marcará 100 km/h, e daí em diante os números obscenos vão aparecendo sem pudor, enquanto o câmbio S Tronic vai jogando marchas pra cima de forma alucinada e a tração Quattro gerencia a forma como os quatro pneus vão descarregar a força disponível no asfalto. O ronco do motor tem um timbre rouco e encorpado que apaixona mais conforme os giros sobem, e cada troca de marcha com o pé embaixo é acompanhada por um delicioso estampido nas quatro saídas de escape.
São R$ 215.990 cobrados por tal experiência aqui no Brasil, uma considerável diferença de R$ 77.000 em relação ao A3 1.8 TFSI, cujo motor de 180 cv já confere um desempenho interessante ao carro. Mas se analisarmos as diferenças (especialmente mecânicas) entre eles, cada centavo pago a mais se converterá em uma gota a mais de felicidade e uma pitada a mais de sorriso. E se considerarmos que o concorrente Mercedes CLA 45 AMG, custa R$ 298.900 (apesar dos 360 cv que adoraríamos experimentar), o Audi se torna uma pechincha.
O Audi S3 Sedan é um típico modelo aonde os limites dele costumam estar bem além dos limites de quem o dirige ou mesmo dos limites da estrada/pista aonde o carro é utilizado. Em relação ao A3 Sedan convencional, a variante esportiva traz suspensão rebaixada em 25 mm e redimensionada para a maior performance, além de freios maiores, com discos ventilados de 312 mm na dianteira e 272 mm na traseira. Seus pneus Continental medida 225/45 R18 garantem boa aderência e traduzem à direção os detalhes do que se passa sob o carro.
A jóia deste esportivo é o motor EA888 2.0 turbo de quatro cilindros, que entrega 280 cv de potência entre 5.500 e 6.200 RPM. A pressão da turbina a 1,2 bar garante um torque máximo de 38,7 kgfm disponível em uma mesa que vai dos 1.800 RPM até 5.500 RPM, algo sensacional. Sua transmissão S Tronic DCT de seis velocidades é banhada a óleo, e orquestra a força que é distribuída ao diferencial Haldex, que atua com a tração nas rodas dianteiras, mas gerencia até 50% da força para as rodas traseiras, conforme a demanda. O sistema é diferente do padrão nos Audi mais fortes com tração Quattro, aonde o diferencial Torsen mantém a tração integral de forma permanente, distribuindo livremente o torque entre os eixos.
Graças à plataforma MQB, o carro tem um peso total de 1.460 kg, relativamente baixo para um modelo com tração integral, e um expoente de magreza se compararmos com o peso de seu principal concorrente, o Mercedes CLA 45 AMG, 155 kg mais gordo. Suas dimensões são condizentes com sua leveza, 4,47 m de comprimento, 1,80 m de largura, 1,39 m de altura e 2,63 m de entre-eixos. Com diâmetro de giro de 10,9 m, é possível guardar o S3 em garagens complicadas sem muito sofrimento.
Por falar no exterior, as modificações em relação às versões civis são poucas e ligeiramente discretas, como pequenas alterações nos para-choques e nas saias laterais, além de um discreto spoiler na tampa traseira. O que mais sequestra o olhar são as rodas de aro 18 e as quatro saídas de escape e, caso não fosse vermelho perolizado, este Audi chamaria tanta atenção quanto um A3 convencional o que eu, particularmente, considero uma vantagem.
Seu interior traz bastante do A3 paisano, e isso é bom, pois o painel é limpo e bem resolvido, o cluster é funcional e prático, e os encaixes são impecáveis. Entre as diferenças, podemos listar bancos em couro Nappa, pedaleiras em alumínio, fundo cinza nos instrumentos do cluster (com indicador de pressão do turbo junto ao conta-giros), volante com melhor pegada e borboletas maiores para a troca de marcha. Nenhuma extravagância como cintos vermelhos, cores exóticas ou frescuras, mostrando que a essência da esportividade reside no desempenho e não somente no visual.
