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Entrevista com Evandro Fullin (Autor do livro do FNM)

Evandro Fullin é um dos autores do livro Caminhões FNM, lançamento da Editora Alaúde. Os caminhões da Fábrica Nacional de Motores (FNM) foram importantes no desenvolvimento econômico do país, já que transportaram, praticamente, toda a produção agrícola brasileira, na década de 1950.

Evandro Fullin é paulista, formado em Engenharia Mecânica Automobilística pela FEI e trabalha atualmente como consultor independente na área automotiva. Anteriormente, atuou na indústria de caminhões, tendo trabalhado em empresas como Cummins, Navistar International, e Ford Caminhões, durante vinte anos. Evandro também teve uma passagem na aviação, atuando como instrutor de voo e piloto comercial de avião, voando bimotores leves.

Começou a coleção de catálogos ainda moleque, em 1979, pedindo material de concessionária em concessionária e escrevendo para as montadoras. Mais tarde, a busca continuou em sebos, recolhendo preciosidades no lixo, trocando com outros colecionadores e recebendo doações de gentis amigos.

A FNM (Fábrica Nacional de Motores) foi pioneira ao inaugurar, em 1949, a primeira linha de montagem de caminhões genuinamente brasileiros. Antes disso, todos os caminhões que rodavam pelas ruas e estradas do país eram de marcas estrangeiras – a maioria vindas da Inglaterra.

Evandro Fullin é apaixonado por automóveis desde criança. Criou e editou a revista Automóveis Históricos e é coordenador da série Clássicos do Brasil (Editora Alaúde), dedicada a preservar a memória dos modelos de automóveis que marcaram a história do país.

1 – Como surgiu a ideia de escrever um livro do os Caminhões FNM?

Bem, a ideia faz parte de um amplo projeto de resgate histórico voltado aos caminhões brasileiros, iniciado há cinco anos. Conseguimos catalogar nada menos de 104 marcas de caminhões que já estiveram ou ainda estão presentes no cenário nacional. Muitas delas sequer são conhecidas do grande público, por somente estarem presentes nas primeiras décadas do século XX.

No entanto, para iniciar essa coleção – que esperamos ter as principais marcas nacionais -, escolhemos, o Rogério e eu -, o FNM, por ser o fabricante do primeiro caminhão efetivamente nacional e por ser a marca de maior representatividade nas estradas brasileiras, entre os anos 1950 e 1960. O FNM se tornou uma verdadeira lenda viva das estradas, sendo famoso por sua resistência e por sua tolerância aos abusos. Ainda hoje, há uma legião de fãs dos saudosos “FeNeMê”. 

2 – Os Caminhões FNM fizeram parte da sua vida? 

Nasci numa família de pessoas aficionadas por caminhões. Na minha infância, durante as viagens, invariavelmente meu pai parava o carro no acostamento, em plena ladeira, somente para ver os FNM passar, com seu ronco inconfundível. Aqueles momentos foram a centelha definitiva que despertou meu interesse pelo FNM e pelos caminhões como um todo. Era vibrante ver aqueles caminhões super carregados, vencendo as subidas, lentos, mas com galhardia inconfundível.

3 – Quais os modelos que você destacaria entre os Caminhões FNM? 

Apesar da importância histórica do FNM D-7300, por ser considerado o primeiro caminhão nacional, o modelo não teve o sucesso esperado. O modelo que, de fato, conquistou a preferência do mercado foi o FNM D-11000, lançado em 1958.

 4 – Qual a importância da Fábrica dos Caminhões FNM para o Brasil? 

A presença da fábrica foi determinante para a implantação do parque de autopeças e para o delineamento do Plano Nacional de Manufatura do governo, implantado efetivamente a partir de 1957, ou seja oito anos depois da fabricação do primeiro caminhão FNM, em Duque de Caxias, RJ.

5 – Conte bem resumidamente como foi a história da FNM no Brasil?

 A FNM não nasceu para ser uma fábrica de caminhões. Ao contrário, o plano era construir motores aeronáuticos para suprir os países aliados, durante a Segunda Guerra Mundial. Porém com o final da guerra, o propósito original deixou de fazer sentido. Depois de buscar inúmeras alternativas, a direção da FNM – que era estatal – firmou contrato com a italiana Isotta Franschini, adquirindo tecnologia para a fabricação do que viria a ser o primeiro caminhão nacional, o D-7300 de 1949.

O negócio mal havia começado quando a Isotta fechou suas portas. Com isso, a FNM teve de ir à caça de um novo parceiro, encontrado na Alfa Romeo, que permitiu a nacionalização do D-9500 e mais tarde do D-11000, o caminhão pesado mais vendido dos anos 1960. Nos anos 1970, depois de diversas mudanças no controle acionário da FNM, a empresa passou a se chamar Fiat Diesel e mais tarde Iveco, ocasiões que foram marcadas por uma grande renovação das linhas de produtos. O grande ícone – o D-11000 – foi produzido até 1972. 

6 – Como surgiu a sua paixão por automóveis e caminhões?

Minha família, desde meu bisavô paterno, sempre esteve envolvidos esse apaixonante mundo automotivo. O caminhão Chevrolet 6400 “Boca de Sapo” e o trator de esteiras Caterpillar D-2 usados na fazenda da família, na região de Campinas, foram meus primeiros contatos marcantes. Com três anos de idade, segundo relatos familiares, eu já sabia a marca de quase todos os carros da época: Simca, Aero-Willys, Fusca, Kombi, DKW… Mais tarde, em 1979, me tornei colecionador de catálogos, folhetos e livros sobre carros, caminhões, ônibus e máquinas de construção. Na hora de escolher a faculdade, não houve muita dúvida: engenharia mecânica automobilística. 

7 – Você tem algum carro de sua preferência? 

Todo mundo tem seus queridinhos. Eu não tenho um favorito absoluto, mas gosto de carros de diferentes épocas e de diferentes propósitos. Minha lista inclui: Ford Modelo A, Ford V8 1932, Citroën 2CV, Jeep CJ-3A, Porsche 911 (anos 1970), Fusca (todos) e Kombi (todas). Na área dos caminhões nacionais: FNM D-11000, Scania L111, Mercedes L-1113, o Ford F-4000 e o Fiat 190H. 

8 – Você tem carro antigo, se sim qual (ais)?

Em função desse envolvimento da família com os carros, iniciado por meu pai Emílio, acabamos acumulando um punhado de ferro (risos). Na nossa garagem você poderá encontrar Ford Modelo A Roadster 1931, picape International R-110 1954, Fusca 1960, Aero Willys 1967, Ford Jeep CJ-5 1971, Fuscão 1500 1972, Ford Landau 1980. Na ala dos diesel, temos um motor-home Mercedes LO-608D 1977 e um Ford Cargo 1215 1999, com apenas 75 mil km rodados. E olha que não é fácil manter todos eles funcionando!

 9 – De uma dica para quem quer começar a colecionar veículos antigos ? 

O ideal é fazer o contrário do que fizemos. Ou seja, se concentrar em apenas um carro de início, aprendendo sobre ele, participando de blogs e clubes. Se quiser expandir a frota, o ideal é manter a mesma marca para facilitar sua vida. Outra dica é: “carro que não anda, desanda”. Tem de andar. Se organize, mas tente rodar pelo menos uma vez por semana. Compre um carregador e mantenha sua bateria carregada sempre. Ela vai durar muito mais. Troque o óleo e o fluido de freio pelo menos uma vez por ano. Para finalizar, procure comprar bem.

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