Uma vez aconchegado no assento, um motorista de qualquer altura encontrará uma posição adequada para dirigir. Os comandos estão à mão e todos são intuitivos, demandando poucos minutos para que se entenda tanto ações simples como ligar os faróis quanto utilizar os inúmeros recursos da central Audi MMI com tela retrátil. O grande porém fica por conta da ausência de uma mísera porta USB, fazendo-se necessário um cabo adaptador para permitir a comunicação entre o celular/pen drive e a central multimídia.
A visibilidade do carro é boa, apesar da baixa altura e dos vidros pequenos, mas fazem falta sensores de estacionamento na dianteira e uma câmera de ré na traseira, uma vez que a inclinação do vidro traseiro restringe bastante a visão em manobras. O espaço interno é suficiente para quatro adultos, enquanto o porta-malas tem razoáveis 365 litros. Seu isolamento acústico é impecável, e a vida a bordo se torna ainda mais agradável com o sistema de som da Bang & Olufsen de 705 W.
O bem-estar na cabine combina com o modo de condução “Efficiency”, selecionado pela central multimídia ou por meio de um botão no painel. Nessa configuração, os amortecedores perdem um pouco de carga, o acelerador fica mais relapso, a direção mais leve e até mesmo o compressor do ar-condicionado tem seu funcionamento alterado. No trânsito urbano, o câmbio antecipa as trocas de marcha e o Start/Stop entra em atividade com mais frequência. Na estrada, a sexta marcha chega bem cedo, enquanto as retomadas ficam mais morosas e, a qualquer momento que se tira o pé do acelerador, a transmissão desacopla e deixa o S3 se mover por sua inércia. Tudo em nome da economia de combustível, nesse caso, 8 km/l na cidade e 12 km/l na estrada.
O Audi Drive Select não é novidade nem privilégio do S3, mas em poucos Audi esse modo deixa tão evidente a bipolaridade de um carro como ocorre neste modelo. Passar o seletor para o “Dynamic” é como se o carro se conectasse ao seu corpo e injetasse uma dose cavalar de adrenalina em suas veias. De imediato o timbre do escapamento assume o tom mais grave, a suspensão e a direção se tornam rígidas a ponto de se tornarem desconfortáveis na cidade e o câmbio passa a trocar marchas com uma velocidade brutal, evocando um estouro no escape a cada troca de marcha. Nessas condições, o acelerador está tão sensível, que basta uma leve pressão para colar suas costas no banco sem dó.
A dinâmica do carro é irrepreensível. Aponte o S3 para as curvas e ele irá contorná-las sem esforço, sem ruídos em excesso, sem shows de fumaça e sem contra-esterços do volante. Acelere na saída de uma curva de raio longo e sinta todo o trabalho da engenharia alemã em aproveitar o melhor das leis da física. Caso a velocidade esteja alta demais, os freios respondem com precisão invejável, com calibração irretocável do pedal e sem qualquer tendência ao fading. E não adianta forçar barra, o limite do carro está muito além do que pode ser atingido na estrada, tornando-o uma opção pra lá de segura em qualquer viagem.
Tal segurança também é reforçada pelo desempenho, uma vez que ultrapassagens são feitas com uma facilidade incrível, visto que o ajuste do carro é feito para privilegiar acelerações e retomadas ideais em qualquer situação do dia-a-dia. Eis a maravilha do downsizing: motores pequenos e turbinados com força suficiente para os momentos em que precisamos de força, além de carrocerias leves e ajustes mecânicos desenvolvidos para o máximo de eficiência. É isso que faz um S3 com seu 2.0 quatro cilindros acelerar mais do que banheiras chamativas com seus beberrões motores V8. Um Audi S3 Sedan dificilmente estrelaria um clipe de funk ou viraria tema de música sertaneja, e isso é um baita de um elogio.
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